15/04/2015
por francis
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Podridão

Podre. É isso que a classe política brasileira é.

Vejamos:

  • Aécio Neves é contra o impeachment.
  • Aécio Neves esculachou Renan Calheiros e sua eleição para presidente do Senado.
    Renan impôs derrota ao Governo reprovando o ajuste fiscal, por acreditar ser investigado pelo MP com a ajuda do Governo.
    Aécio exalta Renan.
  • Renan e Eduardo Cunha fazem dobradinha, inclusive propondo redução do número de ministérios.
  • Governo nomeia Henrique Alves para o turismo, figura próxima de Eduardo Cunha.
    Eduardo Cunha aprova, junto com 96% do PSDB, a tal flexibilização das terceirizações.
    Renan, padrinho político do ex- do turismo, avisa que vai barrar as terceirizações.
    Aécio faz o PSDB mudar a posição depois dos protestos nas redes sociais e agora é contra as terceirizações, junto com o PT.
    Eduardo Cunha avisa que vai retaliar Renan e reprovar projeto do Senado que validou incentivos fiscais.
  • Aécio admite que o impeachment é uma possibilidade.

Essas pessoas não têm posições. Usam projetos do interesse da população como arma para punir seus desafetos. Ora, que essa politicagem sempre existiu, é muito claro. Porém, em menos de dois meses, os fatos acima ocorreram e vêm ocorrendo. Os políticos mudam de posições como birutas de aeroporto, em curto espaço de tempo. Tudo diante de um governo atônito que se humilha perante gente como essa em nome de uma governabilidade que já perdeu o sentido: governabilidade para quê? Para que gente como essa imponha matérias que são contrárias ao programa de governo anunciado?

Em meio a tudo isso, protestos “Fora Dilma”. Eu entendo isso. Acho até legítimo pedir a saída da presidente, embora não consigo concordar com tal saída. Mas me preocupa:

  •  a falta de protestos contra Renan, Eduardo Cunha, Aécio (sim, esse que está se saindo um oportunista de marca maior), Bolsonaro, etc. Lembremos que os dois primeiros estão sendo investigados pela Operação Lava Jato;
  • a falta de protestos destes que pedem o Fora Dilma contra a corrupção desses senhores citados, bem como indefinição desses grupos que vão pra rua sobre esse congresso, sobre esses congressistas;
  • a leniência com Renan e Cunha – André Vargas, por contato com doleiro, caiu. Demóstenes Torres também caiu por ligações com Cachoeira. Renan e Cunha estão aí, como paladinos e presidentes das respectivas casas legislativas. Mas a Dilma é a Geni: só ela apanha.
  • esse governo pusilânime que é incapaz de legitimar-se pelo poper popular que o elegeu, preferindo lastrear-se com esse PMDB que está aí, sendo enfrentado a engolir derrotas que ferem direitos dos trabalhadores e da população em geral.
  • a completa falta de civilidade e modo agressivo que impedem qualquer debate razoável sobre política no país. Essas coisas malucas acontecendo, esses congressistas irresponsáveis tratando de temas delicados como se fossem mixaria em seus projetos de poder, e as pessoas em seus monólogos e xingamentos de turba: “petralhas”, “coxinha”, “Fora Dilma”, etc. Viramos uma espécie de Oriente Médio. Pior, país de fundamentalismo político, onde reflexão, razão, argumentação, deram lugar a uma catarse coletiva e cega, um fla-flu.

Sempre acreditei, ainda que ingenuamente ou equivocadamente, ter uma resposta pra tudo. Se me perguntarem o que eu acho que deve ser feito com os impostos, com o câmbio, com a corrupção ou com o final da novela, eu sempre teria uma opinião, ainda que leigo nesses assuntos. Mas me preocupa não ter idéia de como fazer o país respirar, se acalmar, e ser capaz de refletir. Bárbaros viramos todos, quer quando nos matamos nos guetos, quer quando discutimos política. E enquanto isso, Renan, Cunha, Aécio e outros vão dançando essa valsa particular onde ninguém os questiona, e onde todos os permitem dispor dos interesses do país sem que precisem prestar contas.

 

12/04/2015
por francis
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Corrida e companheirismo

Faz tempo que escrevi aqui – esse é o primeiro post em 2015. Tarde pra desejar Feliz Ano Novo, mas, enfim…

Eu sei que existe uma tendência no meio esportivo de seguir dicas de praticantes mais experientes de esportes, de personal trainers, só porque estes acumularam alguma experiência. Eu não sou contra isso per se, mas sou adepto do fato de que determinadas práticas/produtos/dicas funcionam para uns e não para outros. Por isso fico sempre meio reticente em dar conselhos sobre corrida: no fundo, só sou alguém que corre. Não entendo nada de esporte, mas as pessoas imaginam que alguma coisa eu devo estar fazendo corretamente, já que corro há mais de 6 anos, sem nenhuma lesão significativa e com melhorias no meu desempenho apesar de diminuição no ritmo de treinos.

