28/04/2012
por francis
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A exceção do terrorismo

Esses dias têm sido um tanto difíceis para a Noruega. Talvez com a esperança de que o julgamento do terrorista cujo nome não se deve pronunciar, as pessoas aguardam com muita atenção o resultado. Há uma necessidade de um fechamento justo para isso, mas é como se o julgamento e todo o período compreendido entre a tragédia ocorrida em 22 de julho de 2011 e a sentença fossem parte de um processo de purgação do povo desse país.

Eu não entendo nada de Direito Penal, muito menos de criminologia. Mas enquanto meu amigo Eduardo Viana não escreve nada sobre o assunto, escrevo eu.

Eu usei a palavra “purgação”, e não sei se foi a mais apropriada. Mas o que quero dizer é que nós, no Brasil, não temos um processo de purgação dos crimes. Um exemplo claro disso é o que ocorreu no caso do assalto ao ônibus 174. A sociedade mal teve tempo de refletir, mas o mal já estava “purgado”. Nosso país, infelizmente, parece precisar de vingadores, porque nós mesmos não nos identificamos com o papel de um sistema judiciário que construímos e que não funciona como deveria.

Tinha escrito um longo, enorme post a respeito. Não vou mais fazê-lo. Mas não consigo me desapegar da idéia que essa situação é tão excepcional que deveria ser pensada com cuidado. Igualar a morte de 77 pessoas ao homicídio tal como consta no Código Penal é algo que não consigo assimilar. Expus minhas razões anteriormente, mas talvez ter perdido o post seja um sinal de não devo ter a arrogância de dar palpite em seara que não é a minha.

16/04/2012
por francis
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Maratona de Paris

Ontem corri minha sétima maratona, desta vez em Paris.

Muita gente torce o nariz quando eu digo, antes da prova, que estou com medo de correr a maratona, ou quando digo que, aos 30km, sempre me pergunto o que estou fazendo ali. E o motivo para tal incredulidade é que muita gente não entende que cada maratona é única, e imprevisível.

Não sei quanto aos outros atletas, mas tudo pode influenciar uma corrida – desde um alarme que não tocou no horário correto, até esquecer de descansar o suficiente alguns dias antes da prova.

Eu fiz um ótimo tempo nessa maratona – 3:13:48, mas não foi melhor do que a prova de Oslo no ano passado, onde corri minha melhor prova. Não tenho uma explicação satisfatória: terá sido o inverno, que não me deixou treinar como gostaria? Terá sido a alegria de finalmente encontrar amigos do Brasil (e de Conquista!) depois de 8 meses de exílio? Teriam sido as caminhadas em Paris, uma cidade absolutamente fantástica? Enfim, não acho que vou achar nada que explique. Vou treinar mais distância daqui pra frente, e tentar enxergar essa prova pelo que ela significou: uma oportunidade de correr no percurso mais bonito que já corri.

A organização da prova foi impecável. O chato foi o frio – cerca de 5 graus. Mas foi uma excelente corrida, e estou feliz por ter lá ido, apesar de ficar um pouco triste por não correr em Zurique, onde tudo começou, semana que vem. Será a 10ª edição da prova, e  seria muito legal participar.

Paris, com certeza, deixa marcas na gente. Estou com muita saudade de lá, apesar de ter ficado apenas 3 dias na cidade. Mas um dia eu volto…

11/04/2012
por francis
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Gravação de policiais e servidores públicos

Lembro-me uma vez que, ao filmar uma diligência efetuada por policiais militares, em uma suspeitíssima operação realizada às vésperas de eleição – o caso merece um artigo dedicado ao episódio – alguns dos policiais intimidaram ao cinegrafista para que parasse com as filmagens, alegando um suposto “direito de imagem”.

