Deixem o Michel Teló em paz

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Feliz Ano Novo! 🙂

Coisa que tem me irritado: a quantidade de gente descendo a lenha em Michel Teló. Ah, vai se catar…

Vamos aos fatos:

1. Desde quando neguim espera que música de massa seja exatamente intelectual? Povo metido a besta! Mania de gente descer o cacete em música popular só porque prefere ouvir a MPB, como se esta, apenas por seus méritos, tivesse que ser socada na guela do povo. É como se dissessem: “olha, povão, vocês não têm o direito de gostar dessa música, porque a música popular, de fato, é essa outra, que chamamos de MPB”. É presunçoso, preconceituoso e, no fim das contas, revanchista.

É óbvio que não estou a dizer que a tal música seja lá cheia de mérito, mas é que não vi o cara, nem ninguém, dizer que a música “Ai Se Eu te Pego” deveria ganhar o Prêmio de Letra mais Profunda. Portanto, não pode ser julgada pelo que ela não é.

2. Concordo com Lobão. Podem me detonar. Eu sei, meu gosto pra música é sofrível (porém não gosto dessa música da qual falamos, bem entendido). Mas somos um país intenso – alegre, violento, cheio de contrastes. E, diz Lobão, nada é mais idiota do que achar que a música que nos representa é aquela cantada com o sujeito todo tranquilo, parecendo que tudo é calmo e sereno, em um banquinho com um violão, dizendo “Ela é Carioca, Ela é carioca…”. Ah, devo dizer, essa música NÃO me representa MESMO.

3. Sinceramente? Em que essa música é pior do que o techno dos clubs alemães, do que o dance de Ibiza? Enfim, é música de praia, de festa, não de concertos artísticos. É diversão. Música não tem que ser sempre obra de arte, assim como texto de jornal não tem que ser literário. Música tem função utilitária. Não é útil pra mim, não é pra você, mas muita gente gosta.

4. Mania chata essa de neguim politizar até a porra da música! O cara começou a cantar uma coisa qualquer. Vendeu. Faz sucesso na Europa toda. E é ELE que tá errado? Longe mim dizer que é a música ideal, mas, puta que pariu, essa crítica toda cheira tanto a dor de cotovelo mal disfarçada. Pra que tanto auê?

5. Odeio pensamento único. Do tipo “só curto música boa”, como se música, melodia, não tivesse certo apelo a sensações, emoções, sentidos. E fica aquela coisa meio arrogante, do tipo “a música que escuto é que tem qualidade”. Então tá, então 80% da indústria musical brasileira deveria desaparecer, só porque o povo não aprende que a música que escuta é ruim? Sei…

6. Sei, compreendo e entendo que parte da indústria musical brasileira contribui para a alienação, reproduz valores e mentalidade com a qual não nos identificamos. Mas não é assim com toda espécie de arte, seja ela de qualidade ou não? Ou será que queremos uma ditadura intelectual agora? Uma ditadura onde só caibam Marisas Montes, Caetanos Velosos (pra mim, um chato de galocha) e Cia. Ltda.?

7. É horrível quando alguém se acha superior por causa dos seus gostos. Seria como se eu começasse a achar que todo usuário de Windows é cidadão de segunda classe. Ou que um xiita de dietas começasse a dizer que quem come no McDonald’s é doente, e que essa lanchonete deveria ser extirpada.

8. Não gostou da droga da música? Bem-vindo ao clube. Agora, garanto, tem muita gente que gostou. Não vai ganhar nenhum prêmio da APCA, mas fazer o que se D. Maria lá da feira gosta?

9. O Brasil não é único nessas coisas. A Romênia convive com seu Manele, Portugal com sua música Pimba (é assim mesmo?, e por aí vai. Na Romênia, sei que há um movimento forte contra o apelo do Manele, apesar da popularidade do gênero. Na Noruega, há o DDE, por exemplo, que não é o supra-sumo da música nórdica, mas a garotada escuta e se diverte. Fazer o que?

10. Por último, acho que falta apenas bom humor às pessoas. Música de qualidade não pressupõe, para existir, que se elimine a de massa. É clichê chato o tal “tem espaço pra tudo”, mas, em se tratando de fenômenos que, em regra, são efêmeros, não sei porque não encarar como mais uma daquelas ondas do verão, que sempre vêm e vão. Aliás, um picolé de limão para quem apontar uma música de verão sequer que seja uma pérola da poesia. Acho que, escutável, mesmo, só os Tribalistas que, salvo engano, fizeram sucesso no verão de 7, 8 anos atrás.

11. (UPDATE) Fico pensando no que inspira as pessoas a perderem o seu tempo para escreverem longos textos para detonar alguém apenas porque canta uma música que não é a que gostariam de ouvir. Talvez seja o mesmo e inexplicável desejo meu, de ser ouvido, ou, no caso, lido. Mas talvez seja mais que isso: talvez uma demonstração de uma agressividade latente para com tudo o que não lhes agrada, em uma espécie de egocentrismo no gosto, na opinião. Gente que critica a revista Época porque colocou o cara na capa, como se o cara estivesse ali retratado pela qualidade da música, e não pelo impressionante sucesso alcançado. Se Tiririca foi eleito deputado, porque o cara não pode sair na capa da Época? Aliás, a capa da Época, da Veja, da IstoÉ, da Newsweek, agora virou certificado de importância das coisas? Vá entender…

Enfim, deixem o cara fazer sucesso, deixem que pensem que somos um país alegre, sensual, vibrante. Antes isso do que essa mentirinha de “Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça…”.

 

Autor: francis

the guy who writes here... :D

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