Esse meu ceticismo em relação a dicas, no entanto, não impede que vez por outra eu tente alguma coisa nova – afinal, sempre se pode melhorar. E às vezes gosto de ler sobre corridas para ganhar motivação, principalmente quando, no hemisfério norte, treinar se torna um desafio ainda maior por causa do clima. Mas é claro que a gente lê coisas contraditórias, como em uma Runners World que li no Brasil e que, em um mês, publicou uma dica de que não se deve se alimentar 5, 6 vezes ao dia, pois nós não fomos “programados” pra isso, e, páginas depois, vinha a sugestão de um nutricionista para fracionar a alimentação em porções ao longo do dia. Enfim…

Mas às vezes a inspiração não vem das técnicas, mas das atitudes. Li dois livros inspiradores sobre corridas – “Do que eu falo quando eu falo de corrida”, de Haruki Murakami, e “Nascido para correr”, de Christopher McDougall. Neste último, há conselhos bastante controversos, como a sugestão de correr com os pés descalços. Mas o que inspira nesses dois livros são os aspectos comportamentais da corrida, que me inspiraram bastante.

No livro do Murakami, o autor narra períodos de “running blues”, ou certa falta da vontade de correr – isso creio acontecer com todos de tempos em tempos. Mas no “Nascido para correr”, não obstante várias histórias interessantes (mas nem sempre verossímeis, dirão alguns), algo me chamou a atenção: no livro, o autor questiona a razão da aptidão nata dos Tarahumara, tribo indigena do México, para as corridas de longa distância. E uma das explicações dele é o companheirismo durante a corrida.

Claro que companheirismo na corrida pode ser apenas um truísmo, uma filosofia de botequim, um desses conceitos de “auto-ajuda” do qual estamos impregnados hoje em dia. Mas, embora eu não seja superticioso, acredito haver algo nisso aí.

Eu sempre preferi correr sozinho, pois podia correr no meu ritmo, ouvindo minha música. Conheci alguns amigos e comecei a correr com eles. Mas cada um corria no seu ritmo, e era quase como correr sozinho. Os Tarahumara correm em duplas, segundo o livro. Então chegou uma época quando meus amigos tiraram umas férias das corridas, por lesão, e só um deles estava disponível. Treinamos juntos e, alguns meses depois, foi a minha melhor maratona. E não que ele imprimisse um rimo mais forte – corríamos até controlando o ritmo, embora ele fosse bem mais rápido que eu. Foi um período muito bom de bons treinos.

Depois, já aqui em Oslo, comecei a correr com outro amigo, corredor desde sempre, mas que estava meio parado, portanto correndo mais devagar que eu. Como passei meio que a preferir correr acompanhado (mesmo sem ter refletido no tal do costume dos Tarahumara), não me importava, e fazíamos treinos longos a uma velocidade que, para mim, não era desafiadora, mas que era muito mais prazeirosa. O resultado: treinando com alguém por seis meses, em um ritmo tranquilo, rendeu resultado melhor do que dois anos e meio treinando sozinho: fiz minha melhor maratona até então.

Claro, em corrida há o aspecto psicológico, há o treinamento, há a alimentação – todos são fatores decisivos. Não vou aconselhar ninguém a correr com alguém baseado em o que seria uma crença, tradição ou talvez até superstição. Mas parece que, para mim, tanto na corrida como na vida, dividir a batalha com alguém parece render mais do que se matar individualmente.

Eu ainda faço a maioria dos meus treinos sozinho, que é quando treino no meu ritmo e aprendo mais sobre limites, sobre minhas próprias características ao correr. Mas tenho cá pra mim que são os longões recheados de “resenhas” (não sei se essa gíria é baiana, nordestina, ou brasileira) que mais contribuem para resultados e experiências mais realizadores.

 

13/12/2014
por francis
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De onde você é?

