03/06/2012
por francis
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Windows 8 – gostei, mas não, obrigado.

Resolvi aproveitar que estou de férias para fazer alguma das experiências sem resultado prático, mas que são bons passatempos, que costumava fazer. Dentre elas, instalar o Windows 8 Release Preview. Claro, instalei no Parallels 6, que não é a versão adequada para rodar o Windows 8, mas funcionou quase 100%, e isso é o que importa. Digo funcionou quase 100%, porque o Parallels 6 não oferece o conforto total para transitar entre Mac e Windows 8. O recomendável seria o Parallels 7, mas não fiz o upgrade porque uso o Windows cada vez menos. Aliás, quando tenho que usar o Windows apenas para abrir algum documento, acesso ao servidor remoto da faculdade via CoRD.

Olha, gostei do Windows 8. Sinceramente. E isso já é dizer muito quando se fala de Windows. Mas não o usaria. Essa tabletização do computador não me parece ter futuro. Veja o LaunchPad da Apple, no MacOS X. Alguém usa aquilo?

Veja, acho que a nova interface do Windows faz todo o sentido do mundo para novos usuários, ou gente de uma geração que não tem conforto com o uso de computadores. Sim, para estes, o Windows 8 é perfeito – quase 100% do que esse público usaria estaria na tela inicial, fácil de ser usado. Mas esse estilo de Digital Signage do Metro (nome dessa interface nova do Windows 8) não funciona para quem já usa um computador há tempos. Nos habituamos a utilizar um sistema operacional sob a ótica dos arquivos. Demoramos uma geração até termos em nossas mentes uma idéia clara de onde estão nossos arquivos, onde salvamos as coisas, etc. Nessa versão, essa forma arquivo-centrista dá lugar a uma visão utilitarista dos computadores: facilita-se o uso das funções presumivelmente mais utilizadas pelos usuários, colocando-as em evidência, mas ao mesmo tempo sendo um obstáculo a mais no caminho de quem utiliza o computador de forma mais complexa.

A interface Metro

Ou seja: seria uma interface ideal há 7, 8 anos atrás, com o início da internet, ou mesmo antes, 10, 15 anos atrás, quando o computador deixou de ser um aparelho de nicho. Mas agora, com todo mundo já habituado aos ícones, estrutura de pastas e arquivos, botões direito com menus contextuais, etc, essa nova interface é simplista demais. Imagino que rode muito bem em um tablet, mas, mesmo assim…

Gosto da idéia de um calendário rapidamente acessível, ou mesmo do e-mail logo ali (embora não consegui usar o e-mail). Mas algumas idéias são meio amalucadas – ou isso, ou entendi errado. Um aplicativo que ocupa toda a sua tela apenas para mandar mensagens, sem sequer mostrar a sua lista de contatos (tem que ir a outro aplicativo para isso), me parece um erro primário, quando todo mundo que usa computador já associa o envio de mensagens a uma lista de contatos logo ali. Se uma tela de milhares de pixels, me parece um absurdo gastá-la com ícones do tamanho de um quarteirão para mostrar uma única mensagem. Parece aqueles telefones com teclas grandes para idosos. Para mim, míope, é fantástico. Mas para quem tem visão perfeita, aquilo parece as imagens de TV de plasma mostrando comerciais em aeroportos, ou aqueles displays de notícias nos comerciais da BBC World.

 

Enfim, gostei, mas, não, obrigado. Talvez seria o primeiro Windows que recomendaria à minha mãe. Mas chegou tarde, ela já usa Mac…

29/05/2012
por francis
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Análise parte II

Aqui vocês leram sobre como se revela um preconceito. Mas há mais.

O Min. Celso de Mello disse em entrevista por aí que a suposta interferência de Lula motivaria um impeachment, se presidente da república o petista ainda fosse.

Porém, a pergunta que não quer calar: já que o ministro é tão dado a análise de fatos hipotéticos, porque não considerou a hipótese do Gilmar Mendes ter mentido? Por que não nos ofereceu a sua brilhante análise jurídica do óbvio ao nos dizer quais as possíveis consequências para o Min. Gilmar Mendes caso o sua versão seja mentirosa?