A equipe, na época, ficou muito assustada, porque ninguém gostaria de enfrentar policiais, muito menos da CAESG, conhecidos que são, digamos, pela “contundência” com que agem. (Aqui não vou emitir uma crítica à classe em geral, até porque, amigo que sou de alguns dos policiais da corporação, sei que muitos são gente de bem, estudiosos, muitos graduados em direito e cônscios dos seus direitos e deveres. Mas sei também que muitos não alisam, e que outros extrapolam). Pois bem: à época, eu disse que fossem buscar o tal “direito da imagem” na justiça. Não sei se eles se referiam ao direito objeto do Art. 20 do Código Civil, ou ao direito à privacidade e à honra previsto na Constituição Federal. À época, eu dizia que, como entes estatais, ali não estavam em um contexto de privacidade, mas sim no desempenho de uma função pública, função essa que está sujeita ao controle não só do próprio Estado, mas também da sociedade.

Pois bem: os EUA não são um país que defende com unhas e dentes a privacidade – lá, a liberdade de expressão tem uma proteção maior, garantida constitucionalmente. Porém, esse artigo me interessou porque a justiça americana de segunda instância entendeu que é lícito a filmagem de operações policiais, e a polícia não pode interferir no trabalho da imprensa ou de terceiros que registram as operações.

Seria muito bom que os policiais, ou todos os agentes públicos, agissem sempre pensando que estão sendo filmados. Assim, teríamos uma polícia com “accountability”, que prestaria contas à sociedade, que não vivesse em uma retaguarda, sempre assumindo que a defesa de direitos humanos significa a negação do trabalho policial.

10/04/2012
por francis
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Cabelos brancos

Oficialmente, tenho cabelos brancos.

Não que não os tivesse antes. Mas é que hoje, ao cortar os cabelos, vi alguns fios inteiramente brancos caírem, como se me dissessem que chegaram pra ficar, que não adianta pensar que eu ficaria nos marotos fiozinhos meio-cinza-meio-pretos que há anos vinham e iam. Não. O exército chegou. Claro, a nação de cabelos negros ainda continua a dominar o território, mas sei que a guerra será fatalmente perdida. Quantos anos ainda restam à soberania destes guerreiros? Por quanto tempo ainda serei jovem?

Aliás, a pergunta não deixa de ser idiota, porque não imagino que cabelos pretos ou brancos queiram dizer nada mais ou menos do que o que já é dito em letras Arial na minha cédula de identidade. E, nesse sentido, lembro que o lado da minha avó começava a ter cabelos brancos aos 20, 21 (dessa escapei). Já o lado do meu avô, vejo-os com cabelos impecavelmente negros até certa idade.

Mas o fato é que talvez os tais cinzentos estejam avisando, ou melhor, lembrando, de que essa breve vida já está um tanto passada, e que é melhor refletir sobre o que fazer nos anos vindouros. Agora, sabedoria para fazer isso, que é bom, nada. Ou seja: asseguro: os tais cabelos brancos não trazem sabedoria. Na verdade, são um certo deboche à nossa já perdida luta contra o tempo, que a todos nós há de consumir.

E diante dessa fatalidade, alguém me responde qual mesmo o sentido disso tudo?

(P.S. O corte ficou uma bosta, se querem saber. Foi o segundo pior corte de cabelo da história, o que não deixa de ser um consolo, considerando isso aqui.)

30/03/2012
por francis
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Livros que li: The Immortal Life of Henrietta Lacks

Livro sobre Henrietta Lacks, americana, pobre e negra, cujas células cancerígenas foram utilizadas, sem consentimento seu ou da família, para pesquisas. As células dela eram (são) especiais porque continuaram a se reproduzir em cultura.

Livro interessante.

Autora: Rebecca Skloot

18/03/2012
por francis
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Eu adoro Oslo! :)

Hoje fiz a corrida que considero não unicamente parte do treinamento para uma maratona, mas sim a corrida check-up: os 30km. Completou os 30km? Sinal que tá pronto pra uma maratona. Não sei se é psicológico, mas é como acho que funciona. Um mês antes da prova, 30km é garantia de sucesso, ainda que sejam 30km meia-boca.

