Call Center no banho

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Tem coisas que eu imagino que só aconteçam comigo. Mas como a estupidez humana não tem limites, deve acontecer com mais alguém.

Hoje está sendo um sábado tranquilo, e aproveitei para fazer coisinhas que sempre deixamos para depois. Resolvi fazer alguns ajustes no computador, fazer uma planilha dos meus gastos, enfim, essas coisinhas que sempre deixamos para depois.

E então, quando já estava para sair para almoçar, quis aproveitar para fazer algo inofensivo: ligar para uma, apenas uma administradora de cartão de crédito, a fim de atualizar meu endereço. Explico: esses cretinos têm bancos de dados dos CEP’s, e só cadastram endereços que tenham CEP. Como minha rua não tinha CEP, eu não conseguia cadastrar meu endereço. Isso me deixou sem opção, então tinha que receber minhas faturas na casa de minha tia. O problema ocorre com revistas, contas, etc.

Mas os Correios finalmente me deram um CEP…

Para evitar stress (lembre-se, leitor amigo, hoje é sábado), resolvi ligar apenas para uma administradora. E a escolhida foi… Santander!

Ligo, e começo a conversar com a atendente. Ah, claro, isso depois de ligar 2 vezes, porque na primeira vez não encontrei a opção. Claro, o sistema deles é pra gente inteligente, não para mim.

Explico a situação. Ela me pede o CEP do novo endereço. Forneço.

– Senhor, infelizmente esse CEP está incorreto.

Eu explico que o CEP está correto, estou vendo ele na minha frente, no site dos Correios.

– Senhor, o CEP está incorreto, não consta no meu sistema.

Explico, sem perder a tão bem guardada paciência, que o “erro” era no sistema dela, não no CEP.

Ela, então, diz, impávida:

– Senhor, como o seu CEP está incorreto, e não é reconhecido pelo meu sistema, eu não posso fazer a mudança.

Ainda paciente (é sábado, caralho!), explico, bem devagar, bem calmo, bem zen, quase saindo da minha irrenunciável condição de homem macho e agreste, que o erro é do sistema dela, não meu, e que se o sistema dela tem um problema, não sou eu que tenho que resolver, mas sim ela, e que se ela poderia abrir uma reclamação.

– Senhor, o sistema não reconhece o seu CEP, não posso alterá-lo.

Confesso que vi descer sobre mim uma luz, uma energia, uma paz, sei lá, caralho, uma frescura qualquer, e pensei, em um átimo de segundo, porra, é sábado, a vida continua, pra que xingar alguém, controle-se, homem, você consegue, é sábado, daqui a pouco você vai comer alguma coisa bacana, vai relaxar, a vida continua, etc. Então, após rápida meditação, peço a ela que, por favor, entenda que eu não posso fazer nada, se no site dos Correios meu CEP está constando corretamente, e que ela, se possível, tenha dó de mim e abra a reclamação.

E então veio aquela frase, aquela que diz a você que a vida não vale a pena, que as pessoas não mudam, que o mundo é uma porcaria, etc.:

– Senhor, aguarde um momento…

Eu pensei: ahá, eu sabia… eu já contava com esse percalço. Mas nada de stress, que a vida pode, sim valer a pena, nem que seja para tomar uma xícara de café entre uma aporrinhação e outra, mas que merda, vamos pra frente, vamos aguardar o tal momento da mulher, que é isso mesmo…

E o momento passava…

Coloquei o telefone no modo viva voz, e o amigo do almoço já ligava preocupado porque eu me atrasava, então resolvi adiantar… E tive a feliz idéia: Vou tomar um banho enquanto a meiga (prometi não xingá-la, caralho) atendente me deixava na linha.

Agora, caro leitor, você me pergunta: é isso mesmo? Você resolveu TOMAR BANHO enquanto esperava a atendente do Santander?

Sim, foi isso mesmo. Fiz tudo com muito cuidado. Levei o telefone ao banheiro, liguei o chuveiro, e, de lá mesmo, podia ouvir a musiquinha de espera. Tomava o banho, vi que aquilo iria demorar, e ensaboei. Desliguei o chuveiro enquanto me ensaboava, quando, de repente…

– Senhor????

Merda, corri para falar com ela, só pra ouvir:

– Seu CEP é XXXXX-XXX?

Sim, senhora…

– Por favor, aguarde mais um pouco…

Eu, todo ensaboado, metade do banheiro molhado, volto para o chuveiro… E não consigo mais abrí-lo, porque a mão, cheia de sabonete, escorregava no “abridor” do chuveiro. Bosta, deixa eu pegar uma toalha e…

– Senhor????

Sim, querida, o que foi? O CEP continua sem ser encontrado? Não me diga… Mas não foi uma reclamação que eu pedi pra você abrir?

– Ah, tá… só mais um momento…

Eu brigo com a torneira, e consigo, depois de sujar a toalha com o sabão, abrir a água, esquecendo-me que me encontrava com o telefone na mão, que, por milagre, salvou-se, ainda que ensopado…

Estou tirando o sabão quando veio a voz:

– Senhor, infelizmente não podemos fazer nada, o sistema do Banco ainda não tem o seu CEP, há outro endereço que o senhor poderia fornecer, o CEP da cidade, ou algo assim?

Eu poderia ter desligado o telefone, mas, quanto mais complicado melhor:

Tenta, querida, o 45000-000, ou 45000-001, ao que saiba, são CEP’s de Conquista.

– Senhor, o sistema não reconhece esses CEP’s…

E a água caindo…

– Há outro endereço?

E eu, tentado a simplesmente desligar, deixo-me humilhar:

Querida, daqui a um mês eu ligo novamente, ok? Mantenha o endereço atual…

– Algo mais, senhor?

Não, querida…

– Tenha um ótimo final de semana…

Eu agradeço, já perto da explosão por ter perdido 20 minutos de minha vida, ter molhado o banheiro todo, o telefone, e, pior de tudo, ter feito esse papel ridículo.

Bosta.

Autor: francis

the guy who writes here... :D

2 Comments

  1. Ah, veja o lado bom. Fez uma amiga sua, eu, sorrir. Tá, gargalhar.
    Agora me tira uma dúvida.
    Como pode sua rua não ter CEP por tanto tempo?
    É algum acampamento sem-terra?
    Ou área de invasão?
    Um sítio escondido no meio do mato?
    Tem água, luz, telefone, internet? Se tiver algum desses, a conta tem que chegar todo mês aí, certo? Afinal, Conquista não é lá nenhum vilarejo perdido na selva, certo?

  2. Bia, Bia, Bia… isso aqui é Bahia…

    Nessa mesma época, no ano passado, mandei e-mail aos correios, perguntando sobre isso – por que raios não tinha CEP aqui? Eu me mudei pra cá faz 1 ano e meio, portanto já encontrei isso assim.

    Foram 30 minutos de conversa com a moça dos Correios. Explicaram que a equipe é pequena, e estavam remapeando Feira de Santana. Conquista viria depois. E veio, um ano depois…

    De revista a café, já tive brigas homéricas com povo de call center porque o sistema não mandava pra sem-CEP.

    Uma hora dessas eu sumo e aí quero ver eles me acharem pra mandar as faturas.

    Aposto que não vão nem fazer questão do CEP… 🙂

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