07/03/2012
por francis
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Referências bibliográficas no Mac e iPad

(post dedicado à minha amiga Bia Kunze, que sempre tenho como não só como destinatária principal, mas sobretudo como inspiração, quando falo de qualquer coisa relacionada à mobilidade)

Bom, como quem acompanha o blog sabe, estou agora em incursões acadêmicas. E, exceto por ter completado o nível superior, nunca me atentei para o mundo e linguagem próprios da academia. E esse mundo novo (pra mim) trouxe consigo algumas exigências típicas: uma delas, a questão das referências bibliográficas. Quem já escreveu monografia (não foi o meu caso), tese, dissertação de mestrado, etc., sabe o quanto é difícil coletar as referências bibliográficas e apresentá-las em um formato pré-definido pela instituição.

O que eu não sabia é que existem programas específicos para ajudar o escritor. Pode-se, claro, usar o próprio processador de texto, que costuma ter (no caso do Word, por exemplo) uma ferramenta própria para gerenciar referências e citações. Mas, fora disso, os programas começam na casa dos cem dólares e o céu é o limite…

O aplicativo campeão para isso é o EndNote. Disponível para Mac e para Windows, é adotado por muitas universidades pelo mundo. Porém, o mundo moderno de quem usa iPad, Kindle, etc., acaba fazendo do EndNote algo meio anacrônico. Se é poderosíssimo como ferramenta para centralizar as referências, peca pela falta de integração com dispositivos móveis.

Um parêntese aqui: muitos dos artigos que estou lendo são em PDF. E adquiri um costume do Kindle, que, curiosamente nunca usei em livro de papel: passei a marcar os textos que me interessam, e a adicionar comentários. Isso é possível em PDF, mas, como uso o iPad (que, provavelmente, é o melhor leitor de PDF que existe, por conta da tela fantástica e por causa da portabilidade), tive que buscar algumas ferramentas. Testei o iAnnotate, mas acabei ficando com o GoodReader, que integra lindamente com o DropBox.

Pois bem: uma colega da faculdade me falou do BookEnds, mas não me pareceu legal a integração desse com o iPad. Dei de cara com o Sente, que me motivou a escrever esse artigo.

O Sente é bem elegante, tem uma interface própria para Mac (o EndNote, segundo dizem, tem jeitão de Windows), e tem um aplicativo pra iPad que sincroniza lindamente com o Desktop, e permite, no próprio aplicativo, fazer marcações e anotações em PDFs.

Só acho ruim o fato do Sente ser mais centralizador do que… bem, do que deveria. Gostaria de poder continuar usando o DropBox, mas o Sente é bastante agressivo, até bloqueando salvar suas libraries no DropBox. Ele até permite que os PDF’s continuem em um folder qualquer, inclusive no DropBox, mas a experiência fica limitada.

Assim, quando volto para o Desktop, tudo o que grifei nos PDFs está lá, lindamente catalogado, pronto para ser inserido no texto do documento que estou a escrever, seja no Word, seja no Pages, seja em vários outros processadores de texto para Mac. Aliás, o Sente é bem centrado em Mac, portanto integra com quase todo processador de texto dessa plataforma.

O chato é que esses programas quase nunca têm uma forma legal de catalogar legislação (essencial para quem lida com Direito), nem para ajudar a citar livros eletrônicos do Kindle. Mas não se pode ter tudo, não é?

O Sente está disponível para testes, o que, infelizmente, não é o caso na versão para iPad (tem até uma versão gratuita, mas sem muitos recursos). Tem preços razoáveis para estudantes. Vale a pena!

UPDATE: NÃO confie tanto no Sente para suas referências bibliográficas!!!! Após um uso pra valer nessa semana, o programa perdeu todas as referências às páginas que fiz no meu texto. Tive que digitar uma por uma de volta. O programa, de vez em quando, apresenta um bug que não reconhece mais um tag, e aí você não consegue mais atualizar uma referência que modificou no Desktop. Passei uma raiva danada ontem tentando consertar o estrago – umas 30 citações tiveram que ser corrigidas na mão. Acho que vou experimentar EndNote+GoodReader. 

03/03/2012
por francis
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Sobre o endurecimento do Brasil com os turistas espanhóis

Sei que um relato pessoal não explica algo tão complexo quanto as relações internacionais de dois países tão próximos quanto são Espanha e Brasil. Mas, se não explica, pode muito bem ilustrar…

Eu já entrei na Europa por aeroportos portugueses, alemães, suíços, suecos, belgas e noruegueses.

NUNCA me pediram nada além do passaporte e passagem aérea. Algumas (poucas) vezes, me perguntaram a razão da viagem, quantos dias iria permanecer, etc. Uma vez, houve uma certa rudeza na saída da Suíça, mas nada que mereça menção.

