12/11/2011
por francis
1 Comentário

Politização demais é ruim

Dizem que Conquista é uma cidade politizada. Não acho. Conquista é uma cidade onde a frivolidade é centrada na política, como se esta fosse apenas a Sessão da Tarde, ou a revista Contigo. Enfim, é um passatempo. Aliás, não é diferente no interior da Bahia – a polaridade na política é onipresente na maioria das cidades, com as famílias devidamente alinhadas a um ou a outro grupo político.

Isso, penso eu, é extremamente alienante. Pessoas bem-intencionadas acabam apoiando causas ruins em nome do grupo político que integram, apenas para evitar o fogo-amigo. Do mesmo modo, criticam projetos adversários apenas por serem defendidos por estes.

O pior é quando políticos agem a reboque dessa forma simplista de agir com a coisa pública. Vereadores ou jogam movidos com certo medo da opinião pública (o que seria, em tese, bom), ou simplesmente de acordo com sua posição nessa polarização da política: se são oposição, tendem a criticar tudo e, se situação, costumam defender tudo.

Poucos são os políticos que procuram ter uma postura construtiva, independente ou destinada a criar decisões mais discutidas, ou de acordo com a própria consciência.

O maior exemplo disso é a questão do Centro Cultural Banco do Nordeste.

Pelo que me lembro, referido centro seria destinado a funcionar onde hoje existe a Feira do Paraguai. Difícil pensar em melhor lugar: estacionamento de sobra (à noite), central, com acesso às principais artérias da cidade, transporte público frequente, e possibilidade de revitalizar uma região degradada.

Pois bem: a prefeitura, então, coloca o debate da seguinte forma: ou será na Praça Sá Barreto, ou não será em lugar nenhum. Aí o que os vereadores (e bons amigos meus) fazem? Votam com o seguinte raciocínio: “o melhor lugar seria no centro, mas, para não perder o equipamento, vamos aprovar”. Ou seja: não quiserem arriscar um desgaste com a opinião pública.

Na verdade, a administração de uma cidade deveria ser coletiva. Se os vereadores, quando chamados a discutir uma séria questão (ao invés da costumeira trivialidade de mudança de nomes de ruas, indicações do tipo “indicamos enviar o fulano à lua” sem consideração com orçamentos, etc.) preferem não assumir riscos ao invés de promover uma adequada consulta às suas bases, apenas para salvar a pele, isso apenas aponta que o parlamento não tem a devida autonomia ou interesse pelo coletivo – apenas joga para a torcida e pela auto-preservação. A cidade que se dane.

Sempre votei nas administrações de esquerda, e sempre nelas continuarei a votar. Apóio o atual governo, do qual fiz parte, inclusive. Mas essa decisão foi praticamente empurrada goela abaixo, e, infelizmente, nenhum vereador deve a coragem de não ceder à implícita chantagem do “ou aqui ou em lugar nenhum”. Eu prefiro uma Câmara que erre com coragem do que acerte com medo. Medo é bom freio quando se toma uma decisão apenas por um motivo político, em detrimento da população. Mas é péssimo incentivo quando destina-se apenas a decidir para não ficar feio na foto.

Conquista precisa de praças, de lugares abertos. O surgimento da cidade, quase sem planejamento, fez da ocupação desordenada uma regra. Com o surgimento de shopping centers mais afastados, os centros da cidade de varias cidades enfrentam, sempre, estagnação. O de Conquista já começa a estagnar-se, seja por causa do trânsito, seja por causa da migração dos serviços públicos para lugares descentralizados. O que será do centro de Vitória da Conquista daqui a 10 anos, com o Poder Judiciário todo na Estada para a UESB, com Shopping Centers em franca expansão, e com milhares de novos carros postos em circulação?

No entanto, um bom equipamento para trazer cultura ao centro é destinado a uma região quase predominantemente residencial, sem muito estacionamento e com o argumento de que estaria próximo a bairros populares, como se existisse algum lugar em Conquista que não estivesse próximo a bairro populares…

Enfim, não conheço bem as razões para a escolha do local. Vai ver até exista alguma exigência do BNB – eu não me lembro de ter ouvido isso, mas pode ser que seja essa a razão. Mas fico triste pela excelente oportunidade perdida pela cidade. E fico triste de que nossos destinos sejam tratados por vereadores que preferiram se omitir para salvarem suas cabeças ao invés de serem firmes em uma postura mais democrática.

P.S. – Não, não passei para a oposição. Continuo a admirar o governo como sempre o fiz. Mas, da mesma forma que seria estúpido acreditar que todos no governo concordam com tudo o que ali acontece, seria também cínico ou hipócrita achar que não posso criticar algo no governo só porque sou alinhado com ele.

