Faz algum tempo que escrevi alguma coisa aqui, exceto receitas de pão em inglês. Parece coisa da ditadura – escrever receitas em jornais – mas, muito embora os tempos estejam sinistros, não foi essa a razão dos posts sobre pães.
Na verdade, fiquei com preguiça de criar um espaço próprio para os pães, e resolvi utilizar esse blog para documentar meu progresso (?) no preparo de pães. Sim, virei mais um dos que, durante o confinamento por causa da COVID-19, resolvi fazer pães, e viciei na coisa. Desde março não compro pão em casa. E, ainda que fazer pães não tome tanto tempo, só é compatível com uma vida normal se a pessoa trabalhar de casa, a não ser que só se faça pão no fim de semana. É que viciei no pão tipo sourdough, ou seja, feito com fermentação natural, o que precisa de constante atenção.
Mas deixando os pães de lado, outra mudança relativamente recente nos meus hábitos foi meu afastamento do Facebook. Já fazem duas semanas que desativei minha conta. Fez menos falta do que imaginei que faria, apesar de sentir falta de saber o que minha família e amigos estão fazendo. Sempre gostei de estar conectado, e esse auto imposto isolamento é um pouco estranho. Meus amigos ainda estão aí? Ainda tenho amigos? Alguém ainda se lembra de mim?
A principal razão é que smartphones em geral, e o aplicativo do Facebook em particular, se tornaram, mais que um hábito, um reflexo. Anda-se na rua, checa-se o Facebook. Está em uma fila? Checa o Facebook. Ônibus? Facebook. Eu sempre me orgulhei de ser acostumado a esperas. Desde pequeno tinha que enfrentar longas horas em salas de espera, principalmente de médicos, algo que me tornou – gosto de pensar – mais paciente. E creio que perdi algo dessa paciência com o constante preenchimento do tempo em “stand by” com o Facebook.
Outra razão foi a de que eu usava o Facebook demais, e sinto que esse reflexo prejudicava minha interação com minha filhinha, que acaba de fazer três anos. É um privilégio ter a atenção dela, e não é justo que eu jogue essa atenção fora com o Facebook. Preciso mais presente, e não menos.
Por último, a polarização no Facebook me incomoda. Incomoda ver o revisionismo histórico infundado que se vê nas redes sociais e que jamais se sustentaria em uma banca universitária. Essa onda revisionista e antiacadêmica é obscurantista, e eu não quero mais ficar gastando tempo discutindo premissas básicas. Não, não é que eu acredite que o conhecimento só é legítimo se vindo da universidade. Mas acredito que a metodologia científica ainda é a conquista humana mais importante, pois conta com mecanismos de validação de uma hipótese. Então, se um sujeito resolve escrever um artigo dizendo que a escravidão brasileira não era racista, contrariando a história oficial – sem se dar ao trabalho de seguir a trilha do suor e lágrimas de quem defende uma tese acadêmica (coisinhas básicas como citar fontes, por exemplo), e isso ser incensado por gente que deveria lutar contra esse obscurantismo – é porque a coisa é perigosa. Se as pessoas estão tão seguras das barbaridades que dizem, percebo que o ambiente das redes sociais se tornou insalubre.
Não sei se minha decisão é definitiva, mas por enquanto vou resistindo à vontade de voltar e ver meus amigos, ainda mais nesses tempos pandêmicos em que eles fazem muita falta. E é bom usar um pouco desse novo tempo para deixar o pensamento correr solto e voltar a curtir o privilégio de ter algum tempo sozinho comigo mesmo – ainda que seja na fila do correio ou em pé no ônibus.