Enfim, Lula é a nova Geni. A versão que dão como certa ou provável é a da casa-grande. Vão dizer que o Lula não merece credibilidade, apesar do Nelson Jobim ter negado categoricamente a versão do Gilmar Mendes. Quem merece credibilidade, aqui, é o Gilmar Mendes. Coisas de uma sociedade dividida entre casa-branca e senzala. A gente só confia em quem é limpinho e fala alemão, não importa quantos habeas corpus o limpinho dê em favor de colarinho branco às 11 da noite…

27/05/2012
por francis
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Análise sobre as reações das pessoas e os preconceitos

Sempre houve o preconceito contra Lula, por ser quem é: um brasileiro de origem humilde, da senzala, e que jamais seria aceito pela casa-grande. Isso, de casa-grande e senzala no Brasil é algo que quem nasce no país vive impregnado – seja no modo arrogante de falar com alguém da senzala, seja no olhar baixo e reverente quando se fala com algum dos senhores de engenho.

Mas o que me levou a escrever essas linhas foi a do preconceito embutido nas falas, a na falta de respeito com o objeto do discurso, nesse caso do Gilmar Mendes acusar Lula de… enfim, vocês já sabem. Vejamos:

Sepúlveda Pertence, sobre hipótese de Lula procurá-lo para discutir o mensalão:

“Não fui procurado e não creio que o ex-presidente Lula pretendesse falar alguma coisa comigo a esse respeito

Já Ayres Britto:

Só então acendeu-lhe a “luz amarela”. E daí? “Eu imediatamente apaguei, pois Lula sabe que eu não faria algo do tipo.” (em entrevista)

A diferença de estilo é sutil, mas diz muito. Enquanto Pertence trata Lula com o respeito que sua figura de ex-presidente merece, dando-lhe, ao menos, o benefício da dúvida, Ayres Britto prefere tecer loas à sua própria firmeza de caráter, dizendo que Lula conheceria tal honestidade, e que por isso não faria tal proposta (e não por julgar a ele, Lula, incapaz de fazer uma proposta dessas).

Vê-se, portanto, a forma mal disfarçada que boa parte da elite do país enxerga Lula – como um Macunaíma, como um herói sem caráter, e não como um líder popular, um estadista. Mas é normal, no Brasil o costume é de se tratar bem engomadinhos e endinheirados, insuspeitos por causa da cor ou do dinheiro. Já quem vem de casta mais inferior, independente do quão insuspeito, nunca se lhe terá por inocente.

 

11/05/2012
por francis
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Desculpe, não temos bifanas…

O dia foi 10 de maio de 2012. Estava eu a aproveitar meus últimos minutos em Bruxelas, quando avistei a placa de um restaurante, em boa língua lusa: “Bifanas”. A um brasileiro, tal palavra soaria completamente estranha, como outras tantas do português europeu, como passaram a chamar o idioma falado em Portugal. Mas a mim não era estranha. Após anos a ver em documentários televisivos os malabarismos que os portugueses fazem com os ingredientes, até fazer deles comida – e não comida qualquer – passei a me interessar pelos quitutes de Portugal, sejam preparados pela querida Armanda, com suas variações angolanas, seja nas rápidas e curtas visitas a Lisboa, oportunidades em que sou apresentado pessoalmente à arte culinária do país por obséquio do amigo Pedro Aniceto. Nunca tivemos tempo para pratos enormes, cuja digestão, suponho, demande escaladas mais demoradas naquele país. Mas, se minha cultura não me permite analogia mais elaborada, permitam-me dizer que o que quer que tenha comido em Portugal (ou feito por mãos portuguesas) sempre me causou sensação parecida à do crítico culinário personagem do filme Ratatouille, quando este finalmente prova o prato de um restaurante e foi remetido à história de sua infância pela simplicidade, mas autenticidade do prato. Não é que a cozinha portuguesa seja simples – é que parece-me rústica (embora exemplos não faltem de complexidade e fineza), mas sempre deliciosa e autêntica. É comida feita pra gente, e não pra meros observadores científicos. Não é que volto à infância, mas fica sempre a impressão que aquela comida é de verdade, é real, e que não há nenhum truque a nos enganar. Pois bem, por indicação do mesmo Pedro Aniceto, vi um episódio do No Reservation, onde o Tony Bourdain visita Lisboa, e refestela-se com bifanas. Depois de ter comido “pregos” em Portugal três anos atrás, tinha que provar as bifanas. E eis que, como disse, encontrava-me em Bruxelas, uma semana após ter tomado conhecimento do tal sanduiche. E, ao rondar a cidade, pronto a despedir-me, deparei-me com a seguinte placa:

 

Sim, a foto está desfocada de ansiedade...

Não pude reter a alegria, que contagiou a um americano que comigo estava e que também se interessou a provar o tal famoso sabor português, a apenas alguns metros da Grand Place. Adentro ao estabelecimento. “Bonjour”, diz a senhorita. Arrisco um “olá”, apenas para checar a autenticidade do local, e recebo-o de volta, desta vez com o indisfarçável jeito lusitano de falar. Alívio – é mesmo uma casa portuguesa. Meu amigo americano a tudo acompanha, e conseguiu entender quando pergunto pelo prato que nos trouxe até ali. É quando escuto “Desculpe, não temos bifanas.” Em um restaurante que se chama por tal…

06/05/2012
por francis
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Por que adoro a Dilma Rousseff

Digam o que quiserem, mas ADORO a Dilma Rousseff. Ela não tem aquela desfaçatez dos políticos, sempre falando para as câmeras. Ela parece ser do tipo de brasileiro que trabalha, e não daquele outro tipo que encosta em quem trabalha.

A Dilma me transmite a sensação de que não quer exatamente ser popular. Quer ter a consciência de que está fazendo o certo para o país. Eu vejo que isso faz uma diferença tremenda. Toda a mídia fala da falta de tato dela com os demais políticos, mas isso porque ela não parece ter aderido ao non-sense do mis-en-scene (pois, dois estrangeirismos em uma frase, vai te catar) da vida política nacional, do tipo que opta por clichês, adora um microfone ou vive naquela política de promoção partidária. Dilma, pra mim, é daquele tipo que entende do que está falando, e parece ter zelo com o que governa.

Isso, para um país acostumado a um teórico deslumbrado como FHC, um mauricinho não menos deslumbrado como Collor, e um popular, mas também – sim – deslumbrado – Lula, a Dilma é uma vitória daqueles que sempre viram o trabalho como ética de uma vida decente e honesta. Os outros exalavam aquele velho ideal brasileiro do sucesso na base do charme, da simpatia, do carisma. Nossa presidenta – como ela prefere ser chamada – é do tipo trabalho em bastidores, que obstina-se a terminar bem algo que lhe colocam às mãos para fazer.

Por isso, relatos sobre seu comportamento rude nunca me assustaram. Aliás, sempre gostei de ouvir dizer que ela seria bruta em reuniões, que cobraria rigidamente desempenho, essas coisas. Detesto tiranos, e odiava que o lado criativo de Steve Jobs carregava consigo o acessório da descompostura, da grosseria gratuita. Mas, com a Dilma, parece-me que ela não se coaduna com o velho jeitinho que tentei retratar acima, o de que bastaria um português mais complicado e um gráfico apresentável para demonstrar uma tarefa cumprida. Dilma cobra competência, e isso, em um país acostumado com tanta incompetência, é algo a comemorar.

Adorei, assim, o relato de Elio Gaspari na Folha de São Paulo de hoje:

“BEM-FEITO

Um turista acidental do Palácio do Planalto ouviu um destampatório da doutora Dilma numa conversa com um de seus ministros. Ficou horrorizado. Quando chegou em casa, foi estudar o caso e concluiu:

1) O moço queria dar uma lição de governo à doutora.

2) Tecnicamente, ela tinha razão e conhecia o assunto melhor do que ele.”