Eu sou daqui! 🙂

Ser brasileiro, em muitos momentos, é um privilégio: certas questões não nos causam dissabor ou mesmo trauma. Um exemplo é o fato de aceitarmos bem quem é de origem diversa, e nosso complexo de vira-lata tem um lado bom que é justamente a supressão da xenofobia. Claro, noves-fora a quantidade de idiotas que reclama da acolhida que o Brasil recentemente tem dado aos imigrantes de países pobres, ou mesmo da extensão do programa Bolsa Família a estrangeiros, muito embora eu acredito que esse pensamento pequeno se trata mais de um movimento reacionário recente, do tipo “foi o PT que fez? Soy contra!”, já que quero crer que o brasileiro médio – se é que existe algo médio no Brasil (tudo parece ser extremado) – sempre é solidário: “mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar, o meu coração fecha os olhos e sinceramente chora…”. Não digo aqui que não temos preconceitos ou que não somos racistas, mas que o problema da xenofobia, no Brasil, não tem uma dimensão preocupante, e espero que continue assim.

Mas, como sempre, saí do assunto. O que eu quero dizer é que nós adoramos fazer novas conexões, nos comunicar, descobrir nossas origens, já que muitos de nós tivemos antepassados que foram jogados aqui, trazidos como escravos, como degredados ou como auto-exilados para tentar a sorte no novo mundo. Talvez seja isso que nos tenha acostumado a uma busca por uma identidade mediata, já que a identidade brasileira, imediata, substituiu aquela identidade originária. Por isso há o banzo de se conhecer um pouco mais do passado, de se saber de onde veio. Claro, o mesmo complexo mencionado no começo do texto às vezes motiva essa busca, mas também há aquela feita mesmo pela questão da identidade, ou pela história interrompida, como imagino que seja o caso de muitos de nós com ascendência africana (ainda que a minha não apareça tanto na pele). De toda forma, não se é menos brasileiro por não se ter origens no Brasil, e ter origem estrangeira, via de regra, não enseja preconceito além dos estereótipos.

Algo que me chamava a atenção nos primeiros meses de Noruega é que nós, estrangeiros aqui, sempre que víamos alguém com fisionomia fora do padrão loiro-branco-olhos-claros, sapecávamos a pergunta: “de onde você é?”. A pessoa, um tanto exasperada (normalmente ela já sabia onde aquilo ia dar), respondia “daqui da Noruega”. E aí nós, “inocentes”, insistíamos “sim, mas originariamente, de onde você é?”. Com o tempo, percebi que isso é meio que um tabu: a imigração por aqui é recente, e o país ainda tem seus percalços a lidar com isso. Os jovens, filhos de pais que vieram nas primeiras levas de imigração dos anos 70, não se sentem tão confortáveis em ver sua “norueguesidade” nagô questionada, quer porque são muitas vezes vítimas de preconceito (ou porque seus pais o foram), quer porque no debate político suas religiões-cores-etnias muitas vezes são questionadas, como a demonstrar que eles não seriam 100% noruegueses, ou porque simplesmente a pergunta é um pouco invasiva, e tudo o que é meio invasivo aqui não é tão aceito como no Brasil. No começo me impressionava que ninguém me perguntava de onde eu vinha, e eu sempre ficava empolgado quando alguém o fazia, pois era sinal de interesse em conversar, em fazer contato. Seja qual for a razão da reserva com a pergunta, aprendi que aqui o “de onde você é?” possui várias acepções, diferentemente do Brasil, onde é apenas um início de uma conversa ou a demonstração do interesse em conhecer alguém mais a fundo.

Nesse aspecto, acho que a tragédia da nossa história talvez tenha forjado uma conciliação entre identidade e pátria, entre origem e presente, que talvez só exista em certa medida nos Estados Unidos. Infelizmente, a Europa, origem do próprio conceito do que é ser cosmopolita, consegue ser tão retrógrada e não permitir que questões de mera identidade sejam tratadas como tal, mas sim como ameaças ao exercício de direitos ou mesmo de vias de demonstração de puro preconceito. E tragédia não faltou à Europa…

 

09/10/2014
por francis
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Esquerda caviar uma tchola! :D

Caviar... hmmm :)

Caviar… hmmm 🙂

Infelizmente, o tal Brasil cordial, se existiu um dia, agora não existe mais. As discussões na internet sobre política estão um lixo só. Mas não sei se isso é um fenômeno novo – um amigo muito sagaz dia desses me fez pensar que no fundo tudo é como sempre foi, e aí me lembrei que a moda na década de 80 era chamar direitista de alienado. Pois bem, a moda agora é chamar esquerdista de classe média de membro da chamada esquerda caviar, em um raciocínio pra lá de cínico, como se pra querer distribuição de renda e dignidade o sujeito precise passar fome – caso contrário seus anseios não seriam legítimos.

