A política: realidade e fantasia

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Hoje, lendo a coluna de Élio Gaspari na Folha, tive vontade de escrever sobre algo que refleti ontem ao conversar com um amigo: o que importa em um candidato?

É que já ouvi dizer que a Dilma é uma pessoa de difícil trato. Também já ouvi isso do Serra. Já ouvi dizer, ainda, que o Ciro Gomes tem pavio curto.

Enfim, estereótipos não faltam quando se trata de candidato exposto na mídia à opinião pública.

Mas não parece estranho que nós, anônimos, tenhamos nossa competência reconhecida ou rejeitada em razão da qualidade do nosso trabalho, e, mesmo assim, especulamos não sobre a capacidade de trabalho dos candidatos, mas sim sobre suas características mundanas?

Pergunto: Dilma ou Serra sabem mexer no Excel? Pensam com a própria cabeça, ou precisam de algum nerdzinho a dar opinião? Não, não me interessa se ela se veste bem, ou se ele escolhe bem o terno. Eu não me visto lá muito bem (quem se importa?), e isso, pra mim, não é uma característica importante do Presidente da República Federativa do Brasil.

Quero que o futuro Chefe de Estado diga quais são suas prioridades, quais seus recursos, e que dê opiniões claras sobre política externa, transportes, saúde, etc. É a favor ou contra o aborto? Acha que dissidentes cubanos devem morrer? E o salário mínimo, vai aumentar pra quanto? E os incentivos à pesquisa? O Brasil vai continuar a ter uma indústria subsidiada por altos impostos de importação, ou vai investir em ciência e tecnologia?

Somos tão alienados do debate, a administração pública é tão complexa e a há tanta cortina de fumaça com a burocracia e com a ideologia, que votamos no candidato não por suas características como administrador, mas sim por sua afabilidade (somos o tal povo cordato, não?), por seu português impecável (notória exceção do nosso atual presidente, que foge a qualquer explicação que o rotule: é um sucesso que contraria todas as expectativas – nordestino, baixa formação escolar, etc., e foi dos governos mais eficazes, que devolveu a auto estima ao país), por sua vestimenta…

Como se fôssemos o tempo todo um poço de educação, mestres de oratória e super elegantes. Como se candidatos fossem pessoas que, basicamente, não arrotam, não assoam o nariz, tão tiram melequinha do nariz (e paro por aqui com a escatologia).

Élio Gaspari, referendo-se a Serra, disse que esse precisa mostrar uma “plataforma real, livre de marquetagens”. Mas será que quando essa plataforma real for mostrada, saberemos vê-la? Ou daremos crédito?

Autor: francis

the guy who writes here... :D

4 Comments

  1. Há um tempo passeio pelo blog e confesso que gosto bastante da sua produção e particularmente do estilo, da forma como você escreve… E hoje me senti interpelada por este post. Fico pensando se o povo brasileiro não estaria buscando figuras políticas que encarnem as figuras parentais… Parece-me que de um modo ou de outro, sabemos disso. E quem coordena campanhas eleitorais também. Arrisco-me a pensar que nosso atual presidente soube encarnar essa figura paterna, principalmente na última campanha, ocasião em que se apresentou como pai dos “menos favorecidos” e não como pai dos intelectuais (o que foi feito por outro candidato). Na época me lembro de perceber um “pai” de cabelos grisalhos e mais maduro… não mais um operário, mas um pai de terno e gravata, vitorioso… e bastante acolhedor! Freud chegou a dizer que o governante tem poder a partir da atribuição ilusória de seus partidários. Por isso achei tão interessante o título do post: Política: realidade ou fantasia? Observo as campanhas eleitorais e fico cá com meus botões torcendo para que as coisas tomem outro rumo (não me refiro aqui à atual presidência, nem a nenhum candidato em especial, rs). Será que agora seremos perpassados pela ideia de que uma boa mãe não poderia ser de “difícil trato”? E em relação às críticas tecidas acerca das características mundanas dos nossos representantes, me recordo de um texto do evangelho de Lucas que diz “Hipócrita: tira primeiro a trave do teu olho e depois enxergarás para tirar o argueiro do olho de teu irmão” .
    Fico agora com essa cortina de fumaça.

  2. Querida Sabrina,

    Nossa, após um comentário desses, dá até vergonha de ter escrito o post, tamanha a lucidez do que você escreveu. Obrigado, mesmo, pela visita e pelo comentário.

    E, já que estamos no assunto, o ruim de tudo é que, como campanhas políticas são feitas pelos mesmos publicitários que nos vendem coca-cola, a abordagem acaba sendo a mesma: os candidatos são reduzidos a produtos à venda, e, portanto, a estratégia não é a de informar, mas sim a de, usando da linguagem da lei eleitoral da ditadura, “criar estados de espírito” que favoreçam a “compra” (voto). Por isso, além da hipocrisia tão bem lembrada por você, há, ainda, o vácuo de idéias, porque as técnicas não são de informação, mas sim de venda.

  3. Em tempo: você é a Sabrina, que trabalha com o Eduardo? Puxa, quanta honra… 🙂

  4. Oi… Sou eu mesma, rs!

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