15/01/2012
por francis
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Domingo

Domingo de manhã, rotina de sempre: ler jornal, tomar café, assistir a um filme, pensar em tomar coragem para ir correr, etc.

Abro o jornal e leio uma das manchetes: “Cotidiano: mulher é encontrada sem olhos e sem pele em Mairiporã.” Pergunto eu: “Cotidiano”?!?!

É o mundo cão de volta, depois de dois, três dias de paz com o universo.

Na semana que passou, fui voluntário junto à faculdade para receber os novos estudantes intercambistas. Sim, aqui é muito comum receber estudantes que saem dos seus países para cursar um semestre em outra faculdade. Com currículos mais flexíveis, é uma excelente oportunidade para treinarem o inglês e adquirirem experiência internacional, ainda que a diferença cultural não seja assim tão acentuada entre os países da Europa, de onde vêm a maioria. OK, as diferenças são grandes, mas pequenas aos olhos de quem vem de outro continente, como eu.

A semana foi um sucesso. É sempre bom conhecer gente de vários lugares do mundo. As últimas noites (quinta e sexta) foram só de farra, com este quem vos escreve dançando (bom, dançando, não – tentando) e zoando um bocado. As férias vão acabar em breve, e é sempre bom fazer novos amigos e fazer algo de diferente para quebrar a rotina.

A pior coisa de ser um brasileiro atípico (se é que é possível ser brasileiro atípico, já que quase tudo no mundo pode ser considerado também brasileiro) é que as expectativas às vezes são decepcionantes: uma menina pediu para eu mostrar meus passos (moves?), já que, como brasileiro, eu devo tê-los, não? Enfim, não sabia se inventava alguma coisa ou sumia. Fiz os dois… (ou foi ela que sumiu, não lembro… hehehe).

Esperam que saibamos samba (um outro lá me pediu para dançar samba). Só faltava pedir capoeira ou para dizer qual foi nossa escalação na copa de 78 para que a decepção fosse completa. Bom, pelo menos falo português e adoro praia, não?

Decidi: meu plano agora é me transformar em um brasileiro típico. Já baixei “Ai Se Eu Te Pego”, e acabei de comprar “Danza Kuduro”, hit do momento na Noruega. Sim, um diligente e informado leitor irá me informar que Danza Kuduro é um hit cantado por um latino, de um emigrante português (salvo engano) na França, baseado em rítmo angolano. Mas, por incrível que pareça, um dos discos de Kuduro, na iTunes Store, tem “brasileiro” como gênero. Vou capitalizar nisso… 🙂

Falando nisso, que coisa, não? A Angola tem uma música sua, original, que agora pasteuriza-se e é enlatada para consumo na Europa. Espero que isso seja uma coisa boa para aquele país, e não uma exploração cultural de gosto duvidoso.

Outra idéia para me transformar em brasileiro da gema: vou aprender a fazer feijoada. Já mandei ver um bolo esses dias (desses que nossas avós e mães fazem no Brasil, normais, sem frufru, mas que adoramos), e agora vou ver se faço feijoada. Ou acarajé, para ser ainda mais brasileiro: baiano. Mas sem axé, que tudo na vida tem limite.

Nos momentos de tédio, resolvi procurar música brasileira no Spotify, serviço de música na moda por aqui, e achei uma versão de Arrumação, de Elomar, cantada por Sérgio Reis. Caralho, não sei se é porque ando em fase de autoafirmação geográfica, mas fiquei arrepiado. Até MPB tenho ouvido… E, para lembrar da infância, escutei “Bananeira Mangará” e “Frevo de Mulher”.

Foi excelente ter ido às festas no bar da faculdade, coisa que normalmente não faço. Descobri que já conheço muita gente, descobri que há muita gente boa a conhecer, e descobri que, por mais que não tenha tanto a falar do meu país, é de lá que eu sou, e de lá sinto falta, talvez pela primeira vez.

Conheci uma grega. Sempre quis conhecer uma desde que Cam’s me deu um CD de Despina Vandi. A grega, tal como num filme, me disse que todas as palavras vêm do grego. ADOREI! 😀

Vou tirar o troço da Nike que posta no Facebook o quanto eu corro. Descobri que é um pouco demais. De repente, encontrava com noruegueses na faculdade que já sabiam como dizer “Eu corri XX km” EM PORTUGUÊS por causa das postagens automáticas. 😀

Bom, deixa eu voltar a ler o jornal, pulando, obviamente, o caderno “Cotidiano”, e fingir que a vida é uma beleza.

08/01/2012
por francis
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Filmes que vi: Sherlock Holmes

Sinceramente? Não gostei.

