Nada é 100% perene. Costumo comparar nossa vida, eu que sempre sou muito brega em comparações, a um trem em movimento – ou ônibus, mais próximo à nossa realidade. Os passageiros alternam-se, os lugares também. Paramos em algumas estações, passamos por elas, algumas que nunca mais veremos.
Mas sou capaz de dizer que a maior parte das nossas caras recordações vem da nossa escola. Afinal, lá tivemos professores, tivemos amores, tivemos tristezas e alegrias, tédio em doses cavalares, lições, exemplos, aporrinhações e outras desilusões. Mas era o nosso casulo, a redoma que, a fim de nos preparar para o mundo (oh, utopia!), dele nos isolava.
Li em um blog que o Instituto São Tarcísio irá fechar suas portas. Estudei no IST da 6ªsérie ao 3º ano. Seis anos frequentando a escola da Av. Olívia Flores. Apesar de achar que o processo educativo brasileiro merece uma reformulação total (tema para um outro post), o IST sempre estava à frente das outras escolas aqui na cidade. “Tia” Edna sabia escolher bem uma equipe. Colocar uma “Tia” Núbia em uma coordenação pedagógica, uma Rose, uma Thea, uma Cata, uma Cristina – gente que respira e ama educação – era a mais feliz forma de fazer aquilo funcionar. E a própria diretora estava presente – quantos “relas” já não levei de Tia Edna? E a falta, quase masoquista, de tais relas, me emociona, ainda que, mesmo à época, os tais “relas” nunca afastaram o carinho recíproco para com a diretora, com quem até em camelô já fui (história para outro post). Aliás, tive o privilégio de conviver com a direção da escola, talvez por ser criança meio que desgarrada, estereotipada como CDF, mas nem por isso fechada ou bajuladora (esse mérito eu tenho que reconhecer em mim mesmo: gostava daquelas pessoas porque eram maravilhosas). Lembro-me do hamburguer comido em um meio-fio com “Tia” Núbia, das conversas com Guelbinha, Aidê e Bel, dos papos vocacionais com Rose, da risada fantástica de Tia Cata… Isso sem falar nos tipos folclóricos, quase que patrimoniais da escola: Jarbão, Big, Bebel, Conça, Nei, Belão, Cacá, etc.
Aqueles corredores, com as versões modernas do antigo “bedel”, no IST, todas femininas – Guelbinha, Bel, Aidê são as que me vêm na memória, nunca me vão sair da memória. Os professores, alguns dos quais se tornaram meus amigos, outros, clientes, e nenhum deles, inimigo, nunca me serão esquecidos.
Nunca deixei de passar pela Olívia Flores sem olhar, ainda que de soslaio, para o prédio – hoje com uma fachada muito mais moderna – onde estudei. Entrei no colégio poucas vezes após a conclusão do 3º ano – sempre com uma saudade, quase com uma súplica do tipo “me aceitem de volta aqui, aqui eu era feliz, aqui é o meu lugar”. E com uma inveja pouco disfarçada dos alunos que gozavam dos avanços da escola e das melhorias realizadas.
A mesma saudade veio nas 3 vezes que fui convidado para falar sobre minha profissão aos alunos do 3º ano. No fundo, detesto usar gravata. Só devo ter sentido algum prazer em usá-las para que a minha família visse que, finalmente, eu havia me formado, e quando entrei naquele colégio, só para que entendessem que sim, vale a pena aturar uma peste como eu – um dia pode sair algo que preste. Não que tenha sido o caso, mas eu me formei, não me formei?
Conquista fica mais vazia. Temos McDonald’s, Subway, um dia teremos Starbucks. Temos outras redes de colégios, todas elas vendendo um produto – acho eu que o produto se chama “aprovação em vestibular”. Mas não sei se teremos outra equipe tão fantástica que queira apenas fazer daqueles (de nós) alunos homens de bem. Sei que era isso que queriam, e poucas vezes vi pessoas como aquelas, que encaravam a educação como um sacerdócio.