P.S.2 – Sim, eu sei que pessoas que só querem atingir o governo podem usar meus argumentos apenas para prejudicarem um adversário. O problema é dessas pessoas, não meu. Se seu modo de fazer política consiste nesse comportamento mesquinho de que tudo da oposição é bom e tudo do governo é ruim, não preciso eu agir da mesma forma de fingir que tudo que eu mesmo faço e apóio é bom e tudo o que os outros fazem é ruim. Ingênuo? Talvez. Mas é mais honesto e menos cínico.

09/11/2011
por francis
2 Comentários

Os dados da revista Veja

De longe, acompanhei nessa semana a repercussão de artigo do querido Prof. Paulo Pires, que, em seu texto sempre muito bom de se ler, protesta contra o protesto, ou melhor, contra a manifestação motivada pelos dados divulgados pela revista Veja, que situam Conquista como a pior cidade do Brasil no quesito educação. Para o Prof., pelo que entendi, “Vergonha Nacional” seria um termo pejorativo demais para uma cidade como Conquista.

Meu amigo Gutemberg Macedo, da OAB, pelo que li em outro artigo do Prof. Paulo Pires, teria dado um “puxão de orelha” no Prof. Paulo Pires, e este teria recebido críticas no sentido de que seu artigo acabaria por defender o prefeito.

Eu confesso que não sei como me posicionar. Não acho eu que tenho que me posicionar sobre tudo nessa vida, mas gosto de ter idéias claras.

Gosto da idéia do protesto. Eu prefiro protesto errado, mal direcionado, do que ausência de protesto. Políticos precisam ter medo. Autoridades são bajuladas a todo instante; é preciso sempre mostrar-lhes que devem um trabalho bem-feito à sociedade. Nesses termos, acho que o protesto foi bem-vindo.

Por outro lado, acho que essas coisas acabam sendo factóides. Sinceramente: alguém precisaria da revista Veja para descobrir que a educação pública sempre foi ruim em Conquista, na Bahia e no Brasil? Ou será a Veja agora a única fonte de visão para nós, cegos a respeito da nossa própria realidade?

Alguém acha que a educação de Conquista é de fato a pior do Brasil? Alguém acha que é a melhor? Isso importa?

O que importa, acho eu, é conhecer a realidade da educação e se envolver com ela. É saber quem são os professores que ensinam aos nossos alunos.

Penso que o uso de palavras de ordem como “Vergonha Nacional” deveria ser o que menos importa. Pra mim, não passa de slogan. Não passei a ter vergonha de Conquista por causa dos dados da revista Veja, nem meu orgulho diminuiu. Não foi a Veja quem me disse que a educação em Conquista é ruim – a educação no Brasil é ruim, e migalhas decimais em avaliações de ensino não vão exatamente me fazer crer que essa educação seja a pior, como quer a reportagem, nem que seja excelente, como os textos oficiais querem fazer crer.

Pra mim, esse é o problema: introduzir o elemento paixão na briga política é sempre tentador, mas não sei se constrói. Nem dizer que a cidade é vergonha nacional, nem dizer que ama Conquista – tudo isso, parafraseando um texto conhecido, contribui tanto para resolver o problema quanto “mascar chiclete contribui para resolver uma equação matemática”.

Agora, cabe a pergunta: o que os políticos da cidade – oposição e situação – querem fazer para resolver o problema?

Preocupa-me o fato de que o Brasil, neste ano, alcança a posição de 6ª maior economia do mundo. Parece piada – estamos entrando na porta das nações mais ricas pela porta dos fundos. Mas não há um esforço de desenvolvimento direcionado a melhorar a educação. Há um esforço para fazer as obras da copa em um tempo hábil, isso sim, dá pra se ver…

A realidade da educação é fruto do dilema do Brasil: falta de vontade de ruptura. Sim, ruptura. A mera injeção gradual de recursos, ao que parece, só contribui para manter a educação nos níveis ruins que se encontram. Professores mal remunerados produzirão péssimos resultados. Escolas mal conservadas, idem.

Eu acho urgente uma avaliação contínua dos professores públicos nas áreas em que atuam. Com a qualidade de muitos professores que temos, sem acesso a salário que lhes permitam uma vida digna, como exigir deles que mantenham-se reciclados, atualizados, empenhados e motivados? E, com professores assim, o que esperam? Que alunos tenham acesso a ensino de qualidade?