Não sei se é porque assistir um filme falado em inglês britânico, com legendas em norueguês, não seja lá muito fácil, ou se é porque Sherlock Holmes, pra mim, sempre foi um camarada reflexivo e austero (embora excêntrico), ou se simplesmente porque no filme o que vi não era Sherlock Holmes. Era um filme de ação – meio Matrix (que adoro), meio “O Tigre e o Dragão”, com a desculpa de um grande personagem.

Mas acho que sou único nisso – todo mundo fala maravilhas do filme.

04/01/2012
por francis
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Deixem o Michel Teló em paz

Feliz Ano Novo! 🙂

Coisa que tem me irritado: a quantidade de gente descendo a lenha em Michel Teló. Ah, vai se catar…

Vamos aos fatos:

1. Desde quando neguim espera que música de massa seja exatamente intelectual? Povo metido a besta! Mania de gente descer o cacete em música popular só porque prefere ouvir a MPB, como se esta, apenas por seus méritos, tivesse que ser socada na guela do povo. É como se dissessem: “olha, povão, vocês não têm o direito de gostar dessa música, porque a música popular, de fato, é essa outra, que chamamos de MPB”. É presunçoso, preconceituoso e, no fim das contas, revanchista.

É óbvio que não estou a dizer que a tal música seja lá cheia de mérito, mas é que não vi o cara, nem ninguém, dizer que a música “Ai Se Eu te Pego” deveria ganhar o Prêmio de Letra mais Profunda. Portanto, não pode ser julgada pelo que ela não é.

2. Concordo com Lobão. Podem me detonar. Eu sei, meu gosto pra música é sofrível (porém não gosto dessa música da qual falamos, bem entendido). Mas somos um país intenso – alegre, violento, cheio de contrastes. E, diz Lobão, nada é mais idiota do que achar que a música que nos representa é aquela cantada com o sujeito todo tranquilo, parecendo que tudo é calmo e sereno, em um banquinho com um violão, dizendo “Ela é Carioca, Ela é carioca…”. Ah, devo dizer, essa música NÃO me representa MESMO.

3. Sinceramente? Em que essa música é pior do que o techno dos clubs alemães, do que o dance de Ibiza? Enfim, é música de praia, de festa, não de concertos artísticos. É diversão. Música não tem que ser sempre obra de arte, assim como texto de jornal não tem que ser literário. Música tem função utilitária. Não é útil pra mim, não é pra você, mas muita gente gosta.

4. Mania chata essa de neguim politizar até a porra da música! O cara começou a cantar uma coisa qualquer. Vendeu. Faz sucesso na Europa toda. E é ELE que tá errado? Longe mim dizer que é a música ideal, mas, puta que pariu, essa crítica toda cheira tanto a dor de cotovelo mal disfarçada. Pra que tanto auê?

5. Odeio pensamento único. Do tipo “só curto música boa”, como se música, melodia, não tivesse certo apelo a sensações, emoções, sentidos. E fica aquela coisa meio arrogante, do tipo “a música que escuto é que tem qualidade”. Então tá, então 80% da indústria musical brasileira deveria desaparecer, só porque o povo não aprende que a música que escuta é ruim? Sei…

6. Sei, compreendo e entendo que parte da indústria musical brasileira contribui para a alienação, reproduz valores e mentalidade com a qual não nos identificamos. Mas não é assim com toda espécie de arte, seja ela de qualidade ou não? Ou será que queremos uma ditadura intelectual agora? Uma ditadura onde só caibam Marisas Montes, Caetanos Velosos (pra mim, um chato de galocha) e Cia. Ltda.?

7. É horrível quando alguém se acha superior por causa dos seus gostos. Seria como se eu começasse a achar que todo usuário de Windows é cidadão de segunda classe. Ou que um xiita de dietas começasse a dizer que quem come no McDonald’s é doente, e que essa lanchonete deveria ser extirpada.

8. Não gostou da droga da música? Bem-vindo ao clube. Agora, garanto, tem muita gente que gostou. Não vai ganhar nenhum prêmio da APCA, mas fazer o que se D. Maria lá da feira gosta?

9. O Brasil não é único nessas coisas. A Romênia convive com seu Manele, Portugal com sua música Pimba (é assim mesmo?, e por aí vai. Na Romênia, sei que há um movimento forte contra o apelo do Manele, apesar da popularidade do gênero. Na Noruega, há o DDE, por exemplo, que não é o supra-sumo da música nórdica, mas a garotada escuta e se diverte. Fazer o que?

