O título acima quer dizer “Anjos na chuva”, em norueguês. Há uma canção norueguesa chamada Engler i snoen (anjos na neve), e esse deveria ser o título do post, mas, convenhamos, neve e Bahia não combinam, ainda que Vitória da Conquista não dê bola pro fato e registre 8 graus no inverno… Mais pra frente explico o porquê do título.
Estamos combinados: eu assumo ser ciclotímico. Tenho lá meus altos e baixos. O dia de hoje, faz 1 hora apenas, estaria destinado à lata de lixo dos dias da minha vida – seria um daqueles dias que entraria pra história como… aliás, não entraria pra história coisa nenhuma, deveria era ser excluído dela. O dia em que eu não teria feito absolutamente nada, quando o que mais queria fazer seria… qualquer coisa que não fosse esperar o dia passar.
Aí é que entra a Bia Amorim.
A Bia (Fabiana, creio que as Fabianas do mundo devem sentir que as Beatriz usurparam o “Bia” que lhes pertencia… :D) era amiguinha de infância, daquelas em quem a gente dá cascudo (tá, vamos lá, por amor da verdade: no caso da Bia, quem levava cascudo era eu – é assim que lembro da história) e que, de repente, somem sem deixar rastro. No futuro, nos vimos rapidamente no 2º grau (sem cascudos dessa vez), e, novamente, mais de uma década sem notícias um do outro. A internet, vocês sabem, nos prega dessas peças, e achamo-nos por aí, deve fazer o que, um ou dois anos? Mas eis que a Bia, em suas andanças, foi ao México alguns meses atrás. Ela sabia que eu amo a culinária daquele país e, num gesto pra lá de carinhoso (convenhamos, todo mundo que arruma bagagem ao voltar do exterior sabe que é difícil colocar uma agulha na mala) trouxe pra mim uma latinha de Chile Chipote e outra de jalapeño. E ontem, finalmente, depois de mais uma década, pousei meus olhos glaucomatosos na Bia, e foi um dia fantástico.
Voltemos ao sábado fétido. Eu ia dormir às 9 da noite, absolutamente com vontade de que esse dia terminasse logo, que amanhã tenho coisas pra fazer. E, apesar da insatisfação de deixar um dia acabar com vontade de que fosse o último deles, pelo menos o regime estaria resguardado, já que em casa não tinha absolutamente nada para comer, exceto duas fatias de queijo. Mas eu não conseguia dormir, e a fome aumentava. A chuva, maravilhosa, caia (e ainda cai enquanto escrevo), e nem um livro ou um filme tinha pra passar o tempo. Vencido pela fome, levantei os olhos e vi as latinhas mexicanas. Levantei, fiz tortillas em tempo recorde, e, com o queijo, fiz quesadillas fantásticas com o chile chipote. O fato de ter me levantado para fazê-los, o fato de experimentar o novo sabor, ou talvez tenha sido a saída da letargia, não sei, fez que o dia terminasse com outro sabor, um sabor de alegria, de paz, como se tudo se encaixasse e como se, enquanto houver farinha de trigo, água, queijo e pimenta, além de uma pitada de chuva, nenhum dia deixará de ser especial.
Daí que acho que algumas pessoas, mesmo sem saber (embora a Bia vai saber, a internet é fofoqueira), com um ato singular, motivado somente por um coração aberto e desprendido, salvam o dia, roubam a cena, salvam o espetáculo.
Vá pra BH, Bia, mas não esqueça o Dramim… 😉
P.S. – Ah, e não deixem a Bia ou ninguém convencer vocês: Chiles chipote ardem como qualquer condimento mexicano. Foi preciso quase 1 litro de Pepsi gelada pra me fazer encarar a segunda quesadilla, com 1/3 da dose de chile… 😀
02/03/2008 em 08:20
Pois é Mane! Deliciosa sua crônica, só que me deixou uma dúvida. Você é gourmet ou glutão?
Abraços,
João
02/03/2008 em 10:00
hahahah
Ambos, meu caro, ambos… 😀
04/03/2008 em 14:14
Adorei o post! Não lembro de cascudos… (onde? quando? em quem?), esse é um tema para sentar num café, heim? Pena eu não ter provado essa tortilla conquistense, pena mesmo. Espero que vc possa provar tacos no cenário que vc merece: num puesto típico, numa rua do DF, ou de outra paisagem mexicana. Adorei a tarde também, foi pena ter te visto só um dia, temos assuntos para uma década inteira! Beijo no seu coração,
Bia.