Sinceramente, não são números da revista Veja – esse lixo de jornalismo – que irão me fazer descobrir que nenhum professor que ganha salário mínimo – ou dois, ou três – poderá desempenhar bem sua profissão. Não são os números daquela revista de gente reacionária e vendida que irão me dizer que escolas projetadas sem levar em conta a utilidade dos prédios para a tarefa de educar estarão fadadas a se transformar em depósitos de alunos.

Um dado interessante, que talvez ajude a entender um pouco a coisa toda: o Brasil é um país com baixo grau de individualismo, de acordo com o site Geert Hofsteder Cultural Dimensions. Esse site faz uma análise de dimensões culturais. No Brasil, para o bem e para o mal, nossa sociedade não é muito individualista. Nós somos um país extremamente generoso. Por outro lado, esperamos que a coletividade nos dê o que precisamos, esquecendo-nos que temos que construir essa coletividade. Eis os gráficos – Brasil e Noruega:

 

Ou seja: não parece que cabe a nós, cidadãos, resolver o problema da educação. Não conhecemos as salas de aula onde nossos filhos estudam. Alguém já foi ajudar a limpar a escola? Alguém já coordenou algum mutirão de reforma? Alguém já organizou doações de material para a escola de sua comunidade?

Não – essas funções são sempre de outras pessoas. A culpa é do Prefeito, a culpa é do dono da escola particular, a culpa é dos professores… Enquanto não começarmos a nos envolver com os serviços públicos, ficaremos sempre sujeitos à realidade que não conhecemos – a dos baixos orçamentos públicos, que, segundo os políticos, impedem avanços significativos. Nunca conheceremos a real dimensão dos numeros – quer dos de Veja, quer das cifras orçamentárias. Com isso, vamos conduzidos como gado por slogans como “Vergonha Nacional” ou “Ame Conquista”. O problema, diremos, não é nosso – é do prefeito.

Não quero eximir a Administração Pública quanto a isso – acho que política, infelizmente, não segue a ciência da administração (ou Teoria da Administração). Segue uma lógica de poder que nem sempre coincide com as melhores escolhas. Mas acho que poderíamos ter o melhor prefeito do mundo, e a situação não seria nunca a ideal, pois o ideal sempre passará por um governo onde a sociedade, de fato, conheça a administração e com ela se confunda.

Voltando ao protesto – o ruim dessas coisas é que tudo acaba se politizando (no sentido ruim da palavra) – quem protesta pela qualidade da educação acaba sendo de oposição, e quem reclama do protesto acaba sendo de situação. Mas a educação, mesmo, com ela parece que ninguém se preocupa. Tudo, no fundo, acaba sendo reduzido à responsabilidade do prefeito (como se a comunidade nada tenha a ver com isso), ou ao desamor à cidade, ou à confiabilidade dos dados. Pergunto eu, que gosto de perguntar coisas: se os dados dissessem que estamos entre as 10 melhores cidades em educação pública, alguém aí estaria satisfeito, ou amaria Conquista por causa disso?

E o assunto voltará a dormir até que algum outro dado estatístico venha a dar um novo “barato” a quem precisa dele para fazer a sua “viagem”…

07/11/2011
por francis
0 comentários

O Brasil e a Imigração

Uma coisa é realmente interessante em relação ao Brasil: sempre que imigrantes decidem tentar a vida no nosso País, não é porque estamos em situação fantástica, mas é que, de onde vêm, as coisas estão piores.

Quando os italianos, alemães e japoneses iniciaram a migração, o Brasil não era nenhuma coca-cola. Talvez isso explique o fato de que não há no ranço do brasileiro o preconceito selvagem contra estrangeiros – éramos todos miseráveis. Claro, preconceito existiu quando da imigração, mas não foi algo que deixou marcas no Brasileiro – pelo contrário, dificilmente outro povo tem atitude tão amistosa em relação a imigrantes.

Agora, surpreendeu-me essa notícia: o número de estrangeiros no Brasil está quase que se equiparando ao número de brasileiros no exterior! E, ao que parece, mesmo a quantidade de brasileiros em Portugal parece – alguém me tire a dúvida – menor do que a de Portugueses no Brasil! E olha que continuamos no mesmo terceiro mundo de sempre…

Gosto disso. Ouço muito aqui o quanto as pessoas admiram o Brasil e os brasileiros por serem mais tranquilos quanto à questão da convivência com pessoas de outros países (é que preferimos matar-nos uns aos outros, respondo eu). Mas, como a imigração no Brasil era coisa do passado, sempre me perguntava se seríamos mesquinhos e xenófobos caso estivéssemos em melhor situação. Quero crer que não, muito embora de vez em quando escutamos algo vergonhoso a respeito de exploração de bolivianos em São Paulo.

