06/09/2010
por francis
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História de Vitória da Conquista

Os conquistenses são muito ciosos de sua história. Apesar da modernização da cidade, ou até mesmo por causa dela, há uma busca pela preservação da memória do Município.

Por isso, blogs como esse aqui são excelentes para quem gosta de trocar idéias sobre a história conquistense. Fica aqui a dica: Taberna da História – VC.

01/09/2010
por francis
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Cancelei a Sky!

Eu consegui. Não imaginei que resistiria a alguma tentação de plano reduzido: cancelei a Sky.

Qual o sentido que faz assinar TV por assinatura que não tenha um DVR (gravador de vídeo)? Qual o sentido em pagar o dobro por um DVR? Qual o sentido em pagar o dobro por alta definição? Eu não tinha esses recursos, e meus horários jamais combinavam com os dos programas que talvez eu tivesse interesse em assistir.

Convenhamos que, com a internet e seus podcasts, torrents e que tais, temos muito mais opções de bons programas, com a conveniência de se poder assistir quando quiser e o que quiser.

Agora com esse sistema do iTunes, acho que vai ser ainda melhor. Pelo preço que pagava na Sky, posso alugar, em alta definição, cerca de 60 episódios por mês – mais do que eu jamais assistiria. Só espero que comecem a legendar os programas!

Sinceramente, a única coisa que me fará uma remota falta será poder assistir a cobertura ao vivo de alguma coisa, tipo BBC World cobrindo alguma reunião de cúpula, ou a CNN mostrando algum discurso do Obama. De resto, já foi tarde.

A propósito: alguém compra meu aparelho? 😀

31/08/2010
por francis
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Livros que li: Out of Capitivity

Título original: Out of Captivity: Surviving 1967 Days in the Colombian Jungle

Autores: Marc Gonsalves, Tom Howes, Keith Stansell, Gary Brozek

Li a versão digital para Kindle, usando o aplicativo da Amazon para o iPad.

A história do seqüestro de Ingrid Betancourt sempre me interessou pelo imenso drama que é viver privado de sua vida rotineira e, de repente, ver-se no meio da selva, preso, por mais de cinco anos.

O livro tem como três de seus autores americanos que, também por mais de cinco anos, foram prisioneiros das FARC, sendo capturados quando o avião em que faziam reconhecimento de área para a inteligência americana caiu na selva colombiana.

Achei o livro bem interessante, embora às vezes um tanto quanto maniqueísta, embora o ghost-writer tenha tentado, obviamente, dar alguns contornos mais condescendentes em algumas das opiniões dos soldados. Vê-se claramente que, embora ali presente o drama vivido pelos americanos, há uma preocupação em marcar uma posição de bom-mocismo diante da adversidade. Não que eu não ache o bom-mocismo seja crível diante da adversidade – mas quando a opinião sobre quase todos os outros sequestrados se torna meio que detratora, fica complicado engolir que os americanos eram os bonzinhos, os éticos, os leais, e os outros não. Mas, enfim, eu não estava lá. Por isso penso, talvez, em comprar o livro escrito pela Clara Rojas, também sequestrada, e, ao que parece, escrito sem uma ghost-writer. Pode ser mais cru de se ler, mas possivelmente será mais autêntico.

Outra grande motivação para a leitura foi o fato de que a opinião dos sequestrados a respeito de Ingrid Betancourt não era das melhoras. Esta era tratada como arrogante, manipuladora e interesseira. Os americanos, durante um bom período, conviveram diariamente com a ex-senadora boliviana. Um dos autores, Keith Stansell, diz, sobre Ingrid, no final do livro: “Perdôo? Sim. Sigo em frente? Sim. Respeito? Não”.

Apesar do tom mais suave dado ao drama pelo ghost-writer, onde as mesquinharias tornam-se protagonista da história, colocando-se em plano menor o drama real da situação. Ou vai ver sou eu que não li direito. Ou vai ver, e é mais provável, que o drama real da situação é ver a dimensão que as pequenas coisas tomam quando se tem sua vida reduzida a uma prisão brutal e injusta, no meio da selva, e ver perdidos cinco anos de vida, roubados por esses criminosos.

30/08/2010
por francis
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O bullying

Não há nada de novo debaixo do Sol.

Em conversa animada com amigos, falamos brincando sobre o bullying, e, desde então, apesar de nossa conversa ter sido séria, veio a vontade de escrever sobre o assunto.

É impressionante como algumas coisas nunca mudam. Hoje vivemos na era do politicamente correto e da tecnologia difundida e presente na vida de todos. A modernidade dessas condutas levaria, supostamente, a uma elevação do espírito humano a não reproduzir comportamentos agressivos de outras gerações.

Coisas que hoje são comportamentos corriqueiros, como o uso de computador em demasia, antes eram motivo para chacota o estigmatização. A religião protestante, antes meio que “de gueto”, hoje é meio que “mainstream”.

