Sempre detestei Micaretas. Não gosto de beijos temporários. Quero beijos diários, com direito a um abraço apertado, do tipo “fica aqui…”. Não quero culpa no dia seguinte, não quero lembranças do que poderia ter sido. Quero mais do que uma emoção passageira – quero uma vida emocionante. Tá, eu sou ranheta, mas, por favor, não vejam isso como um discurso moralista. Detesto tal moral e os tais bons costumes. Mas confesso que, por alguma razão ou patologia, me seduzo pela rotina, pela convivência, pelo sofá e pelos filmes da TV. Mas, enfim, não era disso que eu queria falar.
Fico espantado com o ranço provinciano e, ao mesmo tempo, individualista dessa Vitória da Conquista. PQP. Antigamente, mais de 10 blocos desfilavam nessa cidade, trazendo cada um sua contribuição para a festa. Depois, saíram todos. Por que? O lucro era pouco? Lucram mais fazendo outra coisa? Mas será que a cidade não merece um pouco mais de consideração? Custa lucrarem um pouco menos e presentearem a cidade, colocando-a no calendário nacional das boas festas? Será que o Poder Público terá que fazer tudo sozinho?
Fico bobo como as pessoas são incapazes de pensar na coletividade. Quando eu vejo um empresário que construiu, praticamente sozinho, um Shopping Center, não tanto pela rentabilidade, mas como sua contribuição ao desenvolvimento da cidade, e quando eu vejo gente tão interessada só no dinheiro, mas sem interesse em contribuir para o sucesso e visibilidade da cidade, sinto vergonha de aqui viver.
Mas, enfim, acabou a micareta. E que seja a última. Uma cidade com gente tão egoísta não merece se divertir.
Tá, sei que os tais empresários apenas privatizariam a micareta. Mas sempre sobrava espaço pros pipocas, do que me lembro muito bem. A festa era enriquecida. Hoje, a coisa murchou a tal ponto que se tornou confinada a um parque, devido à obstinação do Poder Público de tentar manter vivo algo que morreu por culpa da própria cidade, pelo egoísmo, pela ganância e pela falta de espírito coletivo. Aliás, pra que mesmo tínhamos micareta? Para trazer as grandes atrações que não poderiam vir no carnaval. Agora, trazer uma, duas atrações fora de época – será que compensa?