P.S. – A questão parece ser realmente uma tendência atual – até o jornal norueguês Aftenposten dedicou uma matéria na edição de ontem, falando dos países europeus – espeficiamente Grécia, Itália, Espanha e Portugal – cujos jovens estão decidindo pela imigração: no passado, eram famílias de imigrantes buscando trabalho braçal, e hoje são pessoas altamente qualificadas.

04/11/2011
por francis
0 comentários

Contatos

Quanto mais se vive, mais se aprende. Embora uma das frases que mais gosto é “O tempo não cria sábios, cria velhos”, devo admitir que ninguém fica mais burro com o tempo. Acho que ficamos, sim, mais pragmáticos, o que nem sempre é uma coisa boa.

Lembro-me que, quando adolescente, costumava me sentir triste quando amigos que eu prezava muito iam embora e, invariavelmente, não mandavam mais notícias. Sempre procurava manter contato com todo mundo, porque, de certa forma, sempre agi como amigos, família, fossem raizes que merecessem o eterno cultivo.

Não é que eu tenha mudado de idéia ao longo do tempo. Pelo contrário: a distância apenas acentua o quão essas raízes são importantes. Mas não quero mais culpar os outros por não manterem contato, porque não quero negar a ninguém a escolha do que fazer da vida, principalmente porque a idade também nos mostra que o tempo é muito curto.

Não gosto quando as pessoas passam por nossas vidas como se fôssemos apenas pequenos enfeites que adornaram suas passagens, mas que destinam-se apenas ao momento vivido. Mas, por outro lado, agora compreendo que, para algumas pessoas, é importante, quase desesperador, espremer cada gota de novidade da vida, cada nova sensação, cada nova descoberta, cada nova amizade.

No fundo, no fundo, hoje percebo que quero cultivar minhas raízes principalmente porque tenho a impressão de que custa muito criar novas. Custa muito viver a busca intensa pelo novo. Quem realmente importa, fica. Quem realmente importa, chega mesmo a definir quem somos, ao ponto de se misturarem com o que queremos para nós.

E, tenho a sensação de que, no fundo, a vida vence a todos nós, por mais que tentamos dela espremer uma limonada inteira: temos direito apenas, sempre, à metade do copo.

Ou, como diríamos eu e Srta. T.L.: “A vida não é nada mais que isso que tá aí não…” 😉

04/11/2011
por francis
0 comentários

Filmes que vi: Quebrando o Tabu

Documentário estrelado por THC, digo, FHC (hehe, perdão pelo trocadilho cretino, feito apenas para zoar com o ex-presidente), sobre o problema das drogas e da criminalização do uso, do tráfico, etc.

Vou confessar uma coisa: tenho uma admiração grande por Fernando Henrique Cardoso. Essa admiração às vezes é prejudicada por preconceito meu de que nada que venha do PSDB pode prestar – muito parecida com o preconceito que muita gente tem do Lula, por ser este último popular. Em razão do meu preconceito, fico imaginando que o documentário foi uma forma de FHC levantar uma bandeira, qualquer uma, a fim de ganhar um certo verniz de estadista, meio que a la Al Gore.

O preconceito, como todo ele, é ridículo. FHC já era estadista muito antes do documentário, e o fato de tê-lo lançado depois da conquista de Lula de igual patamar requer apenas malícia para não achar que o ex-presidente tucano estava falando sério.

Eu não suporto preconceito. Não importa, pra mim, quais as razões de FHC, assim como não quero que ninguém desconfie das minhas razões o tempo todo. No Brasil, temos esse problema: nunca confiamos em ninguém porque preferimos especular as razões dos outros.

Pessoalmente, acho que ele refletiu muito sobre o assunto, e não teve medo de se expor ou de usar sua credibilidade para falar de um assunto tão espinhoso. Gostaria muito que os políticos, cada vez mais, assumissem posições, ainda que espinhosas. O debate franco é muito melhor do que essa dissimulação ridícula que existe no Brasil, onde o discurso político é semore envernizado, cuidadosamente preparado para não gerar compromisso, para não tomar partido, para não dizer nada.

A verdade é que o documentário é excelente. Se não admiro FHC como presidente, admiro a sua inteligência, bem como o fato de ter tido o desprendimento de falar do assunto que preferimos jogar para debaixo do tapete.

Continuarei a não votar no PSDB. Mas confesso que gostaria que esse e outros assuntos polêmicos fossem, sinceramente, objeto de defesa de partidos políticos. Esses, no entanto, defendem as mesmas coisas. Já reparou que no debate político o discurso é sempre homogêneo?