Enfim, fui vítima de bullying, embora, à época, não tenha me dado conta disso. Também não me parece, pelo menos em uma análise rápida, que o comportamento discriminatório tenha sido grave como nos casos mais sérios, em que implicavam em agressões físicas e mesmo na resistência das crianças em ir pra escola. Porém, nem por isso deixou de moldar o que sou hoje e o quanto não tolero discriminação.

O bullying do qual fui vítima era baseado nos olhos típicos de quem tem glaucoma, na baixa estatura, na paixão por tecnologia, no fato de tirar boas notas (ignorando o fato de que eu não era lá de muito estudo), no fato de ter à época abraçado a fé evangélica (ainda que hoje bastante decepcionado com ela), no fato de ser desajeitado com as meninas, de não gostar muito das festas e das danças. Por não ter dinheiro para usar sempre roupas de marca.

Pode parecer que tudo isso seja normal, mas talvez todo adolescente queira se sentir incluído no meio em que está inserido. Talvez a prova maior disso seja o narcisismo demonstrado de forma escancarada na quantidade de fotos sorridentes do Orkut & Cia, onde todo mundo (inclusive este escriba) parece feliz, contente – superstar.

Naquela época, talvez como hoje, ao falar de forma mais fina, o adolescente era logo taxado de homossexual. A espontaneidade do gesticular, idem. Éramos treinados para sermos machos. Lembro-me do caso do pai de aluno que parou o carro e mandou que seus filhos batessem em um menino, à época com seus 13, 14 anos, porque este havia feito um comentário engraçado (mas nada ofensivo – nem mesmo grosseiro) sobre sua filha. O comportamento incentivado nunca foi o do diálogo, o da convivência respeitosa entre as crianças.

Imagino que o bullying que sofri seja mínimo comparado àquele sofrido por homossexuais, negros, portadores de necessidades especiais, etc. Talvez as sequelas sejam menores, mas existem. De qualquer forma, não me prejudicaram tanto quanto poderiam, já que, pra bem ou pra mal, nunca achei razoável que alguém pudesse ser punido por suas características naturais ou vítima de discriminação por suas opções, gostos, idéias ou que tais. E hoje, fico feliz por não discriminar, ao menos conscientemente, amigos e amigas “diferentes” (expressão por si só já discriminatória), ainda que pressionado pela exposição contínua a outros que o fazem e que apontam o dedo a nós, exigindo igual comportamento.

Sei que, por causa do bullying do passado, que há os que evitam as boas amizades por pressão de grupos. Há os que fazem mil plásticas para corrigirem alguma imperfeição (como se perfeição existisse) apenas por pressão social. Há os que evitam abrir a boca em público por conta da sua voz. Há os que se fecham ou passam a andar em guetos. Há os que procuram mimetizar o tal “comportamento ideal”, anulando a própria individualidade.

E, infelizmente, nada mudou, a não ser a percepção que o problema existe. E o comportamento de agressão e discriminação continua a ser reproduzido de pai pra filho. Nós, adultos, não costumamos dar bons exemplos de convivência. São as pequenas gozações (você anda demais com fulano – será que é igual a ele? – você comprou um carro pequeno – combina com seu tamanho!), sem nenhuma intenção ofensiva, mas que reproduzem a noção preconceituosa do certo e do errado quanto a critérios de beleza, raça, gênero, etc. Esse tipo de comportamento é abominável quando parte de estranhos, mas eu, pelo menos, ignoro estranhos. Porém, às vezes nós mesmos repetimos as mesmas agressões, sob pretensa forma de brincadeira, que, praticadas por nossos filhos, condenaríamos se tivéssemos bom senso. O amigo que fala fino passa a ser gay (“not that there’s anything wrong about it”, pra quem é fã de Seinfeld), o que de baixa estatura é o “baixinho”, o mais pesado é o “barrigudo”, “gordo”, o alopético é o… enfim – vocês percebem como os pequenos estigmas são sorrateiros.

Nem sempre percebemos que, pra quem levou uma vida a ser molestado psicologicamente com estigmas, não é fácil continuar a sê-lo na vida adulta, ainda que sob forma de inofensivas brincadeiras. Acho, assim, que é imperioso, não por adesão a uma convivência politicamente correta e pasteurizada, mas sim por uma questão de respeito à diversidade, que passemos a pensar em uma nova forma de humor, em uma nova forma de tratar as pessoas, em um jeito aberto, sem as amarras pseudo-culturais que nos impelem a uma forma tão hostil ao semelhante, ainda que sob o pretexto de uma simples brincadeira.

Ao escrever sobre o assunto, fiquei pensando se, de fato, deveria fazê-lo. Alguns amigos dizem que as pessoas não deveriam falar tanto de si na internet, questões de privacidade, etc. Mas eu penso que devemos, sim, falar de tudo o que nos torna mais humanos. A ditadura das fotos sorridentes do Orkut cria hoje uma falsa sensação de que só nossos êxitos e qualidades devem ser mostrados, como se devêssemos esconder debaixo do tapete a miséria que, às vezes, representa nossa condição humana de seres imperfeitos e desajeitados nesse mundo tão estranho. E eu, pelo menos, não quero me render a ditadura alguma, porque eu sei que nossas misérias nos unem mais do que nossos sorrisos falsos (embora alguns desses sorrisos, de tão genuínos, talvez nos unam ainda mais, não sei…).

