Chego em Salvador, e vou tomar café na padaria. Peço pelo espresso, e sinto-me aliviado quando sou informado a respeito da máquina, que encontra-se quebrada. Peço, então, café normal. Espero 40 minutos. Vem o café normal, porém com leite. Estou de férias, pensei, não vou reclamar, e, além disso, pareceu-me bem tomar café com leite, que, a rigor, sempre parece ser uma opção mais saudável (sou só eu, ou todo mundo pensa assim, ainda que sem lá muita razão?).
E o café com leite tinha aquele gosto… Aquele gosto que me lembrou dos cafés-com-leite da infância, acompanhados por pão com manteiga, cujo gosto veio instantaneamente, aquele pão simples, besuntado com muita manteiga, apelidado por meu primo por “pãozinho gostoso”. Era servido no horário dos desenhos animados, anteriores à novela da seis, que também assistíamos.
Éramos três primos a morar juntos, sendo que eu, dos três, era o menor, e por isso adulado, mas, também, “sacaneado”, o que acho muito divertido hoje. Lembrei recentemente com o primo maior como ele me fazia parar de reclamar de alguma coisa, seja do caminho de casa, seja de algum choro, ameaçando que me entregaria ao “menino do cocô”. Os sonhos desse primo eram, assim, meus também: não que eu aspirasse a ser um novo John Travolta, ou a ser um membro do Chiclete Com Banana, mas queria muito que meu primo o fosse, enquanto ele brincava com os seus Playmobil. Todos nós vigiados por um avô severo, já que a disciplina militar e o desafio de criar 13 filhos não podia admitir muitos gostos e vontades, muito embora tenho que reconhecer o quanto de amor me foi passado por ele.
Por fim, todas essas memórias foram interrompidos por um sujeito que resolveu puxar conversa sobre o Bahia ir para a 3ª divisão (hein?) e pelo café, agora puro, que chegou, dando fim ao meu inesperado, porém bemvindo, flashback.