Mas o que o caviar tem a ver com as calças, gente? A tal ova de esturjão aqui na Noruega é mais barata (em sua forma mais popular, em pasta) do que maionese. Mas há mais entre esquerda, caviar, Noruega e Brasil e este que vos escreve do que possa parecer.

É que o imigrante brasileiro, quando esquerdista, além ser taxado de “esquerda caviar”, pois teoricamente estaria no melhor lugar do mundo e, assim, não poderia se arvorar como defensor dos mais desfavorecidos, também sofre porque é acusado de não ter legitimidade para falar do Brasil por estar longe. Acho os dois argumentos de uma pobreza de espírito enorme, mas vamos lá, que brasileiro que é brasileiro nunca foge de uma boa conversa ou de uma promissora porfia… 🙂

Acho que o argumento de esquerda caviar é pobre, porque é ad hominem, e porque não tem duas vias. Eu até poderia aceitá-lo (com reservas), se alguma pessoa miserável e faminta viesse me acusar de presumir saber o que é melhor pra ele. Mas não aceito a crítica, independente do seu conteúdo, quando ela provém de alguém que, geralmente, possui melhores condições do que eu. É dizer: do (neo)liberal que tem casa, comida, roupa lavada e milhas no cartão que vem me dizer que o mercado há de trazer comida para o miserável faminto, como se ele, o meu amigo leitor de Olavo de Carvalho, soubesse lá o que é isso.

Tem um outro aspecto: eu não posso defender políticas públicas de inclusão porque em tese não precisaria tanto delas (afinal eu tenho um iPhone, não é? :). Tudo bem, mas quando as pessoas precisam dessas políticas e votam na Dilma para preserva-las, aí é porque o voto delas é comprado, né? Aham, senta lá, Cláudia…  Não sei se por cacoete da profissão, mas a gente deve sempre tentar enxergar o outro lado para entender e respeitar melhor as diferenças e tentar medir o alcance do que dizemos. Se eu digo que a pessoa que tem conforto não pode estar dando palpite na questão social, eu tenho que forçosamente admitir que eu, favorecido pela sorte, também não posso dar palpite, e, ao mesmo tempo, que a pessoa que não tem tanto conforto, essa sim, teria legitimidade para dizer e escolher aquilo que lhe é mais sensato. Parece claro? Pois é, mas tem gente que ainda chama os outros de esquerda caviar e esnoba o voto de quem precisa de programas sociais como se fosse de menor estirpe ou qualidade. Noves fora a arrogância de achar que seu voto é mais qualificado do que o dos outros. Mais um pouco e vão passar a defender o voto só pra quem tem nível superior – ou mesmo como era antigamente: voto, só pra dono de engenho…

Mas há um outro argumento estúpido, como eu mencionei: “Ah, meu caro, mas você mora longe, é por isso que você vota no PT, não sabe como as coisas aqui estão”, como se eu não tivesse apenas 3 anos de exílio, como se não lesse jornais ou visitasse o país de quando em quando. Mas esse argumento é ainda mais ridículo do que o primeiro: primeiro, porque veicula a idéia forçosa de que a pessoa provavelmente reduziu sua capacidade de análise porque emigrou, quando, imagino eu, quem imigra, via de regra, aprende mais sobre si mesmo e sobre suas origens do que quem nunca o fez.

Mas, no meu caso, a coisa ainda é, ironicamente, mais engraçada – não que eu acho que o argumento (esse de mora-fora-fica-quiet0) tenha legitimidade, mas, ainda que tivesse, em boa parte dos casos ele provaria a tese contrária. Quer ver?

A pessoa acha que o imigrante vive no luxo, que reclama de barriga cheia, e que fala da miséria dos outros bafejando um charuto cubano. É falácia. Como imigrante, tive a sorte de me mudar pra um país onde quase todos usam transporte público, vivo em um apartamento com menos da metade do tamanho do que morava no Brasil, pago uns 30-40% a mais de impostos, e não deixei de ser de esquerda. Pelo contrário: percebi que não quero uma humanidade onde muitos tenham Mercedes, mas que todos tenham dignidade e chance. No Brasil, há esse ranço de que, se a pessoa for privilegiada, deve manter o privilégio e não se doer por quem não os tenha. Foi assim com a lei das empregadas domésticas, onde a pergunta “quem vai passar minha roupa?” pareceu ter mais importância do que “é justo fazer alguém trabalhar sem hora extra por 12, 13 horas ao dia?”. Assim, a postura da direita é: “fica quieto, você não pode ser de esquerda, você tem tudo”.

