Documentário estrelado por THC, digo, FHC (hehe, perdão pelo trocadilho cretino, feito apenas para zoar com o ex-presidente), sobre o problema das drogas e da criminalização do uso, do tráfico, etc.
Vou confessar uma coisa: tenho uma admiração grande por Fernando Henrique Cardoso. Essa admiração às vezes é prejudicada por preconceito meu de que nada que venha do PSDB pode prestar – muito parecida com o preconceito que muita gente tem do Lula, por ser este último popular. Em razão do meu preconceito, fico imaginando que o documentário foi uma forma de FHC levantar uma bandeira, qualquer uma, a fim de ganhar um certo verniz de estadista, meio que a la Al Gore.
O preconceito, como todo ele, é ridículo. FHC já era estadista muito antes do documentário, e o fato de tê-lo lançado depois da conquista de Lula de igual patamar requer apenas malícia para não achar que o ex-presidente tucano estava falando sério.
Eu não suporto preconceito. Não importa, pra mim, quais as razões de FHC, assim como não quero que ninguém desconfie das minhas razões o tempo todo. No Brasil, temos esse problema: nunca confiamos em ninguém porque preferimos especular as razões dos outros.
Pessoalmente, acho que ele refletiu muito sobre o assunto, e não teve medo de se expor ou de usar sua credibilidade para falar de um assunto tão espinhoso. Gostaria muito que os políticos, cada vez mais, assumissem posições, ainda que espinhosas. O debate franco é muito melhor do que essa dissimulação ridícula que existe no Brasil, onde o discurso político é semore envernizado, cuidadosamente preparado para não gerar compromisso, para não tomar partido, para não dizer nada.
A verdade é que o documentário é excelente. Se não admiro FHC como presidente, admiro a sua inteligência, bem como o fato de ter tido o desprendimento de falar do assunto que preferimos jogar para debaixo do tapete.
Continuarei a não votar no PSDB. Mas confesso que gostaria que esse e outros assuntos polêmicos fossem, sinceramente, objeto de defesa de partidos políticos. Esses, no entanto, defendem as mesmas coisas. Já reparou que no debate político o discurso é sempre homogêneo?
Lembro-me que, durante a campanha eleitoral, houve aquela celeuma toda a respeito da Dilma e a igreja, Dilma e o terror, etc. Vimos que nada daquilo era de fato importante. Era apenas mis-en-scene eleitoral. Como sempre. Porque, no Brasil, não estamos acostumados a dizer a verdade. Apenas colocamos uma bonita cortina perfumada para ocultá-la. Ou apagamos a luz para não vê-la.
Quando cheguei a Oslo, isso me espantou um pouco, porque vi partidos políticos dizendo explicitamente que eram contra jardins -da-infância gratuitos, ou contra a proibição de carros no centro da cidade. Não imagino jamais um político no Brasil dizendo, em época de campanha, algo negativo, impopular…
Enfim, o documentário vale a pena ser assistido.