Vitória da Conquista, que será de ti?

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Bom, após tantos assuntos técnicos, vamos falar de coisas mais mundanas…

Algo tem me incomodado em Vitória da Conquista.

Essa cidade tem crescido de forma assustadora. Você, caro leitor, caso tenha estado aqui há uns 5-6 anos atrás e hoje tenha regressado, verá isso. Claro que não estou falando dos índices oficiais, onde, de fato, o crescimento é facilmente demonstrável em números (pra se ter uma idéia, o consumo de cimento daqui foi superior ao de Ilhéus e Itabuna somados e, salvo engano, superior ao de Feira de Santana).

Conquista ganhou as seguintes obras nos últimos 6-7 anos:

– Duplicação da Av. Olívia Flores até a UESB
– Reforma do trecho urbano da Rio Bahia
– Avenida Luis Eduardo Magalhães
– Duplicação da Av. Juracy Magalhães

São quatro exemplos, mas que demonstram, hoje, os principais vetores de crescimento da cidade. É indiscutível que a cidade tem crescido nesses vetores.

Pois bem: agora, sabe-se, Conquista tem a previsão, para 2010, de implantação dos seguintes estabelecimentos:

– Hiper G. Barbosa;
– Wal Mart;
– Hipermercado no Shopping Conquista Sul
– Shopping Boulevard

Isso somando-se a obras também recentes, como Atacadão, Shopping Conquista Sul e, mais distante, o próprio Hiper Bompreço, além de algumas indústrias, como a Dilly (Dass), a Coposchio, etc.

Pronto, chega de dados. Vamos agora à razão da minha chateação.

Penso eu que a cidade tem que ser pensada, agora, de forma coletiva. Não dá pra ser uma cidade pensada apenas em grupos esparsos, que, sim, merecem toda a atenção da administração, mas sempre dentro da perspectiva de grupos esparsos, e não com holofotes.

Exemplo: por que a administração municipal, sabendo que a frota de veículos de Conquista cresce em ritmo superior à média estadual, com um número enorme de concessionárias (recém inauguradas contam-se quantas – umas 10, sem contar as dezenas de multimarcas), parece não abordar o problema de forma satisfatória? Ou, para ser mais direto, por que interromper o fluxo de veículos em três vias centrais da cidade EM PLENO FINAL DE ANO, fazendo com que andar no centro, de carro, seja uma tormenta ainda maior?

Ora, interromperam o fluxo nos segmentos superior e inferior da Praça Tancredo Neves e o superior da Praça Barão do Rio Branco (Praça essa que, durante boa parte do ano, tem seu parque de estacionamento reduzido em razão da montagem de palcos). Ceparam várias vagas de estacionamento na Rua Maximiliano Fernandes, o que causa uma briga por estacionamento e desequilíbrio no contrato da empresa concessionária.

Tudo para que fossem instaladas barraquinhas para vender artesanato, cachorro-quente, essas coisas. CLARO que sou a favor de espaços para que a Economia Solidária prospere, e os pequenos tenham vez. Mas Conquista, agora, não pode parar, e me pergunto se os benefícios para os poucos empreendedores são suficientes para compensar os transtornos para toda uma cidade. Ora, há praças na cidade que poderiam muito bem ser usadas para tais fins – 9 de Novembro, com ampla calçada, parte das alamedas, enfim, nada que prejudicasse o tráfego e o estacionamento.

Antes que me perguntem se acho que os carros devem ser privilegiados em detrimento das pessoas, respondo com um NÃO enorme. Acho, inclusive, que já está mais que na hora de se pensar em intervir de forma radical no Centro, fazendo calçadas em um perímetro grande dali. Mas isso tem que ser pensado com a oferta de vagas nos arredores, como é feito em qualquer lugar civilizado. Bloquear vias de tráfego sem oferecer alternativas é horrível.

Outro aspecto, principalmente para quem já visitou Curitiba, por exemplo, é o tal transporte público. Noto que Conquista possui uma elite meio hipócrita, sempre crítica dos governos mais populares, como esses que estão aí, mas sei também que parte dessa elite é, de fato, interessada no desenvolvimento da cidade. Ora, por que raios não criam um forum para que a cidade seja pensada e construída de forma coletiva? A iniciativa privada precisa colocar a mão no bolso.

Idéias, são várias: Conquista precisa de abrigos modernos de ônibus, com informações das linhas, mapas, etc. Conquista precisa de sinalização dos logradouros, com CEP, guias de numeração, etc. A iniciativa privada poderia muito bem propor isso, e a Prefeitura poderia licitar a publicidade desses espaços.