10. Por último, acho que falta apenas bom humor às pessoas. Música de qualidade não pressupõe, para existir, que se elimine a de massa. É clichê chato o tal “tem espaço pra tudo”, mas, em se tratando de fenômenos que, em regra, são efêmeros, não sei porque não encarar como mais uma daquelas ondas do verão, que sempre vêm e vão. Aliás, um picolé de limão para quem apontar uma música de verão sequer que seja uma pérola da poesia. Acho que, escutável, mesmo, só os Tribalistas que, salvo engano, fizeram sucesso no verão de 7, 8 anos atrás.

11. (UPDATE) Fico pensando no que inspira as pessoas a perderem o seu tempo para escreverem longos textos para detonar alguém apenas porque canta uma música que não é a que gostariam de ouvir. Talvez seja o mesmo e inexplicável desejo meu, de ser ouvido, ou, no caso, lido. Mas talvez seja mais que isso: talvez uma demonstração de uma agressividade latente para com tudo o que não lhes agrada, em uma espécie de egocentrismo no gosto, na opinião. Gente que critica a revista Época porque colocou o cara na capa, como se o cara estivesse ali retratado pela qualidade da música, e não pelo impressionante sucesso alcançado. Se Tiririca foi eleito deputado, porque o cara não pode sair na capa da Época? Aliás, a capa da Época, da Veja, da IstoÉ, da Newsweek, agora virou certificado de importância das coisas? Vá entender…

Enfim, deixem o cara fazer sucesso, deixem que pensem que somos um país alegre, sensual, vibrante. Antes isso do que essa mentirinha de “Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça…”.

 

29/12/2011
por francis
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Porque as políticas brasileira e baiana são um teatro…

Vejo em um blog da cidade uma notícia que me causa espanto, indignação e raiva. Não sei porque, já deveria eu estar acostumado…

 

Pois bem: o Secretário de Planejamento do Governo da Bahia, sr. Zezéu Ribeiro, diz que “Ainda não[sabe]” quando vão iniciar as obras do aeroporto de Vitória da Conquista.

 

O comentário ilustra algumas coisas importantes:

 

1 – Como é que um secretário de planejamento tem a coragem de ir a Vitória da Conquista e dar uma resposta idiota dessas, por mais honesta que seja?

 

2 – Como é que um secretário de planejameto não tem idéia a respeito do início da obra mais esperada, desejada e adiada de toda uma região?

 

3 – Como é que um secretário de planejamento é incapaz de gerenciar com cuidado algo que é tão caro a uma cidade que, por sinal, tem dado voto de confiança às administrações do PT?

 

E não se diga que, por ser arquiteto, o Sr. Zezéu Ribeiro não teria formação profissional apta a gerenciar a Secretaria de Planejamento, talvez pasta mais apropriada a economistas, ou sei lá o que. Primeiro, porque uma das maiores gestoras que conheci é, justamente, arquiteta. Segundo, se essa profissão fosse inadequada, que não se colocasse alguém sem qualificação para gerenciar pasta tão importante.

 

Mas isso dá mostras de uma incompetência dos nossos políticos que é algo que, em outros lugares, já os teria enforcado: como é que anunciam uma obra, por reiteradas vezes, para depois virem a público para dizer que “vão ter que captar mais recursos para a obra?”. Será que políticos são incapazes, de uma incapacidade inata (perdão pela redundância), de gerenciar alguma coisa? De falarem algo limpo? De prometerem algo que realmente desejam cumprir?

 

É por essas e outras que o Brasil é essa coisa confusa: a China constrói um aeroporto em tempo recorde, uma ferrovia no estalar de dedos. Mas, no Brasil, administrar é algo que os políticos fazem muito a contragosto. É um encargo que têm que suportar enquanto fazem política. E, se o Sr. Zezéu Ribeiro vai a Vitória da Conquista e não sabe a resposta para uma pergunta como essa, deveria ter ficado em Salvador fazendo o que quer que faz por lá. Assim, pouparia o dinheiro dos contribuintes. Não fosse o Brasil um país democrático (e democracia, infelizmente, acaba permitindo a cara de pau irrestrita – coisa que também é comum em ditaduras, diga-se), um cidadão desses seria proibido de pisar em Conquista até que tivesse algo a dizer, ou melhor, contas a prestar.

29/12/2011
por francis
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Livros que Li: Steve Jobs

Autor: Walter Isaacson.

