Sobre política

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Cá entre nós, ninguém vai dizer que não há erros éticos gravíssimos no governo federal. Sim, existem.

Mas o que me irrita é a posição hipócrita da oposição. Claro que estes têm que denunciar. Mas quantos ministros foram fritados no período de FHC por causa de denúncias de corrupção?

E, sinceramente, política econômica por político econômica, a se avaliar pelos resultados (esquecendo-se das denúncias de corrupção), até agora os do Lula foram BEM melhores do que os apresentados pelos governos anteriores. Taxa de juros, câmbio, inflação, risco-país, mortalidade infantil, distribuição de renda, etc. (sim, os índices sociais foram marginalmente melhores,mas pífios, e os outros só servem para banqueiros, mas, ainda assim, foram melhores.). A escolha do próximo presidente, portanto, numa análise fria, parece apontar para o Lula, por incrível que isso pareça.

Sim, sei que os deputados do PT criticavam isso tudo, e denunciavam de forma feroz a falta de ética e decência de outrora. Mas tem-se a impressão agora que basta estar no poder para virar corrupto. Se isso for uma verdade absoluta, não é uma bela de uma hipocrisia esse denuncismo todo? Agora, se é possível estar no governo sem se corromper, então tudo bem, denunciem até se fartar – como já disseram antes, ou divide-se o bolo, ou locupletemo-nos todos. Bolas…

Sinceramente? As contradições da política e do nosso sistema impedem mudança de paradigma. E qual é o paradigma atual? Um sistema que funciona assim: um político tem que jogar sempre para a platéia. E, jogando para a platéia, a conduta é a seguinte:

1 – Oposição: denuncia tudo e todos, e o jogo é o do quanto pior, melhor, afinal, a intenção não é que o país avance, mas que a oposição volte a ser situação.

2 – Governo: exagera tudo o que faz, para ficar bonito na foto. Suas ações são orientadas não a serem eficientes, mas sim para que pareçam grandiosas. O discurso é dizer que os anteriores não fizeram o que eles agora fazem.

Ou seja: trata-se de um jogo no qual o que menos interessa é a técnica administrativa, a ética, a melhoria da vida das pessoas. O que interessa é a manutenção do poder.

E por que é assim? Primeiro, porque o nosso sistema estimula isso. Ora, se você tem um sistema de propaganda gratuita que privilegia o status quo, já que os partidos com maioria no Congresso são os que detém maior tempo na TV, está claro que o que se quer é manter o que está aí. E qual a função da propaganda? Convencer alguém que um produto é melhor que o outro. Não é uma técnica de avaliação, é uma técnica de convencimento. Convence mais quem tem a melhor técnica.

E não adianta dizer que a culpa exclusiva é de nossa baixa escolaridade. Quando se trata de política, há sempre uma cortina de fumaça que não nos permite ver os interesses ocultos de cada grupo. Claro, administração é sempre complexa, não? Você entende de economia? Não. Nem eu.

Outra coisa: é verdade a velha idéia que precisaremos de anos para nos livrar do atraso, e que as mudanças são realmente difíceis? Se isso é verdade, então me desculpe, mas aí poderão dizer tudo de Lula, menos que não fez o que deveria fazer. Agora, se a mudança é possível de uma hora pra outra, queria que me mostrassem quem pode fazer isso. O Geraldo Alckmin? Ora, façam-me o favor… Se escolhemos Lula porque não gostávamos do FHC, vamos ter de volta alguém da mesma linha? Por que? Por que parece haver corrupção no atual governo? Tá, e no outro não havia?

Ou seja: que critério objetivo temos para medir qual o melhor candidato, já que a conclusão é de que a corrupção é onipresente e a probabilidade de mudança brusca segura não parece existir?

Vou ser sincero: desisti de entender política, porque descobri que administrar é complicadíssimo, e fazer mudanças é mais complicado ainda. É duro, mas talvez escolher o menos pior seja, por puro pragmatismo, a escolha acertada. E me parece que o PT no governo, exposto a tanta denúncia, há de se depurar mais. As instituições estão mais vigilantes. E parece que o PT não era assim tão eficiente como oposição, já que a atual conseguiu realmente colocar o governo contra a parede de forma que o PT nunca conseguiu, e olha que, por mais que os fatos estejam bem à mostra, queria só que alguém me convencesse que os anteriores eram melhores no trato da coisa pública.

Enfim: a não ser que apareça alguém com projeto decente para o país, de preferência uma mulher, inteligente, honesta, versada em administração pública, com equipe realmente preparada para implementar um programa de governo consistente e sério, bonita e gostosa*, parece que a decisão de votar gostando do candidato vai ficar pra depois. Bem depois. E não, não acredito em Papai Noel. Acredito em outra coisa: numa revolução socialista. Mas tenho a impressão que iria michar tudo assim que passasse um jogo do Flamengo na TV…

Enfim, somos o reflexo de nós mesmos. Cuspimos nas ruas. Sujamos os banheiros públicos. Sempre buscamos vantagem em tudo. Me recuso a me tornar hipócrita e dizer que sou melhor do que os nossos governantes. Eles não são nem melhores nem piores do que nós mesmos – são só nosso espelho.

* Sim, a presidente tem que ser bonita, gostosa e, de preferência, ser prostituta também. Algo tipo a Geni. Talvez assim a troca de um apoio no congresso seja negociado por sexo, no caso, com a própria presidente. Não é melhor do que comprar apoio por cargo, o que acontece SEMPRE desde que Pero Vaz de Caminha mandou a tal carta dizendo que isso aqui prestava e Portugal acreditou? 😀

Autor: francis

the guy who writes here... :D

2 Comments

  1. só uma coisinha… ninguém votou no lula pq não gostava do fhc. votaram no lula pq nao gostaram do josé serra. fhc foi eleito 2x, derrotando lula 2x. se deixassem, continuaria derrotando até morrer.

  2. Dadau,

    Será? Pode até ser que, à época, isso tenha sido verdade. Hoje, entretanto, as pesquisas apontavam que Serra teria tido mais chance que Alckmin, e que FHC não seria eleito nem como síndico do inferno…

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