Eu era privilegiado no Brasil, muito embora provavelmente deveria ter o mesmo padrão de vida de um norueguês médio e proletário. No entanto, tão pouco no Brasil era sinônimo de privilégio (um dia fui pegar um ônibus e um conhecido não conseguiu disfarçar a pena por ver a mim, jovem “talentoso”, ter que pegar transporte público). Como dizia um querido professor de história, “temos que socializar a riqueza, e não a pobreza”. Concordo: penso que o mundo seria bem melhor se todos tivéssemos as mesmas oportunidades, as mesmas chances; que enxergássemos que as necessidades que não temos, outros as têm de monte, e que desejássemos para os outros aquilo que temos,  – inclusive, conforme for o caso, o tal do caviar… 😉

22/09/2014
por francis
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Maratona de Oslo 2014

Ando meio ocupado para postar coisas, o que é uma pena, porque coisas não param de acontecer… 😉

Mas não poderia deixar de mencionar que sábado passado foi dia de maratona aqui em Oslo, e eu corri novamente. Para minha surpresa, fiz meu melhor tempo em maratonas – 3:05:48, e bati meio tempo de 2011, até então o meu melhor.

Foi minha 12a maratona, e estou muito feliz por ter superado mais esse desafio. Agora é continuar treinando! 😀

15/07/2014
por francis
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Período Eleitoral Hipócrita

Ontem eu disse aqui que preferia que características mais “humanas” de candidatos me interessavam mais do que os velhos rótulos do tipo “honesto” e “competente.” Assim, se disserem que um candidato é “cachaceiro”, “cheirador”, “mulherengo” ou coisas assim, ficarei mais interessado em conhecer melhor o candidato porque soa mais autêntico – não porque essas características sejam necessariamente desejáveis.

Ando por busca de autenticidade. Acho que andamos todos. Mas na época eleitoral, nos perdemos na torcida.

Vejamos a copa como objeto das discussões dos candidatos: a oposição diz que o governo é oportunista com a copa. A mesma oposição que previa que a copa seria um fracasso, uma vergonha. Como se o governo não pudesse se louvar de uma obra sua. Ou seja: querem que o governo seja culpado por tudo o que deu errado, mas não querem que seja parabenizado por aquilo que deu certo.

Mas a hipocrisia não escolhe lado: Aécio Neves foi criticado por ser contraditório, já que criticou o tal “oportunismo” do governo e teria vestido a camisa da seleção. Caramba, o que é que a camisa tem a ver com as calças? Quer dizer que ele, como brasileiro, não poderia usar a camisa da seleção que seria inafastável oportunismo? Gente, a superficialidade das análises e o julgamento do irrelevante são de surpreender. O comportamento de Aécio ao criticar o governo foi hipócrita, mas não por ter usado a camisa da seleção. Os mesmos que o criticam por isso o criticariam se ele não tivesse usado a tal camisa: diriam que ele é derrotista. Ou seja: as pessoas não humanizam mais as coisas; agem como se tudo tivesse uma segunda intenção, como se as pessoas não tivessem interesse legítimo naquilo que fazem ou, quando o tem, acham que esse interesse é mero oportunismo. É como se Aécio torcer pela seleção não fosse normal, e como se o governo se beneficiar do sucesso da copa também não o fosse.

E assim começamos o período eleitoral: com a velha argumentação rasteira, com a perda de tempo em discussões inúteis, sem que nenhuma proposta concreta seja conhecida ou debatida.

14/07/2014
por francis
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Argentina e nosso próprio opróbio

Vi muita gente escrever no Facebook sobre grosserias feitas por torcedores argentinos durante essa copa do mundo, e compreendo a insatisfação. De desfilarem com uma coluna vertebral em tosco deboche em relação a Neymar a queimarem a bandeira do Brasil… em pleno Brasil, os argentinos não foram exemplo de bons convidados.

Razões não faltaram, assim, para torcer pela Alemanha, cuja seleção se comportou decentemente no Brasil – antes e depois da vitória. Se isso não for suficiente, a vitória possivelmente comprada dos Argentinos sobre o Peru em 78 ou o possível doping que Maradona admitiu terem aplicado na seleção brasileira em 1990, ou ainda as músicas racistas que entoavam no passado contra o Brasil, com certeza impede que qualquer um tenha um pingo de simpatia pela seleção do país vizinho, noves fora o fatídico gol de mão.

Mas questiono eu, que gosto de questionar coisas: um país feito com gente grosseira que vai a um estádio xingar uma presidente ou que reduz a crítica a um candidato a xingá-lo de “cheirador” (o que, se for verdade, merece compreensão, porque hoje em dia procuro características de candidatos que o tornem humanos, e não seres pasteurizados, sem manchas, lavados com Omo Dupla Ação®) tem lá muita moral pra exigir civilidade dos dito cujos? Nós, que nos comportamos mal em quase qualquer oportunidade, podemos falar muita coisa?