Muito bom livro, principalmente para quem não conhecia a saga de Steve Jobs, nem sua vida com reviravoltas épicas. Afinal, não é sempre que se vê alguém ser expulso da própria empresa depois de ter criado a peça chave desta, fundar uma empresa de tecnologia excelente (NeXT), assumir outra revolucionária (Pixar) para, depois, voltar ao primeiro amor (Apple) com a tecnologia para salvá-la e torná-la a empresa de tecnologia mais valiosa do mundo.

Se a vida de Steve Jobs é inspiradora, ela traz em si um certo dilema: será possível ser tão artístico sem ser tão cruel, tão sem empatia? No livro quase que se torce por uma melhora nos modos sociais de Jobs, mas, ao que se vê, essa não veio com a intensidade esperada. Pareceu-me, a um certo ponto, que o autor esperava que o câncer trouxesse redenção a Steve. Como não trouxe (não na intensidade que se esperaria), fica-se com esse dilema: será necessário ser tão duro com os outros (e consigo mesmo) para ser genial? Será possível ser genial e ser, também, humano?

Não que esse lado um tanto perverso de Steve Jobs me surpreenda – já sabia que ele não tinha lá bons modos. Detesto gente de maus modos. E também tais modos não poderiam ser desculpa para um fim maior – note que Steve era contraditório com os supostos fins altruísticos de sua conduta por vezes repreensível. Mas o diabo é que não se pode deixar de reconhecer a genialidade do homem, e isso é perturbador.

26/12/2011
por francis
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Afogamento digital

No passado, já escrevi aqui sobre a minha preocupação a respeito do uso exagerado da tecnologia, e o quanto isso pode ser prejudicial, ou, melhor dizendo, o quanto isso supostamente pode nos alienar em relação à vida “lá fora”.

Mas outra coisa tem me preocupado esses dias – e, ao que parece, não só a mim, como poderão facilmente perceber: o tal déficit de atenção.

Em primeiro lugar,  algo me tranquilizou um pouco: conheço muita gente que suspeita ter transtorno de déficit de atenção, hiperatividade, etc. Eu mesmo já me perguntei se teria algo assim. Dia desses assistindo Ana Maria Braga (não ria, caro leitor – você ainda há de morar no exterior e devorar qualquer coisa que lhe dêem em sua língua natal – de Ana Maria Braga a “Ai se Eu te Pego”), vi uma reportagem interessante sobre a banalização do Transtorno do Déficit de Atenção. Afinal de contas, quem nunca esqueceu a chave de casa? Embora eu ainda acho que tenho alguma dificuldade em me concentrar em escutar algum monólogo superior a 10 minutos, de repente percebi que isso pode ser algo inerente à minha personalidade, uma idiossincrasia minha, e não um transtorno (algo muito chato quando se é advogado, por exemplo, e se tem que escutar um depoimento de alguém falando por horas…).

Mas, porém, contudo, todavia, se colocamos de lado a possibilidade de que todos temos o tal transtorno, percebi – com a ajuda dos artigos abaixo – que estamos vivenciando uma transformação no nosso modo de processar informação. E não sei se isso é bom ou ruim.

Quando concluí a faculdade, a internet ainda não era a ferramenta de estudo por excelência. Porém agora, ao voltar a estudar, percebi que, a não ser por dois livros didáticos do currículo (um deles em formato eletrônico), todo o meu material de estudo encontra-se online. Ou seja: estudo praticamente no computador. E é aí que mora o problema: parece que o uso sistemático de ferramentas de busca, hiperlinks, múltiplas janelas abertas, etc., não faz com que estudemos de forma reflexiva, mas utilitária.

Segundo um dos artigos, nós passamos nossos olhos por textos cada vez menores, porque dificilmente nos prendemos, na internet, a textos longos – há uma miríade de fontes a nos ensejar que consultemo-nas. Raramente voltamos ao lugar onde começamos a pesquisar. Veja: antes, nossa leitura era profunda – entrávamos em um estado de imersão no livro. Sem distrações, sem alternâncias.

Isso sem falar das outras atrações da internet: Facebook, Twitter, mensagens instantâneas, notícias atualizadas. Ou seja: estamos o tempo inteiro aptos a consumir informação. Um dos artigos fala, inclusive, no fato de que o Facebook se torna, cada vez mais, o espaço de interação por excelência: para se sentir integrado, precisamos conhecer cada nova piada ali postada, cada novo “trend”. Fora da vida online, nossas experiências de interação acabam reduzidas e, mesmo assim, orientadas ao que acontece online: os assuntos giram em torno do que é notícia nas redes sociais. 

