Li no blog do meu amigo Esaú Mendes que a Câmara Municipal de Vitória da Conquista promoveu uma moção de aplauso ao Pr. Silas Malafaia. E mais: que tal moção de aplauso foi unânime. E isso é preocupante.
Vamos esquecer por um minuto a laicidade (ou laicismo) do estado. A questão é outra. A questão é a falta de pluralismo do nosso órgão legislativo. O bonito de um Estado Democrático é quando pólos diferentes servem como freio aos excessos de cada um desses pólos. Quando uma personalidade polêmica como o Pr. Silas Malafaia ganha o aplauso unânime dos nossos edis, em um contexto de uma tensão com movimentos homossexuais, é de se preocupar. Não que as posições do pastor sejam necessariamente ruins (apesar de protestante, discordo da conduta do líder religioso, que semeia a discórdia mais do que a concórdia). Preocupa-me o fato de que parcela expressiva da sociedade, que muito provavelmente discordaria e discorda do Pastor, não se faz representar na Câmara de Vereadores. E isso é sintomático por dois motivos: primeiro, porque demonstra que o sistema representativo está longe de ser… representativo. Segundo, demonstra que a Câmara de Vereadores não busca uma sintonia com a sociedade como um todo.
Na verdade, nosso sistema de representação municipal é muito falho. É mais um produto do fisiologismo político do que de uma representação da cidadania. Cada vereador tem seu padrinho, cada assessor busca ascender à câmara um dia.Até aí, nada de novo. Porém, essa unanimidade da Câmara quase sempre significa colocar os interesses partidários e eleitoreiros à frente dos interesses da população. E isso não é de hoje: naquela ocasião, os então vereadores, mesmo discursando contra a instalação do Centro Cultural do Banco do Nordeste na Praça Sá Barreto, votaram a favor da doação do terreno da praça. Os vereadores preferem ficar bem na foto do que assumirem posições impopulares, o que é algo provinciano e nada republicano.
Na Austrália, vários deputados não conseguiram se reeleger porque votaram a favor da proibição do porte de armas naquele país. Alguns anos depois, os índices de homicídios com armas caiu drasticamente, bem como caiu também a criminalidade.
Sinceramente? Admiro muito mais um político que defenda algo por coerência e por princípio do que para fazer imagem de bom moço.
Voltando ao Malafaia: é preocupante que uma Câmara de Vereadores, em um estado que se supõe laico, apoie um pastor que realizou manifestação “pela família tradicional”. Se aulas de Belarmino, Cacá e Abigail não me falham agora, a última vez que manifestações pela “família” aconteceram, só voltamos a ser uma democracia 20 anos depois.
Eu não estou aqui dizendo que o movimento homossexual esteja isento de agendas que não se confundem com as liberdades civis. Longe disso. Mas a luta por um estado laico é de todos os cidadãos. A falta do pluralismo político de nossos representantes municipais é preocupante porque demonstra um apoio irrestrito a posições longe de unânimes. Casamento gay e aborto estão longe de ser unânimes. E é pena que a Câmara de Vitória da Conquista, teoricamente representante de 300.000 pessoas, não tenha uma voz divergente, salvo quando o assunto é “oposição x situação”. E é de se lamentar mais ainda que, sendo unânime, escolheu a posição mais conservadora e menos compatível com o estado laico.
Infelizmente, os vereadores de Conquista perderam a chance de defender o estado laico, os direitos das minorias e o pluralismo de idéias, preferindo a conivência com o discurso intolerante e demagógico. Nossa Câmara já foi melhor do que isso.