Nunca falei da minha mãe por aqui, exceto nessa situação.
E, de fato, há tanto a dizer… Nossa relação nunca foi muito convencional. Parecemos irmãos, sempre a discutir, a brigar um com o outro, mas sempre sabendo que, na vida, somos tudo o que o outro tem.
E a minha mãe, de fato, sempre fez de mim a razão de sua vida. Sem alguém que a auxiliasse, exceto meus avós, tios, etc., foi ela que me levava, de ônibus, a Salvador ou a Belo Horizonte, a fim de realizar cirurgias que hoje me trazem a visão. Foi ela quem, a custa de sacrifício, satisfez minhas vontades enquanto criança. E enquanto adulto também. Ela que, geniosa, me perturba, mas que cuja devoção em fazer tudo por mim nem sempre é percebida.
Às vezes sinto-me culpado por parecer ter uma vida mais confortável que a da minha mãe. Ela optou por deixar cedo o trabalho fora de casa. Pensando assim, talvez seja uma questão de escolha isso. Mas não questiono as escolhas dela, ela que nem sempre teve escolha quando se viu com um filho pra criar aos 20 anos de idade.
E, quando a vejo agradecer por ter eu ajudado (i.e., cumprido minha obrigação), é que me sinto o quão quase sempre é injusta a relação entre pais e filhos, até o dia em que, de fato, tenhamos esses últimos. Um amigo disse-me uma vez que o único amor incondicional que poderia sentir seria para com sua filha. E acho que é esse amor que minha mãe sente por mim. Mas, atrevo-me a dizer, é recíproco.