05/05/2012
por francis
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Desabafo: Paulo Francis

A Folha, nas últimas semanas, têm promovido, em seus artigos, uma reedição dos textos de Paulo Francis. Primeiro, foi usado amplo espaço na Ilustrada. Depois, em colunas de opinião, como a de Ruy Castro de hoje.

Não entendo, como é que em pleno ano da graça de 2012, reeditam Paulo Francis. Pra mim, é como reeditar “Mein Kampf”. É digno de nota que a mídia se escore em um suposto valor intelectual de Paulo Francis para tolerar seu chauvinismo, seu racismo, seus pensamentos discriminatórios, etc. É como se o jornal usasse as palavras de Paulo Francis para, usando-se da escusa da excentricidade deste, dizer aquilo que pensa mas que não poderia dizer diretamente. Essa matreirice da mídia pode até enganar a alguns, mas, a mim, não passa de uma forma de poder voltar a dizer aquilo que, por avanços sociais e que tais, não poderia dizer hoje.

Paulo Francis deveria ser banido da história da mídia do Brasil. Deveria haver vergonha ao citá-lo. Mas não: há um deslumbramento! As ressalvas que se fazem às maluquices que dizia, feitas sempre rotulando-o de polêmico, contraditório, complexo, são apenas desculpas esfarrapadas para justificar o injustificável comportamento de um reacionário racista. Fosse eu ou qualquer um a dizer o que esse cidadão dizia, e já estaria a ser linchado na rua. Mas era Paulo Francis, dando uma roupagem intelectual, quase cult, ao preconceito. E, por ser quase cômico, era, talvez por isso, também aceito.

Um país, um povo que se respeita, não pode aceitar o culto a alguém que dizia “pérolas” como essa:

“COLLOR
“Collor fala como a gente, isto é, como as pessoas com quem convivo. Os nossos ‘ilustres’ em geral estariam melhor num circo. É alto, bonito e branco, branco ocidental. É outra imagem do Brasil, com que fui criado, francamente””

Ou, citando a Folha de São Paulo: “Num artigo em que contava de sua irritação com um garçom “crioulo” em Nova York, escreveu: “Pensei logo numa chibata”.”

Preciso realmente dizer mais? É, hoje, aceitável que um jornal repita uma vulgaridade racista dessa a fim de ressuscitar alguém tão retrógrado, tão incompatível com nosso espírito do tempo? Aliás, se Paulo Francis teve algum valor, que seja ressuscitado por tal suposto valor, mas não pelo que tinha de pior. É como se Monteiro Lobato fosse, hoje, endeusado pelo que tinha de pior, quando, na verdade, há sempre constrangimento ao lembrar do quão reacionário Lobato foi. Mas, no caso de Paulo Francis, há um mal disfarçado prazer em relembrá-lo justamente no que ele tinha de pior, e isso diz muito sobre o tipo de imprensa porca que temos hoje.

29/04/2012
por francis
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Ê, mundo grande sem porteiras…

Hoje estava a pensar no quão difícil é saber que se pode viver um, e apenas um, estilo de vida, mas saber que existem vários para se viver, cada um tão atraente quando o outro.

Explico: imagine fazer um voto de pobreza, e viver a caminhar por aí, sem compromisso, sem amarras, sem nada. Lembro-me que um professor uma vez me disse à turma que queria fazer isso, e a idéia me pareceu estranha, mas hoje faz todo o sentido. Mas também penso que seria muito legal ser capaz de construir muita coisa com o trabalho, e fazer coisas que durem mais do que a própria vida, coisas que transformem a vida de muita gente.

Seria legal viver em um canto sossegado, mas também seria enriquecedor viver 6 meses em cada lugar, e viver tudo o que há por aí para se viver.

Seria bom passar a vida aprendendo a tocar violino, ou a tirar boas fotografias. Alguém sem talento como eu precisaria mais que uma vida pra isso (e, no caso da fotografia, olhos um bocadinho melhores). Ou poder passar a vida sem ter que aprender nada – que a vida é curta mesmo.

Sei que não existe um jeito ideal de se viver. Mas o que mata é existirem tantos, em uma vida que acaba logo ali.