Eu escrevi aqui há algum tempo atrás sobre o “Direito de Esquecer”. E, por essas coisas da vida, acabei tendo um trabalho da faculdade a respeito do assunto, já que a legislação européia está incorporando tal direito, dando a oportunidade a quem tiver seus dados pessoais transitando pela internet requerer que tais dados sejam apagados.
Claro, a norma tem exceções, e não vou entrar aqui nelas, nem em uma análise do assunto (já o fiz para a faculdade). Mas tem algo meio filosófico nisso tudo: se a busca da humanidade é eternizar-se através dos nossos atos (já que não temos corpos nem vida eterna), para que mesmo queremos um direito de ser esquecidos?
O autor do livro mais comentado sobre o assunto argumenta que os seres humanos são programados de fábrica para esquecerem, e que a internet se tornou uma máquina que não deixa nada escapar. O problema nessa análise, penso eu, é que a humanidade sempre lutou para lembrar. A história é feita de lembrança. Esse controle seletivo do que esquecer me deixa preocupado, como se fôssemos donos da história – da nossa ou da dos outros.
Digo para os meus colegas de mestrado que, se ontem o espaço de convivência social era a praça, hoje é o Facebook, é o Twitter. E se tivermos um direito de apagar isso seja por capricho ou por conveniência, poderemos estar deletando parte de nossa história. Na verdade, eu senti isso um pouco na pele. Apaguei minha conta no Orkut, alguns anos atrás, quando aquilo virou uma profusão de baixaria. Mas esqueci que uma parte da minha história estava ali. Ex-namoradas, depoimentos de amigos que hoje estão mais distantes, os tais “scraps”, comentários nas fotos… E isso hoje está perdido, ou talvez inacessível em algum servidor do Google.
Sob a desculpa de proteger a privacidade e a descontextualizações dos dados pessoais (o exemplo clássico é de uma professora que foi demitida porque uma foto sua com um drink na mão foi descoberta por seus chefes, que consideraram tal foto um mau exemplo), acabamos mimados com a possibilidade de litigância para proteger dados que nós mesmos postamos. Acho que o caminho, em uma internet arisca a regulamentações, seria:
– surgimento de campanhas educativas a fim de que os mais jovens entendam as consequências de se postar algo na internet, algo que poderá nunca ser esquecido;
– o desenvolvimento de uma mentalidade mais humana, menos hipócrita, e que entenda que todo mundo é gente, e que todos fazemos algo de tolo, de bobo ou de que, em um momento privado, nada tem de mais. Li um artigo fantástico sobre isso, e recomendo a leitura para que conheçam mais essa linha de raciocínio.