O Poder Público não tem dinheiro pra tudo, mas a iniciativa privada pode muito bem meter a mão no bolso e dar uma força, com a contrapartida de tornar-se também um agente de desenvolvimento social e, ainda, beneficiando-se com publicidade, geração de tráfego, etc.

A cidade precisa de um pólo digital urgente – aqui se desenvolve software da melhor qualidade, mas é cada um por si. Somos uma cidade cuja única fonte de informação, hoje em dia, é um blog ou dois! Quando é que uma empresa jornalística de verdade vai se interessar em desenvolver um portal decente para a cidade? Quando é que teremos um canal de TV local, com notícias da cidade o tempo todo, cobrindo os eventos ao vivo, como sessões da câmara, festas de largo, exposição, tráfego, tempo? (aqui um parêntese tem que ser aberto ao esforço notável do Eduardo e a TV Local 36, infelizmente restrita aos assinantes da NET e aos internautas, que faz milagre com os recursos à sua disposição)

Na minha humilde opinião, Conquista precisa que o Governo Municipal e a Iniciativa Privada comece a andar junto, e não cada um seguindo suas próprias prioridades. Exemplos de atuações disformes, que precisam ser resolvidas:

– aeroporto – gente, isso é urgente! É pra ontem! Fechem a cidade, se for necessário, mas FAÇAM acontecer! Conquista não é uma vila! As pessoas estão brigando por espaço naquela biboca que chamam de aeroporto! A economia da cidade cresceu ao ponto de que as pessoas lotam os aviões, e o tráfego aéreo daqui tende a disparar se o investimento público for feito. Ou alguém tem dúvidas? E, pior: a cidade é humilhada com o descaso para a questão.

– ferrovia leste-oeste – o Governo do Estado fez descer goela abaixo esse raio de ferrovia, SEM QUE AO MENOS CONSIDERASSE INCLUIR VITÓRIA DA CONQUISTA NO TRAJETO! E não me digam que é por causa do aclive, que não precisa ser engenheiro pra saber que esse não é o problema. Conquista já é entroncamento viário, poderia ser ferroviário. Mas ninguém daqui sequer levantou a questão. NINGUÉM!

– Centro Cultural Banco do Nordeste – Uns querem no centro, outros fora do centro. Resolvam-se, mas tragam o centro!

– Centro de Convenções – Alguém já parou para contar a quantidade de congressos, seminários, simpósios e afins que acontecem aqui? E formaturas? Pois bem: a cidade só tem 1 – UM – lugar para realização de tais eventos. Aliás, vamos ser honestos? A cidade não tem NENHUM lugar decente para a realização de tais eventos. Tem um local na Avenida Juracy Magalhães, que é muito bonito por fora, mas não conheço por dentro. Mas… e estacionamento? Gente, Conquista é central – polariza uma região enorme, é palco para esses eventos! E ninguém fala nada no assunto?

– Praças – Ok, esse assunto é difícil, porque exigiria desapropriações, e tal. Mas todo mundo percebe como o clima daqui tem mudado. Precisamos de áreas de circulação. A cidade está se verticalizando de forma vertiginosa. Ou se criam espaços para circulação de pessoas e de correntes de ar, ou isso aqui vai virar um monstrengo.

É preciso que a cidade comece a se ver no seu tamanho atual, e não como a vilazinha de 100 anos atrás. O crescimento não está tão ordenado, e melhorar isso depois vai ser impossível. E está na hora das pessoas começarem a pensar no coletivo sem lavarem as mãos, culpando o Poder Público. Ou a mobilização começa, ou já era. O Poder Público, sozinho, não tem estrutura, hoje, para cuidar da responsabilidade que o tamanho de Conquista trouxe a seus habitantes, e não por culpa de seus governantes, mas porque a própria economia estatal não permite uma ousadia maior.

Autor: francis

the guy who writes here... :D

2 Comments

  1. Leio muito os blogs, mas até hoje não tinha lido algo tão sensato e cheio de verdades. É de alguém que conhece de fato nossa cidade e, igualmente a mim, pensa dessa forma. Parabéns pelo texto. Gostaria que o prefeito, os vereadores e a nossa população lessem. É uma carta aberta a nossa sociedade e, como tal, tem um propósito: chamar a atenção para os problemas atuais, que se não foram levados a sério, comprometerá a qualidade de vida de nossa cidade.

  2. M. Luiz, muito agradecido pelo comentário.
    Acho que todos nós precisamos, mesmo, de nos engajar agora no debate sobre a cidade. Os contadores precisam olhar os orçamentos, os advogados as leis, os médicos os atendimentos, etc. Ou tomamos isso tudo nas nossas mãos, ou não poderemos nos queixar.

    Um abraço!

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