Já conversamos sobre Salvador? 🙂
Eu me lembro, ainda no segundo grau, algumas pessoas dizendo que não gostariam de morar em Salvador. Salvador, para quem é de Conquista, sempre dividiu as opiniões: para uns, melhor lugar do mundo – as festas, os shoppings, a praia… Para outros, o pior lugar do mundo: cidade sujo, pessoas mais mal-educadas, muito calor…
O que eu penso a respeito de Salvador é, talvez, uma síntese disso. Não acho os soteropolitanos especialmente mais mal-educados. É que, em se tratando de capitais, as pessoas são mesmo mais ríspidas. Ninguém vai mesmo se tratar por compadre aqui, embora, devo admitir, o círculo de pessoas com as quais sempre lidei aqui sempre foram muito receptivas.
A sujeira foi, em parte, eliminada, graças às maquiagens que a gangue de ACM fez por aqui. Mas a exclusão social está quadruplicada, e é brutal. O cidadão é submetido a todo tipo de situação, e só nos resta lamentar, porque esse é o mundo que nos permitimos viver. Hoje, ao entrar no ônibus, um sujeito tirou a camisa para mostrar suas chagas, ou seus inchaços, pedindo dinheiro para se tratar. Os meninos continuam a pedir dinheiro, a se pendurarem nos ônibus, bem na porta do shopping barra, lugar que, aliás, sempre foi, para mim, o exemplo mais brutal das contradições de Salvador: boa parte dos seguranças, atendentes de fast-food e lojas mais populares são negros ou afro-descendentes. Já lojas “de bacana” não têm funcionários negros. E, consumindo, quase que só brancos. Isso não parece ter mudado. O interessante é que, no ponto de ônibus, quase todos a esperar o GOL (Grande Ônibus Lotado) são negros.
As festas de Salvador já não me seduzem. Tudo é muito plástico, muito comum, muito comercial. Pra turista ver.
Porém, há algo mais em Salvador. Não se se são as praias, não sei se é a criatividade legítima do povo baiano. Aqui se cria, aqui se constrói. E, por incrível que pareça, nossa capital hoje organiza-se. Na área jurídica, por exemplo, hoje em dia, os nomes mais badalados do ensino são baianos, jovens baianos. A engenharia tem empresas baianas de renome nacional (não sem as velhas denúncias de maracutaias, claro).
Salvador é uma das poucas cidades do Brasil que tem uma autoestima ENORME. Exagerada, para alguns. Eu só posso dizer que gosto de Salvador. Muitas coisas me assustam em particular, como as distâncias, as dificuldades, o calor e o trânsito. Coisa de provinciano. Os preços estão caros pra tudo, porque a cidade soube segregar o consumo como nenhuma outra. Tudo me parece coisa pra inglês (ou italiano, francês, japonês…) ver. Mas há algo mais em Salvador. Não sei se são os meus amigos de sangue daqui (e estes já são cada vez menos, triste constatação), não sei se é a minha família, ou a nostalgia de ter vivido aqui alguns dos melhores anos da minha vida. Mesmo alguns lugares deixando de existir aqui, mesmo não conhecendo mais as pessoas, os points, etc, gosto daqui, talvez porque, se o Brasil desse certo, Salvador seria o lugar melhor para se viver nesse país. Enquanto o Brasil não dá certo, só se pode admirar Salvador com as reservas de sempre…