Lembro-me que, durante a campanha eleitoral, houve aquela celeuma toda a respeito da Dilma e a igreja, Dilma e o terror, etc. Vimos que nada daquilo era de fato importante. Era apenas mis-en-scene eleitoral. Como sempre. Porque, no Brasil, não estamos acostumados a dizer a verdade. Apenas colocamos uma bonita cortina perfumada para ocultá-la. Ou apagamos a luz para não vê-la.

Quando cheguei a Oslo, isso me espantou um pouco, porque vi partidos políticos dizendo explicitamente que eram contra jardins -da-infância gratuitos, ou contra a proibição de carros no centro da cidade. Não imagino jamais um político no Brasil dizendo, em época de campanha, algo negativo, impopular…

Enfim, o documentário vale a pena ser assistido.

27/10/2011
por francis
0 comentários

Exame de Ordem da OAB é constitucional, segundo STF

Em 26 de outubro de 2011 (ontem), decidiu o STF: o Exame de Ordem da OAB, para acesso à profissão de advogado, é constitucional.

Conforme escrevi aqui alguns dias atrás, não havia nenhuma inconstitucionalidade no exame. Os Ministros do STF, inclusive, citaram que há interesse coletivo em jogo, e que o interesse público clama por profissionais devidamente qualificados, e que o controle é necessário.

Resta agora esperar que a OAB, diante da responsabilidade agora assegurada, aprimore o exame, no sentido de que este verdadeiramente venha aferir a qualidade dos advogados que entram no mercado.

 

26/10/2011
por francis
0 comentários

O casamento homoafetivo

Antes de ler esse artigo, saiba de uma coisa: Eu sou completamente a favor do casamento entre homossexuais, sou contra qualquer discriminação aos mesmos, e sou a favor da extensão dos efeitos do casamento às uniões homoafetivas.

Porém, devo dizer que algo me incomodou nisso tudo: embora eu acredite que, hoje, o conceito de família é elástico, e compreende, ou poderá compreender, até famílias formadas por homossexuais, Ives Gandra disse algo que me parece fazer sentido: o conceito de família, na Constituição, não parece contemplar o de casais homossexuais.

Não concordo com o jurista citado quando diz que família é aquela apta a produzir prole, e não é por isso que sua conclusão faz sentido, primeiro porque seria absurdo reduzir o conceito de família, segundo, pela maluquice que implicaria dizer que homem e mulher inférteis, mas casados, não seriam família segundo a Constituição. O que eu acredito é que o constituinte não incluiu casal homoafetivo no conceito de família em 1988, e fazê-lo agora é dar extensão ao vocábulo maior do que aquela pretendida pelo constituinte. Ou seja: será que se, em 1988, alguém dissesse que o conceito de família inclui casais de homossexuais, não iriam colocar um texto deixando claro que família é a união do homem com a mulher? Parece-me que, ao dar essa interpretação ao conceito de família, hoje, o STJ frauda a vontade do legislador constitucional.

Embora acho progressista a decisão do STJ de aprovar o tal casamento, acho também que a constituição precisa deixar isso claro. Sei que há princípios constitucionais que implicam na elasticidade do texto conforme a evoluem os conceitos, mas acho que, aqui, seguramente, deram uma interpretação atual a conceito diverso à época da promulgação do texto.

26/10/2011
por francis
0 comentários

Não a uma guerra ao Irã

Admito: desconheço muito da situação do regime iraniano, a não ser o que é informado pela imprensa e a despeito de conhecer alguns iranianos. Imagino que seu governo, como quase todo governo que existe, não deve ser flor que se cheira.

Mas espero, sinceramente, que as previsões de Mark Wesibrot (Folha de São Paulo de hoje) não se confirmem: a de que Obama poderia lançar mão de uma guerra ao Irã com fins de garantir a sua reeleição. Não espero – e acho que ninguém espera – isso de Obama. Mas, segundo o artigo, algumas frases do presidente americano fazem crer isso, inclusive uma em que diz que “todas as opções estão sobre a mesa”.

Enfim, preciso conversar com mais iranianos. Precisamos, todos, ouvir as pessoas. Elas é quem nos devem dizer se precisam de uma guerra, pois são elas que sofrem. É preciso ouvir gente de carne osso, como eu e você, a fim de que formemos nossas opiniões. Não somos nós que teremos vidas destruídas, ruas e casas arrasadas e gente mutilada. E até que um iraniano me diga que precisa de uma guerra americana para acabar com seu regime político, apoio a frase com que Brot termina a sua coluna:

“O Brasil é um dos poucos países que têm a estatura internacional e o respeito necessários para ajudar a desativar esse confronto. Só podemos esperar que ele faça mais tentativas de poupar o mundo de mais uma guerra horrível.”