Motivos não me faltam para sentir uma saudade danada do IST. Mas o maior deles é que parte de mim, para o mal ou para o bem, foi forjada ali. E aquilo fechando, é como se eu estivesse deixando a estação que mais gostei na viagem, sabendo que para lá não voltarei, não só porque fui banido, mas porque demoliram a estação para construir um shoppinzinho de plástico, sem cor, sem alma, sem gente de verdade.
O IST já não era mais o mesmo. Entrar ali e saber que “Tia” Edna lá não mais estava já era um certo martírio. Mas, caramba, a escola ainda estava lá. A zoada dos alunos também. Os professores, idem. Até Guelbinha!
Hoje é um dia triste. O IST vai deixar de existir, e, de minha parte, só resta a saudade amarga por esse fim.
10/12/2009 em 10:58
Excelente post! Na minha cidade aconteceu algo similar coma escola em que fiz o primário. Ela fechou e junto com ela inúmeras histórias ali construídas. Tive a mesma tristeza e nostalgia.
Também me questiono algumas vezes sobre onde vai parar o nosso ensino, especialmente agora com o número giganesco de faculdades privadas onde paga e passa. Já não há mais aquela necessidade de estudar com afinco para o ingresso na Universidade.
É como você disse, isso é papo para outro post. Longo post, aliás!
abraço.
30/12/2009 em 20:05
Parabéns meu amigo Fran. óculos, excelente post.
Não sei nem como expressar o tamanho de minha tristeza com a notícia. Notória a evasão de alunos no IST, mas, antes disso, acredito que a ruína de colégio iniciou-se com a debandada de alguns tradicionais professores do colégio. Tais professores, talvez embalados com o promissor “negócio” chamado “cursinho pré-vestibular”, começaram a dispersar num período em que o IST ainda não havia se recuperado da perda de “Tia” Edna.
Um dia desses fui jogar o “baba” na quadra do IST e fiquei relembrando da infância, das “quadras de areia”, da algazarra ocasionada pela brincadeira “cuscuz”, mas, pensar na escola toda abaixo, os 50 anos de história escolar que são representados naquele prédio/nome chegando ao fim, indubitavelmente, deixa a maioria dos ex-alunos numa grande tristeza.
De qualquer forma, fico na torcida, ainda tenho esperança de que não feche pq dali guardo minhas melhores recordações, eh saudade…
Abç a todos
08/01/2010 em 19:32
Francis,
Estou emocionadissima com as suas palavras!
Nesta semana encontrei Dimitri Sales num voo de BH para Sao Paulo e foi quando soube da triste noticia.
Vivemos anos de nossas vidas numa instituicao de educacao que para sempre terrei orgulho.
Bjos
13/01/2010 em 13:18
Mona, querida, que bom ler seu comentário! Puxa, quando você aparece por aqui? Seria ótimo ter notícias suas!
beijo grande!
13/01/2010 em 13:19
Tales, valeu mesmo, véi! Obrigado pelo comentário!! 🙂
13/01/2010 em 20:52
Ô lugar que sofri !! Mais foi a melhor fase da minha vida, ali aprendi valores, tive amigos, umas grandes “regulagens” de Tia Edna. Todo dia que passo na frente do colégio tenho vontade de entrar, reviver momentos, mas infelismente a vida hoje corre num ritimo desenfreado e muita coisa muda da brincadeira de cuscuz para as responsabilidades familiares e profissionais, mas se o IST não esta mais no nosso presente fisicamente ele faz parte do nosso passado e com certeza do nosso futuro por tudo que aprendemos lá. Saudades
09/02/2010 em 09:55
Francis, em mim, que conviví com “Tia” Edna e com todas as figuras folclóricas que você mencionou, a notícia de que o IST fechou as portas me deu o sentimento de que alguém (o destino, a vida, enfim, algo maior que o meu entendimento) mexeu em minha história. Mas “nossa” história não tem preço e nos vamos sempre levá-la conosco, podendo inclusive dizer que “foi um privilégio ter estado com todos vocês”.