Em Portugal, país que recebeu milhares de brasileiros, sempre fui especialmente bem tratado – ou com bom humor, ou com educação. E, diga-se: já entrei em Portugal sem um centavo no bolso (apenas com um cartão de saque do meu banco). E isso em épocas que o Brasil não era queridinho mundo afora. Sei que possivelmente outros tiveram experiências diferentes, mas não posso deixar de registrar que, apesar de ser um país pequeno, Portugal, ao que me parece, nunca deixou de cumprir, com certa resignação, com o papel de pai que tem certas responsabilidades com o filho rebelde e peralta. Claro, nunca vivi em Portugal, desconheço a situação dos imigrantes brasileiros por lá. Mas, no que diz respeito a aeroportos e pessoal de alfândega, sempre fui tratado com respeito.

Infelizmente, não posso dizer o mesmo da Espanha. Em Barajas, em uma área de trânsito que mal tem um restaurante, o sujeito passa fome, a não ser que se entupa de torrões de Alicante vendidos no duty-free. Lembro-me que, apesar do atraso do vôo para o meu destino final, sequer me deixaram sair da área de trânsito, mesmo dizendo que, ora pois, ficar 10 horas em uma área de trânsito sem comer não é agradável. A brutalidade com que me negaram uma mera saída nunca me foi esquecida (assim como também nunca me esqueci da amabilidade de um agente do aeroporto que intercedeu para que me liberassem para poder comer).

Isso talvez seja um retrato do tratamento de brasileiros na Espanha. Mas a questão é mais grave.

Primeiro, eu não espero que deixem entrar brasileiros que não comprovem condições de permanecer no país. Isso é indiscutível. O que é ruim é que os critérios não são claros e, ainda pior, que o tratamento dado ao turista frequentemente é humilhante. Ao que eu saiba, o Brasil, ao adotar a reciprocidade, pelo menos o faz de forma adequada, conforme o depoimento dessa turista espanhola aqui.

Segundo, que a justificativa do Sr. Embaixador da Espanha, a de que cumpre exigências do Espaço Shengen, não engana ninguém. Países com problemas maiores de imigração não costumam impor tanta deportação e tantas condições de maus-tratos aos turistas brasileiros. Como exemplo, volto a citar o querido Portugal, mas poderia citar a Suíça ou mesmo a Noruega, países onde em algumas cidades os imigrantes chegam a formar 25% da população.

E não venham dizer que a medida veio porque agora estamos recebendo mais trabalhadores europeus – o Brasil costuma adotar a reciprocidade já há tempos, e já o fez com parceiros econômicos de poderio bem maior, como com cidadãos americanos que foram desrespeitosos com as autoridades brasileiras.

Acho que os povos precisam exigir dos seus governos, sem embargo das justas limitações à imigração ilegal, decência no trato com os estrangeiros. “They are us“, já disse Pete Hamill. Na hora em que o Brasil começar a ser arrogante ou prepotente – o que me orgulho de dizer que não foi até agora – serei o primeiro a me revoltar. Mas amor próprio só faz bem a um país.

Sobre o assunto, excelente artigo de Elio Gaspari pode ser lido nesse link.

26/02/2012
por francis
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Filmes que vi: Cidade Baixa, Estamos Juntos

Estamos Juntos: é impressão minha, ou todo filme com a Leandra Leal, que adoro, é meio chato, ou doido demais?

Cidade Baixa: MUITO bom. Transpira Salvador, transpira o jeito de falar gostoso da capital baiana. Sim, apesar de ser de Conquista e adorar nosso acento, devo dizer que gosto do jeito de falar dos soteropolitanos. Muito legal!

05/02/2012
por francis
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Quatro anos de corrida e o PS maior que o texto principal

Agora em fevereiro completo 4 anos correndo. Eu sei que volta e meia volto a escrever sobre isso, como se fosse algum profeta, arauto ou religioso devoto e radical de uma seita qualquer. Mas vai ver é exatamente isso: escrevo sobre corrida, talvez para lembrar a mim mesmo porque quero continuar a correr, e porque preciso sempre acender uma vela nesse altar.

Acho que os melhores anos da minha vida vieram após começar a correr. Eu não acho que eu precisaria de um motivo para correr – correr basta por si só. Mas, após um período de stress em 2007-2008, após colesterol alto, após fim de um namoro, após atingir meu maior peso, correr parecia ser o escape, a promessa de redenção. E, de certa forma, foi.

Eu nunca fui disciplinado para nada, e não tinha fé alguma de que poderia sê-lo. Mas, curiosamente, conseguir sê-lo com a corrida, ainda que não tanto quanto deveria. E essa foi a primeira lição que aprendi: eu, também, posso ser disciplinado.

Agora, seis maratonas corridas (com duas previstas para esse ano), e, tendo chegado ao meu peso mais baixo desde que comecei a correr (16 quilos a menos), atingi o que Haruko Murakami chama de “running blues”. Já não tenho tanta vontade assim de correr. Mas corro. É como se fosse a corrida entregasse certa coesão a tudo o que faço, nÃo sei.

