Notícias da Noruega: uma parlamentar, na última semana da gestão do governo passado, liga pra um ministro pra discutir a mudança do traçado de uma rodovia, a fim de que seja construído um túnel. Nada de mais, exceto o fato de que a obra custou um acréscimo de R$160 milhões e o traçado anterior passaria a 100m da propriedade da dita parlamentar.
Mas o que me surpreende não é o caso, em si. É forma responsável com a qual os políticos entrevistados na TV, principalmente os de partidos opostos à parlamentar, trataram do caso: não vi uma acusação rude, uma descortesia sequer, nem uma tentativa de capitalizar na desgraça alheia. Ao contrário: um excesso de cautela. Até a primeira-ministra (de partido oposto) disse que não tinha porque falar do assunto, já que não era da sua alçada investigar o caso.
Claro, se fosse no Brasil, já sabemos o espetáculo que viraria.
Cada vez entendo menos esse país, e fico sem saber que lição tirar do caso. Será que os noruegueses precisam ser mais desconfiados, ou será que nós brasileiros confundimos seriedade com oportunismo? De qualquer forma, no Brasil, qualquer indignação é bem-vinda. Já aqui, ainda não “saquei” o modus operandi do país: ou trataram da forma que trataram porque gostam de ver as coisas como são, sem mais, nem menos, sem os exageros do circo que é a política brasileira, ou porque, dando o benefício da dúvida à parlamentar, a mudança do traçado de fato pode ser benéfica para a população, ou porque talvez o fato de ser a corrupção algo menos frequente aqui, não há porque perder a compostura.
Mas que, tirando o perigo que é a falta de indignação em um ambiente em que precisamos tanto nos indignar, seria muito bom ver no Brasil a política e a coisa pública serem discutidas sem que qualquer coisa vire arma de guerra contra os inimigos políticos.