Um abraço.
13/02/2010 em 12:39
Fracis,
Estou sempre lendo seus textos e, quando termino de lê-los, tenho a sensação de que viajei no tempo. Algumas coisas são tão boas de lembrar, de refletir, de repensar e até de mudar nossa opinião. Afinal, o mundo está sempre em “evolução” e nesta dinâmica até os nossos conceitos e pontos de vista têm que serem repensados – isso quando o argumento é coerente. Os bons tempos de colégio são inesquecíveis mesmo… São tantas descobertas, alegrias, amizades, frustrações e inimizades (essas últimas servem para nosso amadurecimento). Fique sentido com o fechamento do IST. Mas são coisas que acontecem. Você sabe o que ocupará o espaço vago deixado pelo colégio? Espero que seja alguma instituição de ensino.
Um abraço.
13/02/2010 em 16:37
Luiz,
Sim, são coisas que acontecem. Mas, como você disse, são coisas inesquecíveis e, por isso, causa-nos essa impressão de perda. Na verdade, penso que o IST talvez tenha sido um dos últimos colégios onde todos se conheciam e se portavam mesmo como uma família – os coordenadores ainda conheciam os pais, a sensação era de uma extensão do lar, para o bom e para o ruim. Acho que escolas hoje são como indústrias – também com seu lado positivo e negativo. E daí, talvez, a razão do lamento.
Que nada, a razão do lamento é a saudade, mesmo.
Não sei o que será feito do prédio, ouvi rumores, mas apenas rumores.
Um abraço!
25/02/2010 em 12:03
Gostaria de saber onde você leu ou ouviu sobre construção do Shopping Boulevard Conquista pois já procurei em muitos sities e não encontrei. grato.
25/02/2010 em 12:59
Ivonildo: em programas de rádio foi noticiado isso.
13/11/2011 em 12:38
Francis,
A leitura do seu texto trouxe boas recordações dessa época.
Abraços!
13/11/2011 em 15:59
Grande Mário, obrigado!! Foram excelentes anos!
17/11/2011 em 17:12
Lembro de vc ter ficado bravo comigo em uma comidade do orkut a anos atras, não lembro a natureza do desafeto, mas lembro do fato e aqui, no seu blog, aproveito a oportunidade de conhecer seu blog para abordar e encerrar isso me redimindo publicamente e retirando qualquer coisa que disse que tenha te incomodado. Acho que brinquei com o fato de vc ter sido “cdf” ou os óculos…, mas você também não deixou barato e mandou os cachorros em mim na ocasião. (rs) Em fim, ler seu texto me fez muito bem e vi esta oportunidade de acertar as coisas, por mais que tenha sido uma bobagem. Parabéns pelo Blog e pela homenagem ao nosso querido e (infelizmente) finado IST. Minhas desculpas sinceras. Abraço.
17/11/2011 em 17:21
Oi Venando,
Fico muito feliz com as suas palavras, e também apresento as minhas desculpas. E, sem dúvida alguma, fico muito feliz em deixar esse chato desentendimento pra trás.
Um abraço!
17/11/2011 em 17:52
Ótimo! Estou certo de que compartilhamos opiniões de relevância para a sociedade como um todo, e que defendemos a paz em qualquer ocasião. Certamente iremos dormir um pouquinho mais leve hoje. Então fica assim, na paz.
17/11/2011 em 17:59
Sem dúvida, foi a coisa mais legal do dia! 🙂 Fica na paz também!
02/08/2020 em 13:50
Lamento informar que nossa querida e estimada Guelbinha faleceu hj
02/08/2020 em 21:10
Notícia extremamente triste. Guelbinha era muito querida. 🙁 Que descanse em paz.