Não que eu ache que devemos relevar a incivilidade dos argentinos. Devemos, sim, é não esquecer da nossa. Torço contra a Argentina porque a natureza me impede de torcer contra o Brasil, porque penso que é preciso muito sangue no olho pra torcer contra o próprio país. Mas não vamos nos esquecer que nosso telhado é de cristal. E que a grosseria deles nos inspire a deixarmos a nossa, porque a coisa toda é vergonhosa.

 

 

 

24/06/2014
por francis
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MidnightSun Marathon

Desde quando comecei a me interessar por maratonas, lá pelos idos de 2009, ouvia falar da maratona do Sol da Meia-Noite, em Tromsø, na Noruega, até por já ter morado no país anos atrás. A proposta é correr à “noite” no dia mais longo do ano, quando o sol não se põe. Isso por si só já tornaria a maratona exótica e atraente.

Mas há mais que isso: a cidade de Tromsø oferece um visual tremendo, o que, pra quem consegue admirar alguma coisa enquanto ofegantemente se arrasta quilômetro a quilômetro, é sempre uma boa motivação para correr.

Eu confesso que fui um pouco desleixado dessa vez: não considerei que o tempo em Tromsø nessa época do ano é imprevisível. Ano passado, por exemplo, a temperatura estava em torno de 15 graus – excelente para uma maratona – embora eu particularmente prefiro acima dos 20. Nesse ano, a temperatura ficou em torno de 6 graus. Isso não seria problema, porque eu estou acostumado a correr de camiseta em Oslo em temperaturas semelhantes. O problema é que lá ventava muito, dando a sensação de estarmos a 0 grau, ou algo assim. Eu fiquei nervoso o dia inteiro, pois não sabia se deveria usar uma jaqueta corta-vento, ou se deveria correr com a roupa com a qual já estava acostumado.

Decidi, então, pelo meio-termo: usei apenas uma camisa de corrida, mas, dessa vez, de manga comprida. Na verdade, acho que não fez diferença, pois o corpo estava logo aquecido e corri confortavelmente. Claro, usei uma luva, porque, se por um lado sou pé quente, por outro lado sou mão fria. Haha, sem graça.

Mas enfim, a prova foi linda, mas teria sido ainda melhor se o céu estivesse claro. A paisagem é muito bonita, com montanhas com topos cobertos de neve à vista durante quase todo o percurso. Teria sido maravilhoso ver aquilo sob céu azul, mas não deu. O percurso é bem plano, com umas subidinhas aqui e ali, mas nada desafiador – exceto a ponte que conecta a ilha onde fica boa parte da cidade ao continente, onde a subida é mais longa.

Essa deve ser a mais conhecida prova de atletismo da Noruega – fora da Noruega. Vi muitos estrangeiros, e nem na maratona de Oslo vejo tantos participantes internacionais. Entre as provas realizadas no mesmo dia – maratona, meia, 10k e outras pra crianças – éramos 58 brasileiros. Quer dizer, 57, porque, por algum motivo, a organização do evento me colocou como norueguês, mesmo tendo informado minha nacionalidade corretamente.

Mas a participação do Brasil não se resumiu à corrida: eram muitos os brasileiros na torcida, mas nada igual ao entusiasmo dessa brasileira. A reportagem está em norueguês, mas basta ver o vídeo pra perceber. 🙂 Enfim, brasileiros animando o mundo das corridas. Aliás, na maratona de Oslo do ano passado, a escola de samba Unidos de Oslo (ou foi o grupo Sambaladies?) também animou o percurso.

Quase não treinei durante o semestre passado. Entre 20 dias no Brasil, gripe que me tirou do treino por uns 10 dias e outros percalços, acabei não me preparando bem para essa prova. O resultado – 3h24m41s – foi melhor do que eu esperava, considerando o tempo, mas já começo a ficar chateado, pois já se vão quase 2 anos desde que completei a prova abaixo de 3h15. Está na hora de voltar a ter seriedade nos treinos, mas é difícil sem os amigos corredores com quem treinava em Conquista.

Depois da prova, acredito ter tido hipotermia. Uns 5 minutos após a chegada, comecei a tremer de frio, e apressei minha volta ao apartamento. Chegando em casa, corri pro chuveiro e fiquei uns 15 minutos debaixo da água quente. Ao desligar o chuveiro, voltei a tremer de frio. Olhei no espelho, e os lábios estavam azuis! Voltei pro chuveiro e a água quente começou a esfriar após alguns minutos. Aí fiz logo um chá e corri pra debaixo da coberta. Só depois é que comecei a ficar mais tranquilo.

