Durante alguns momentos de auto-indagação (profundo isso), cobro de mim mesmo a volta do hábito da leitura. Eu, outrora devorador de livros, fui estragado pela TV por assinatura e pela internet.
Mas estou tentando aos poucos retornar ao hábito. Só que fui infeliz ao escolher o autor: José Saramago. Um camarada que escreve um parágrafo que dura 10 páginas não teve, com certeza, o Prof. Jorge Augusto como mestre de redação… eheheheheh Se bem que se eu tivesse tido contato com Saramago em tempos escolares, teria uma desculpa quando o Prof. Jorge Augusto reclamasse do tamanho dos meus parágrafos… Bom, o José Saramago emenda um diálogo inteiro, ou vários deles, em um só parágrafo. É interessante, há outros autores que fazem isso, mas talvez a forma de se falar português de Portugal torne mais complicado acompanhar os diálogos dele. Agora, justiça seja feita: os diálogos são realistas. É difícil ver diálogos verossímeis na literatura. Talvez só Machado de Assis e Graciliano Ramos e olhe lá. A maioria dos diálogos dos outros autores é feita de uma forma que se torna difícil acreditar que pessoas disseram aquelas coisas, com aquelas palavras, a outras pessoas. Aliás, por falar em falta de verossimilhança, um cara que assinou os canais eróticos da Net disse ao meu primo Fabrício que já tava enjoado dos filmes pornôs – exceto os nacionais. E por que não dos nacionais, perguntou Fabrício a ele? Aí ele disse: Ahhh, os diálogos… são fantásticos… 😀 Voltando a Saramago: estou lendo (ainda) “O Homem Duplicado”. O livro é bom, o Saramago é incrível, mas os parágrafos… precisavam ser tão grandes?
Uma coisa que sempre admirei em quem lê muito é sempre ter uma citação na ponta da língua. Eu, mesmo sempre tendo sido um leitor voraz (em tempos de outrora, já disse), nunca consegui ter essa capacidade, esse olho clínico para enxergar as citações de impacto. Aliás, enxergar, até que as enxergava – mas nunca as decorei para usar depois. E o Saramago é fantástico também nas citações – incrível a quantidade de axiomas que ele forma e nos mostra nos diálogos dos seus personagens. Uma que decorei, que foi o motivo desse post, é a seguinte: “Temos tanto para dizer quando estamos calados…”. Legal, né? Acho que é por isso que eu falo demais: devo ter muito pouca coisa para dizer…
20/12/2004 em 16:33
Olha, adoro Saramago. Mesmo com seus capítulos extensos. Assim conseguimos manter uma conexão perfeita do pensamento do autor. Frases e construções curtas ficaram para o cinema. Mas a literatura exige esse exercvício de construir, desconstruir e reconstruir todas as possibilidades do pensamento. Talvez seja essa a explicação da prolixidade de Saramago. E ler e refletir esse poeta do mundo real faz-se necessário muitas palavras. Mas adorei seu comentário, vc me fez rir num dia que eu estava totalmente “no chão”.
Que venha os Saramagos, com seus comentários e suas palavras mágicas.
20/12/2004 em 16:40
Wow, foi o comentário mais cabeça que esse blog já teve! 🙂
Bom, eu confesso que continuo achando que usar travessões para demarcar falas ao invés de pontos continuativos teria a grande vantagem de quebrar os parágrafos e ao mesmo tempo manter o fio da meada. As frases, estas não me importa que sejam longas. O problema são os parágrafos! Eles são imeeeensos. Mas, sim, devo dizer que fiquei satisfeito com o livro. As últimas 30 páginas causaram-me aquela sensação do soco no estômago. Vou ver se leio Memorial do Convento.