Hoje foi um dia de recordação. Lembro que, na primeira vez que corri 30km, na noite anterior, comi panquecas (e destruí o jardim dos amigos ao estacionar o carro). Hoje, não destruí jardins, mas comi panquecas, e acho que nenhuma comida é melhor para dar energia em um longão! 🙂

Com ou sem panquecas, a Maratona de Paris está chegando. Não acho que vou quebrar o tempo que fiz em Oslo, mas acredito que será uma excelente corrida, ainda mais porque alguns amigos de Conquista também vão pra lá, e vou poder matar um pouco de saudade.

Adoro correr em Oslo. O trajeto em alguns pontos da costa é muito bonito. Se não é perfeito correr com 5 graus de temperatura, pelo menos é bom correr sem stress, sem ter que ficar se preocupando com carros passando por cima da gente, já que aqui muita gente também corre e há muitas pistas para pedestres.

Segue um mapinha do percurso.

do centro de Oslo a não-sei-onde-só-sei-que-é-bonito

 

17/03/2012
por francis
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Revisão do “Direito de ser esquecido”

Eu escrevi aqui há algum tempo atrás sobre o “Direito de Esquecer”. E, por essas coisas da vida, acabei tendo um trabalho da faculdade a respeito do assunto, já que a legislação européia está incorporando tal direito, dando a oportunidade a quem tiver seus dados pessoais transitando pela internet requerer que tais dados sejam apagados.

Claro, a norma tem exceções, e não vou entrar aqui nelas, nem em uma análise do assunto (já o fiz para a faculdade). Mas tem algo meio filosófico nisso tudo: se a busca da humanidade é eternizar-se através dos nossos atos (já que não temos corpos nem vida eterna), para que mesmo queremos um direito de ser esquecidos?

O autor do livro mais comentado sobre o assunto argumenta que os seres humanos são programados de fábrica para esquecerem, e que a internet se tornou uma máquina que não deixa nada escapar. O problema nessa análise, penso eu, é que a humanidade sempre lutou para lembrar. A história é feita de lembrança. Esse controle seletivo do que esquecer me deixa preocupado, como se fôssemos donos da história – da nossa ou da dos outros.

Digo para os meus colegas de mestrado que, se ontem o espaço de convivência social era a praça, hoje é o Facebook, é o Twitter. E se tivermos um direito de apagar isso seja por capricho ou por conveniência, poderemos estar deletando parte de nossa história. Na verdade, eu senti isso um pouco na pele. Apaguei minha conta no Orkut, alguns anos atrás, quando aquilo virou uma profusão de baixaria. Mas esqueci que uma parte da minha história estava ali. Ex-namoradas, depoimentos de amigos que hoje estão mais distantes, os tais “scraps”, comentários nas fotos… E isso hoje está perdido, ou talvez inacessível em algum servidor do Google.

Sob a desculpa de proteger a privacidade e a descontextualizações dos dados pessoais (o exemplo clássico é de uma professora que foi demitida porque uma foto sua com um drink na mão foi descoberta por seus chefes, que consideraram tal foto um mau exemplo), acabamos mimados com a possibilidade de litigância para proteger dados que nós mesmos postamos. Acho que o caminho, em uma internet arisca a regulamentações, seria:

– surgimento de campanhas educativas a fim de que os mais jovens entendam as consequências de se postar algo na internet, algo que poderá nunca ser esquecido;

– o desenvolvimento de uma mentalidade mais humana, menos hipócrita, e que entenda que todo mundo é gente, e que todos fazemos algo de tolo, de bobo ou de que, em um momento privado, nada tem de mais. Li um artigo fantástico sobre isso, e recomendo a leitura para que conheçam mais essa linha de raciocínio.

10/03/2012
por francis
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SOPA Brasileiro

Para quem pensava que o SOPA estava morto, olha ele aqui, dessa vez por conta de um deputado brasileiro:

 

http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=535988

É preciso começar a lutar contra isso JÁ, e não deixar que o lobby dos grandes conglomerados de mídia vençam isso por aqui.