Trata-se de uma maratona exótica, mas muito bem pensada e que conta com excelente apoio dos moradores. Quase todo mundo ia pra porta de casa para dar apoio aos corredores – foi talvez uma das maratonas com mais apoio popular nas ruas que já vi. O apoio era tanto que tinha trechos onde o tráfego de veículos não era interrompido, pois os motoristas iam super devagar, parando para os corredores. Diferente de Curitiba, por exemplo, onde vi motoristas quase que jogando o carro pra cima dos corredores, com visível mau humor pelo transtorno do trânsito interrompido aos domingos.

Enfim, um sonho realizado é sempre bom. Foi minha 11ª maratona, e por enquanto tem sido bom manter a idéia de correr 2 maratonas por ano. Penso em mudar para meia-maratonas, porque depois da prova dá pra farrear um pouquinho. Mas, por outro lado, uma maratona é sempre uma maratona. Sacrificante, dolorida, suada, mas sempre recompensadora. Vamos ver. 🙂

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26/03/2014
por francis
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Data centers no Brasil e a aprovação do Marco Civil da Internet

Depois de muitos percalços, incluindo a chantagem do PMDB, foi aprovado ontem pela Câmara dos Deputados o projeto que cria um Marco Civil para a Internet. Foi um avanço muito grande. Com o advento da internet, juízes, promotores e advogados acabavam tendo que aplicar regras de direito tradicionais que não são definitivamente apropriadas para a realidade digital.

É de se lamentar o atraso e o equívoco de como alguns assuntos foram tratados na discussão do projeto: desde o ano 2000 a União Européia já dispunha de legislação específica para disciplinar um assunto tão básico quanto a responsabilidade por conteúdo postado na internet.

Mas o pior é o velho complexo de vira-lata: Quando a Presidenta Dilma Rousseff reagiu à espionagem americana praticada pela NSA, propondo que fosse incluída no projeto do Marco Civil a obrigatoriedade de instalação de data centers no Brasil pelas empresas que coletam dados de cidadãos Brasileiros, houve uma revolta geral e muitos “especialistas” começaram dar opiniões de que isso seria impraticável. Elio Gaspari, da Folha de São Paulo, chamou a proposta de “empulhação” e “parolagem”.

Tais opiniões refletem o tamanho do complexo de vira-lata de alguns brasileiros ou a submissão de grande parte dos formadores de opinião aos interesses estrangeiros ou econômicos. E raramente se ouvia a opinião de alguém da sociedade civil sobre o assunto.

Um argumento comum nos links acima seria o do custo: as empresas não arcariam com tais custos. Balela. Um país que figura em terceiro lugar em número de usuários do Facebook seria um mercado nada desprezível para qualquer empresa.

Esse mesmo tipo de chantagem econômica aconteceu quando a Europa implantou, já em 1995, a Diretiva de Proteção de Dados Pessoais. Essa norma, que foi implementada por todos os países membros da UE, proíbe a transferência de dados pessoais de seus nacionais a países que não ofereçam proteção adequada.

Os EUA, então, tiveram que correr atrás para firmarem um acordo com a Europa para que companhias que processem dados de europeus ofereçam o mesmo nível de proteção que sua legislação objetiva oferecer a seus cidadãos.

Agora é impressionante que ninguém tenha visto nenhuma menção a esse importante paralelo. Não que instalar data centers no Brasil seria exatamente a mesma coisa, mas a idéia de impedir que dados de brasileiros sejam coletados e processados no estrangeiro não é estapafúrdia e nem é inédita no mundo.

Triste ver que a Europa é vista como modelo no que se refere a legislação de proteção a dados pessoais e que, quando se implementa algo nesse sentido no Brasil, só se vê o velho complexo de vira-lata misturado com a velha submissão a interesses econômicos estrangeiros.

Perdemos a oportunidade de começar a implementar um regime de privacidade de dados, ainda que por meio de marco regulatório diverso.

Agora, ironia maior: já a diretiva européia de retenção de dados enfrenta críticas e inclusive tem sua constitucionalidade atacada em alguns países membros, por supostamente violar alguns direitos e garantias individuais. Aí sabe o que o se faz no Brasil? Implementa-se a obrigatoriedade de retenção de dados no Marco Civil!