28/08/2010
por francis
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Amor próprio

Eu não sou perfeccionista. Sou prático.

Mas detesto que digam que meu trabalho ficou ruim. Não acontece, é bem verdade, talvez porque eu, de fato, procuro ser cuidadoso com o que faço.

Por que é, então, que essa empresa que está furando Conquista inteira para levar água para Belo Campo está colocando uma borrinha de asfalto, de forma tão porca e descuidada? Por que não deixou a via pública do jeito que encontrou? Por que não respeita o dinheiro público gasto para construir a via? Por que não percebe que é horrível dirigir em vias tão desniveladas?

Mas, acima de tudo, por que não percebe que todo mundo vai dizer que o trabalho parece porco, descuidado e “armengado”?

Bom, vai ver o otário sou eu, que penso que há coisas mais importantes do que o dinheiro fácil do descuido com o trabalho sério.

24/08/2010
por francis
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Dilly Calçados e a desumanização do trabalho

Como advogado, tenho que engolir alguns sapos. Às vezes ganhamos, às vezes perdermos.
Alguns processos que perdemos são mais difíceis de engolir do que outros. Não pelo seu valor econômico, mas sim pela injustiça que a sucumbência processual significa para quem dela é vítima.
Algo que sempre me chamou a atenção desde que li o livro “O Mundo na Corda Bamba” (One World, ready or not), foi que devemos começar a nos preocupar com a origem dos nossos produtos. Ou, melhor dizendo: quem produz nossas roupas de grife, nossa comida, nossos computadores? Será que usam o trabalho infantil? Será que fazem horas extras? Será que ganham o suficiente para viver?

Conheçam Luciana (nome fictício). Por morar distante da fábrica do grupo DASS (que produz artigos das marcas Fila, TryOn, Dilly e Umbro) em Vitória da Conquista, Bahia, acorda cedo e pega o ônibus todos os dias. Ganha salário mínimo, o que significa que Luciana nunca vai comprar um tênis de uma das marcas que ajuda a confeccionar. Isso sem falar nas condições de trabalho, péssimas, segundo já divulgado na imprensa. Aliás, a indústria calçadista é assim – em Itapetinga, a Azaléia foi proibida pela justiça de usar determinada máquina que já causou amputações e outras seqüelas aos trabalhadores ali.

Um belo dia, Luciana recebe um aviso de demissão por justa causa. O motivo? Luciana utilizara o vale-transporte fora do horário de trabalho. Não mais que CINCO vezes. Algumas dessas vezes, Luciana foi levar seu filho ao médico. Acompanhei Luciana em sua reclamação trabalhista. Sua chefe confirmou, em audiência, que Luciana, mesmo tendo utilizado o vale-transporte fora do horário de trabalho, continuou a usar o transporte público para ir para a fábrica. Isso quer dizer que Luciana compensou o uso do vale-transporte feito em outro horário com dinheiro do próprio bolso, diferente daquelas pessoas que vendem o vale-transporte para conseguir um dinheiro extra.

Mesmo assim, a justa causa prevaleceu. Luciana não iria ganhar muito dinheiro, mas até isso o juiz lhe negou. Certa estava a empresa, já que a lei prevê que o mau uso do vale-transporte poderá ensejar justa causa. Embora a jurisprudência fosse farta no sentido de que a justa causa deve ser proporcional à falta, o juiz não quis nem saber: abençoou a rigidez da empresa.

Infelizmente, o poder estabelecido é assim com os trabalhadores: a Luciana, nega-lhe uma pífia indenização (será que chegaria a R$1.000,00?). À Dilly, incentivos fiscais para implantação da fábrica. Vendem o Estado para exploração do trabalho.

O pior: como explicar a Luciana que outro juiz foi mais razoável, e anulou a justa causa de uma colega de trabalho despedida pela mesma razão, segundo Luciana?

Enfim, como ao advogado, além de lutar, resta recorrer, recorri. Os ouvidos do Tribunal foram moucos. Apelei a Brasília. Negaram o seguimento ao recurso (grande novidade). Agravo. Nessa, vamos morrer brigando.

A insensibilidade com o trabalhador é gritante. A DASS, cujo faturamento deve ser enorme, economizou seus centavos. Luciana, desempregada, aguardou em vão que lhe fizessem justiça. Infelizmente, os que lhe negaram justiça não estavam muito preocupados em… fazer justiça, talvez usando sapatos da Dilly adquiridos com bons salários, fabricados com o suor de gente como Luciana, sapatos que Luciana não podia e não pode comprar.