Vim a SSA sabendo que talvez esteja me despedindo de um amigo. De um amigo cuja amizade começou com um simples café vendido a um perdido advogado iniciante que tentava novamente reiniciar sua vida, nos idos de 2000, recém chegado da Noruega. De um amigo que me acolheu desde o primeiro momento, ele e sua esposa, recebendo-me na intimidade do seu lar – lar que inspirava todos os amigos pela paz que lá se sentia.
Esse amigo está indo embora. Maldito câncer, “pá”, diria ele. Ele, que veio de Angola, em busca de viver no Brasil a felicidade que seu país colonial lhe dava, mas que a metrópole, sem florestas, safaris e liberdade, jamais poderia lhe oferecer. Tentou esse amigo reviver no Brasil a sua Angola. Não conseguiu – O Brasil não era, pra melhor e pra pior, a colônia portuguesa que ele imaginava. Seus amigos tiveram melhor sorte (acharia ele, discordaria eu) emigrando para o Canadá, África do Sul, etc.
Digo eu que fez ele melhor: trabalhador incansável, fez de tudo nesse país, com uma esposa que lhe auxiliava (aliás, auxiliava somente não – lhe superava às vezes em trabalho), e conseguiu formar um pedaço de paraíso em forma de sítio, nunca me negando a paz daquele lugar.
Faziam o melhor café cremoso (e talvez o único) de Vitória da Conquista. Não contentes em nos oferecer a amizade, criaram uma teia de amigos do peito que enriqueceu as vidas daqueles que tiveram a sorte de os conhecer. Conto mais de 10 pessoas que são bons amigos meus e que me foram apresentados naquela lanchonete pelo S. Mário.
A rota para o forum deixará de ser tão agradável sem a lanchonete Delícias. E a vida se tornará bem mais triste sem a amizade e a alegria desse portuga. Espero por um milagre. Espero que seu travesseiro seja leve e confortável nessa hora de dor, nessa hora em que, aqui, sofremos com ele.