Resolvi cortar o cabelo. O antigo cortador mudou. Vou procurar uma outra, que é bem conhecida na cidade. Chego lá, a senhora, cujo sobrenome é o mesmo que o meu, uma simpatia só, me pergunta como quero o corte.
Foi aí que falei a maior besteira já pronunciada por lábios humanos ao dizer como quer seu cabelo:
“Surpreenda-me”.
De fato, fiquei surpreso. Reclamei que as pontas, ao crescer, bagunçam. Ela, então, disse: “Por que não fazes uma texturização?”. Eu, que gosto que meus clientes confiem em mim, e, já que estava na mão dela, disse: “manda ver o que você achar melhor”.
Senhores, começou a tortura. Um composto que cheirava a ovo podre foi aplicado no meu cabelo (ela cortou antes, e o corte tinha ficado ótimo), causando um certo ardor na cabeleira. Depois de doses e mais doses de shampoo aplicados ao final do processo, veio-me a surpresa: estava com um corte de cabelo parecendo com o personagem de Gary Oldman no “Quinto Elemento”:
Disse pra senhorita responsável pela parte química: não é melhor secar o cabelo? Ao que ela, relutante, começou a fazer. Eu, desesperado, esperando que o cabelo inflasse (estava com milímetros de espessura), esperando, esperando, e nada. Até que a senhorita disse: “é, melhorou mesmo com a secada”.
Cheguei em casa apavorado – o que fizeram comigo? E molhava, e secava, mas parecia que o cabelo tinha vida própria – voltava sempre para como sua nova dona tinha deixado!
Felizmente, após três dias, parece que recobrei o controle do bicho. Basta bagunçar que ele não volta ao corte fatídico.
Pois bem: fui a um show hoje. Quem senta do meu lado? A responsável pela obra… Saio à francesa, antes que ela visse que eu destrui a obra de arte dela… Eu sou assim, detesto ferir suscetibilidades (ou isso, ou sou muito presunçoso em achar que ela iria se importar).
Detalhe, para que fique claro: a criatura é, de fato, excelente friseur. Eu é que sou tapado… Da próxima vez, ao invés de arte moderna, vou de barroco…
Acabei não ficando pro show. Vi muita gente, e lembrei de outras tantas com quem queria estar. Vi o baleiro da minha infância, que, em qualquer evento (shows, jogos de futebol), estava presente com seu tabuleiro cheio de doces e outros tais. Acho que o tabuleiro é o mesmo, e doeu ver aquele senhor, já de cabelos brancos, andar com dificuldade a carregar aquilo. Como doeu lembrar de amores distantes, já desfocados, enferrujados e sem brilho, mas que não deixam de ser amores. Como foi triste sair e perceber que o mundo é tão diferente, que não tenho mais o tio para me pagar um hamburguer numa noite fria, ou os amigos de outrora para andar pela cidade à caça de uma aventura qualquer. A única coisa segura foi senhor dos crepes suíços e churros, mas nem isso me salvou, diet-chato que sou. Isso, e um sms que não veio, e outro que veio. Não sei se fico triste pelo que veio ou pelo que não veio, ou se devo ficar alegre pelas mesmas razões. Jeg bare vet at jeg vet ingenting.
Enfim, taco marcado para sábado que vem, único bom fruto do tal show.
11/05/2008 em 17:58
Não. Feliz (ou infelizmente, depende.) não tive coragem para tal.
E pra constar, eu também estive nesse mesmo show. Com a cara pintada e tudo. =)
11/05/2008 em 18:22
ahahahah
Você comentou aqui no blog, perguntando se eu tinha gemido, certo?
Eu disse que não, que não tive coragem.
E acrescentei que estive nesse mesmo show. Café com blues, no centro de cultura. Acertei?
Bom, uso mac sim. E sou bastante doente por ele! hahaha
Tô aqui ouvindo teu podcast, e rindo pra caramba.
Você mora no Alto Maron? Que legal. Moro no flamengo =)