Ontem, andando no centro de Oslo, encontrei uma daquelas bandas de música latinoamericana que se encontram nas grandes e médias cidades brasileiras. Normalmente são da região dos Andes, e tocam música tradicional, com instrumentos e vestimentas típicas. Geralmente, com traços indígenas.
A música era fantástica, e me aproximei para escutar um pouco. Achei interessante quando duas garotas norueguesas se aproximaram para perguntar pelo CD, e falaram em espanhol com o um dos integrantes do grupo. É incrível como quase todos os noruegueses que conheço têm alguma ligação com a América Latina, seja porque lá já estiveram, ou porque gostam do lugar. Infelizmente, a cobertura da América Latina nos jornais é quase inexistente…
Mas, voltando: uma das moças, a que falava em espanhol, respondeu que gostava muito do Equador, país de origem dos músicos que ali tocavam. Então esse integrante perguntou se a amiga dela seria sua irmã. A moça respondeu: “No, es mi novia!”. O músico sorriu um pouco, e disse: “Não, sério, ela é o que sua?”. E a moça, sorrindo: “É minha namorada!!”. O moço, então, ainda sem acreditar: “Vocês aqui são muito engraçados”, no sentido de que ainda pensava que era uma piada…
Essa situação me deixou um tanto pensativo: quantos Brasis existem no nosso país? Quantas mortes em nome da honra ainda se admitem? Quantas agressões às minorias?
Por outro lado, ainda me dá medo ao se banalizar alguns valores – e me refiro especificamente ao caso da piada(?) do tal Rafinha Bastos a respeito da Wanessa Camargo. Muita gente da imprensa defendeu o humorista, invocando a liberdade de expressão, e de que o contexto era de humor.
Vamos então esquecer, por um segundo, que unanimemente se considerou que aquilo foi de péssimo gosto, e que, assim, no meu entendimento, deixaria de ser humor, mas sim tentativa de fazer humor às custas de um ato grosseiro.
Será a liberdade de expressão absoluta? Eu sei que a charge, o deboche, a caricatura, todas são formas de liberdade de expressão às custas do ridículo alheio. Mas será que não há uma dignidade violada quando alguém vai a público dizer que “comeria” uma mulher grávida e seu filho ainda por nascer? Colocando-se no lugar da cantora – será que seria agradável ver uma piada(? – insisto na interrogação, pois se aquilo era pra ser piada, o autor agiu com imperícia, o que traz sobre si ao menos a culpabilidade) desse tipo, ainda mais referente a um filho?
Sou só eu que consigo ver diferença entre a gozação com o alheio de uma ofensa moral? Será que os jornalistas que defendem o cidadão não conseguem fazer nenhuma distinção entre ofensa à honra e manifestação artística indevida?
Enfim, acho que o que nos falta hoje em dia, talvez, seja não só boa educação para enxergarmos as nuances da vida moderna, com todas as suas sensibilidades, mas também caráter para não abusarmos dos nossos direitos que a duras penas foram conquistados, usando justamente dessa desculpa para deles abusar.
P.S. – Nunca sei como consigo começar com um tema e saltar para outro assim, na maior cara de pau… 🙂