Não é que eu não seja contra a retenção de dados – pelo contrário. Só quem já passou pelo desgosto de ser vítima de difamação na internet sabe como é ruim bater de cara com o provedor de serviços, que afirma que os dados da conexão de onde partiu a agressão já foram apagados. O assunto é mais complexo, pois há proteção de privacidade envolvida.

Agora vejam: as companhias internacionais que têm usuários no Brasil, cujos dados não serão armazenados no Brasil por força da retirada dessa obrigação do projeto do Marco Civil, não estão necessariamente sujeitas a uma legislação que, curiosamente, determina que mantenham os dados armazenados! Claro, essa é uma análise superficial, pois os provedores de conexão, por exemplo, estarão no Brasil e terão que cumprir a lei. O Marco também tenta definir a responsabilidade de empresas estrangeiras que tenham clientes brasileiros. Mas essas empresas poderão estar sujeitas a regulação de seus países que… podem inclusive proibir tal retenção!

Enfim, muito a comemorar o Marco Civil da Internet. Mas, infelizmente, é digno de pena nosso complexo de vira-lata.

 

17/01/2014
por francis
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Alfândega e política industrial

Antes de escrever esse post, tenho que fazer duas advertências: uma, a de pedir escusas se o post parece algo tipo mais-um-post-de-emigrado-metido-a-besta-porque-mora-no-exterior. Não é. Tenho consciência que morar fora tem qualidades e defeitos, que o Brasil nem é tão ruim quanto achamos, nem tão bom quanto gostaríamos. Sei que muita gente que emigra ou não consegue se adaptar fora e acha que tudo no Brasil é melhor, ou começa a desancar tudo o que é brasileiro, como se fôssemos o pior dos povos. Eu (acho) que estou no meio termo nesses extremos.

A outra advertência é que não entendo nada de economia, sempre achei que o Brasil deveria defender sua indústria, mas começo a perder a paciência com nosso empresariado. Não sei se abrir a economia totalmente é o ideal, mas também não estou seguro que o nosso protecionismo está nos levando a algum lugar.

Explico, agora, o motivo do post e das advertências: no Brasil, eu costumava vez por outra comprar alguma coisa que precisava no eBay. Não só por causa do preço, mas porque em Conquista simplesmente era difícil achar coisas como uma lente para uma máquina fotográfica, ou um adaptador qualquer para o Mac. Infelizmente, no Brasil, algumas coisas só se conseguem via eBay ou via “Feiras do Paraguai”. Normalmente, as encomendas pelos Correios demoravam de 20 a 30 dias (com alguma sorte, eu recebia algo em 15 dias), e tinha que ir retirar no correio e pagar aquele imposto maravilhoso que às vezes era 60%, às vezes era 60% + ICMS.

Aqui na Noruega comprei coisas fora do país algumas vezes. Quase nunca vale a pena, pois o preço local é quase sempre o mesmo do preço pago no exterior acrescido do imposto (que aqui é VAT, e quase tudo tem imposto de importação zerado). Mas às vezes é mais fácil comprar fora do que aqui, pois nem sempre sei onde achar determinado produto ou o frete às vezes é caro, mesmo sendo doméstico.

Mas semana passada me espantou: pedi algo pela internet, e demorou um pouquinho mais do que o habitual. Já recebi produto da Amazon aqui em 3 dias. Esse produto demorou 15 dias, mas considerando que pedi após o natal, e considerando os problemas climáticos dos EUA, até que dou o desconto.

O que me impressionou, porém, foi a eficiência alfandegária. Ao chegar na Noruega, normalmente o produto só fica na alfândega por um dia ou menos. Dessa vez, ficou dois dias, e eu estranhei. No terceiro dia, recebo em casa uma comunicação do correio: é que o produto veio sem recibo, eles não tinham como calcular o imposto. Veio, então, um link para que eu entrasse na internet e enviasse o recibo escaneado. Isso foi 5:30 da tarde. Às 7:30 da manhã a alfândega liberou. No dia seguinte, estava à minha disposição nos correios.

Não me senti como se quisessem me punir por ter comprado fora, não me senti desestimulado a fazê-lo, pelo contrário. Comprar pelo correio no Brasil é sempre duvidoso: a gente não sabe se recebe, não sabe quanto tempo a alfândega vai demorar, não sabe qual critério tributário vão aplicar…

O VAT aqui pra produtos eletrônicos é de 25%. Economizei em relação a ter comprado aqui. Vejo que, na Noruega, não fazem eles tanta questão de proteger uma indústria de mão-de-obra barata. Funciona em um país de menos de 5 milhões de habitantes. Funcionaria no Brasil?