Se por um lado essas redes propiciam possibilidades de relacionamento inéditas – não é preciso esperar o Natal ou outra época propícia a reencontrar amigos e parentes para nos inteirarmos do que tem acontecido com eles – por outro, nossas experiências acabam orientadas para a profusão de informações a que somos submetidos quando ligamos nosso computador. Eu percebi, por exemplo, que para ler a Folha de São Paulo (online), o jornal da Noruega que leio (ou folheio) e o meu feed de RSS, bem como o feed do Facebook, pelo menos 3 horas diárias são necessárias. 2 horas, com algum esforço.

Ao lado disso, sempre customizei a interface do meu computador para que tivesse acesso a qualquer informação relevante. Uso o Growl, que avisa desde quando alguém se conecta ao Skype até qual o assunto do e-mail que acabei de receber. Cada novo evento tira o foco do meu trabalho, ainda que por um segundo. Claro, foi uma opção minha, e é claro que posso desligar essa função. Mas as distrações podem vir de todo o canto: desde o sms no celular à tentação de olhar o Facebook, o Twitter, o Foursquare….

E esse hábito de processamento contínuo de informação (ler o que interessa, descartar o resto), faz, ainda de acordo com os artigos que li, com que tenhamos maior dificuldade de atingir aquele mencionado estado de reflexão que costumávamos ter quando de uma leitura metódica.

O assunto tem me preocupado. Percebi que poderia ter rendido muito mais no meu estudo no semestre passado. Percebi que, antigamente, as pessoas liam muito mais para se preparar para as provas. Porém, o Google nos torna um pouco mais estúpidos, já que o importante não é mais aprender, mas sim saber onde está a informação.

Até o iPad agora tem notificações. Acho que vou desligá-las. Tenho tentado ler no Kindle, e tem sido fantástico, porque, após algum esforço de concentração, percebo o quão tranquilizante é poder me deter em uma coisa, sem o stress mental advindo da experiência de buscar algo na internet e, de repente, me ver pesquisando 10 coisas diferentes que não guardam nenhuma relação entre si (nem muito menos com o que me propus a pesquisar).

Não sei se estamos entrando em uma nova era onde teremos que mudar a forma com que lidamos com o conhecimento. Também não sei se estamos ficando mais passivos em relação à informação. Se por um lado a vida moderna parece nos cobrar uma certa atualização frequente no que se refere ao quanto nos informamos, por outro lado me parece claro que isso acaba roubando de nós tempo em que poderíamos estar, de fato, vivendo.

Artigos mencionados:

My life without Facebook

Is Google making us stupid?

21/12/2011
por francis
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Primeiro-Ministro português sugere que professores emigrem para o Brasil

A notícia mais WTF do dia: em razão da crise que afeta Portugal, o Primeiro-Ministro daquele país sugere que seus professores emigrem para o Brasil, ou para outros países de língua portuguesa.

Não obstante poderia eu aqui refletir sobre as raízes dessa sugestão sob diferentes prismas, do tipo “terá o Brasil ficado atraente demais, ou estará Portugal tão ruim assim?”, ou da espécie “e agora, será que a imigração portuguesa vai continuar a barrar brasileiros? será que nossa imigração vai começar a ser xenófoba?”. Mas não vou por aí, embora seja tentador.

Acho, no entanto, que, a despeito do notável crescimento do Brasil e da distribuição de renda ter aumentado, o que o Brasil fez não foi virar primeiro mundo. Não somos essa “coca-cola” toda não. Continuamos ainda a anos-luz disso. O que o Brasil fez foi, tão-somente, mas de imensa importância, reduzir drasticamente a pobreza e introduzir milhões na cadeia de consumo.

Portanto, embora adoraria que emigrantes fossem ao Brasil, para tornar o nosso país um tanto mais cosmopolita e não tão fechado em si mesmo (muito embora seja um país tão rico e diverso que ser cosmopolita acabou não fazendo tanta falta), acho que, por um dever humanitário, alguém deveria avistar à Sua Excelência quanto ganham os professores no Brasil, principalmente quando o nobre político falou em deficiências no ensino básico em terras brazucas, justamente onde se ganha menos…

P.S. Há algo realmente digno de reflexão aqui: nos piores anos do Brasil, nunca se incentivou a imigração, como forma de promover melhores chances para os cidadãos. Mesmo nos anos da ditadura, o slogan “Ame-o ou deixe-o” era de conotação política, não social. E, pelo contrário, logo que o Brasil ensaiou melhorar, não lembro se no governo de FHC ou no de Lula, houve certa campanha para que os brasileiros retornassem! Acho que isso se deu por conta de que aqui, políticos gostam de fazer cara de paisagem em todos os momentos – a coisa pode estar pegando fogo, mas nenhum político admite a tragédia…