E não é que fiquei exatamente mais saudável depois que comecei a correr, se saudável significa não ter mais nenhum problema de saúde. Sim, minha alimentação é saudável, até onde se consegue manter uma alimentação saudável em um país onde a comida é, em grande medida, feita com molhos, produtos congelados e quase nada fresco. Mas desde que comecei a correr, tive várias intercorrências – desde asma, gastrite, a uma tireoidectomia. Nada provocado pela corrida. Aliás, cada problema de saúde, depois de superado, era um incentivo a correr não só pela saúde, já que nem sempre temos controle dela, mas sim porque correr em si basta. É, sem dúvida, uma religião, uma droga.

Não, não digo isso no sentido de vício, ou no sentido de corrida é mais um dos remédios de auto-ajuda que podem ser receitados para dar algum sentido à vida de alguém – embora até creio que isso tenha lá seu sentido. Também não me refiro ao efeito estimulante das endorfinas, algo já conhecido e que também já virou cliché (confesso que me sentiria muito mal em depender de um esforço monumental para correr só para produzir uma dose de um entorpecente). Digo que é uma religião porque, se nos rituais religiosos há certa catarse, há certa submissão a algo superior ou maior, nas pistas de corrida há certa diminuição nossa em razão de algo maior – chame-o de tempo, de distância, de suor, ou de desafio. Mas há também a atitude de trazer à pista, como se altar fosse, nossos problemas, nossos dilemas e aporrinhações, esperando que, através da auto-flagelação que é correr, alcancemos alguma luz, alguma absolvição, alguma misericórdia. E, desculpem-me por dizê-lo, frequentemente conseguimos alguma dessas coisas após a corrida. E logo eu, pessoa que não costuma comparar muita coisa às religiões deístas quer por crença, quer por devoção.

Mas não escrevo isso para fazer proselitismo. Odeio (mas com certa inveja) os promotores de lifestyles (e odeio ainda mais gente que usa expressões em inglês pra tudo). Odeio gente que diz que eu deveria defender o planeta, odeio gente que diz que eu deveria doar dinheiro para os pobres da África (ou de qualquer lugar – pobres, infelizmente, não faltam), ou que eu deveria ter melhor alimentação. Ou que deveria correr. Acho que o ódio é, em certa medida, porque essas pessoas estão corretas, assim como são nobres as causas que defendem. Mas não acho que eu, tão incerto que sou no que se refere à minha própria vida, tenho lá lastro para ficar dando palpite no que seria bom para os outros.

Se escrevo, é mais como um depoimento (ou como um pagamento de indulgência). Um relatório para mim mesmo, a fim de que compreenda que não se corre apenas para se chegar ao final de nada. Como Murakami, não ambiciono grandes tempos, grandes resultados. Corro, apenas, porque de certa forma, e não sei exatamente como, correr parece fazer de mim alguém melhor. Não melhor do que quem não corre, mas melhor do que eu seria sem a corrida.

E espero que o “running blues” seja apenas coisa de aniversariante da corrida. Que venham outros 4, 8, 12 anos de corrida.

E agora, em algo completamente diferente: descobri que adoro andar no transporte público de Oslo (bondes, principalmente), nas sextas e sábado à noite. Eles são inundados por hordas de gente jovem bêbada e falante, como se eu estivesse em uma praia baiana, e não em uma cidade onde os habitantes são silenciosos, via de regra, quando usam o transporte público – cada um com seu fone de ouvido e seu olhar distante.

No Brasil, não usava muito transporte público – aliás, usei no meu último mês, ao vender o carro e despertar certa curiosidade de meus colegas quando me viam andar de bicicleta ou pegar o ônibus. Cheguei a perceber certo olhar de solidariedade (ou pena) em um amigo que me viu na fila de um ônibus, como se pensasse “puxa, que pena, tão promissor, o mundo deve estar mau para os advogados”. E também nunca fui de falar com estranhos em um bar – no Brasil (ou em qualquer lugar) nunca me senti muito à vontade com estranhos em um bar – parece que não sou exatamente do tipo que vai ao bar e consegue engatar alguma conversa sobre alguma coisa relevante ao ambiente – qualquer que seja essa coisa – quando essa conversa implica em conseguir se inserir ali naquele contexto de diversão, paquera ou azaração. Mas, curiosamente, em Oslo parece não haver essa pressão, no sentido de que parece sempre ok falar com um estranho em um bar, falar merda com a garota bêbada ao lado, ou dar palpite se a amiga da menina deveria ou não ligar pro namorado dela para dizer que vai vê-lo ainda àquela noite. Sim, não consigo falar com estranhos em qualquer lugar, mesmo em um bar, mas em Oslo isso não me pareceu algo angustiante.

E no transporte público isso é um show à parte – desde gente vindo falar com você do nada, até escutar as maravilhosamente descontraídas conversas de gente bêbada e despreocupada, como se os sábados fossem carnavais e que as segundas podem esperar…